Estagiária

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Segundos. 

Por alguns míseros segundos S/N se sentiu levemente segura. 

Ainda não esqueceu da vergonha que passou no metrô. Não devia ter encarado tanto o rapaz daquela forma, agora com certeza ele a acha uma estranha. 

Maldita curiosidade. 

Que seja. O pensamento de que ela nunca mais o veria a deixou mais aliviada, e mesmo se o visse provavelmente não lembraria. 
Não era como se ele fosse mesmo até ela uma segunda vez apenas para perguntar: "Ou sua maluca, por que caralhos você tava me encarando no metrô em plenas 7:00 AM?".

Pelo menos assim ela esperava. 

Naquele mesmo dia, S/N fez tudo o que fazia nos outros. Foi para a escola, assistiu as aulas, comprou o próprio almoço, fez as tarefas na biblioteca, anotou umas coisas ou outras e esperou até a hora de ser liberada. 

Sua rotina não mudou muita coisa a quase um ano. 

Naquele dia, foi liberada mais cedo. 

A sua escola não era uma escola profissional de heróis ou algo do tipo. Ela na verdade apenas abrigava alunos cujos as Quirk's não poderiam ser úteis para o uso heróico.

Logo no primeiro ano lhes era dado um estágio, onde os alunos iriam trabalhar até o final do ano. 
No ano seguinte, o local e as pessoas eram mudadas de lugar, assim como no próximo e último ano. 
No final das contas, dependendo do desempenho do aluno nos estágios e na escola, ele poderia sair formado, já empregado e com um salário fixo. 

Já era metade do ano, e ela ainda não sabia em que área iria atuar. 

Encarando o formulário a frente à ser preenchido, resolveu que tentaria atuar na área da educação. Admirava de certa forma a profissão e posição de um professor, além de ter uma boa base em casa.

Era isso. Iria tentar a sorte como uma professora. Se não gostasse do estágio, poderia pensar em outra coisa no ano seguinte. 

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Seu corpo tremia da cabeça aos pés devido ao nervosismo do primeiro estágio que faria aquela tarde. 
Uma semana após entregar o currículo, veio uma escola pedir seu auxílio.

U.A. Logo a escola de heróis. 

Sentia-se tão perdida lá dentro quanto um cego em um tiroteio. A escola da U.A era muito maior do que ela pensou que fosse, você poderia se perder facilmente por ali. 
Ao falar ao telefone com seu superior, ela questionou que tipo de roupa deveria usar para o estágio.

– Deixarei isso por sua conta. 

~ Mas que porra? 

Ela queria uma dica do que vestir. S/N procurou nos vestígios de sua memória as roupas que suas professoras usavam e as que ela via sua mãe vestir no dia a dia. 
Resolveu seguir o exemplo simples de sua mãe: Calça legging azul escuro e uma camisa social branca. 

~ Que seja. Só vamos encerrar este dia.

S/N parou do lado de fora da classe. "1-A". Não tinha como se enganar. A classe que sofreu ataques de vilões, no qual o professor responsável pela turma sofreu alguns ferimentos sérios. 
Sua missão era auxiliá-lo com os conteúdos que seriam passados aos alunos e depois voltaria para casa. 

– Com licença? - Ela declarou após dar duas batidas na porta. 

A porta foi aberta lentamente, a sala inteira ficou em um silêncio total, cujo o único ruído a ser ouvido eram os passos de S/N adentrando na sala. 
Os alunos pareciam surpresos, o que a fez concluir que o professor Shota Aizawa não os comunicou sobre a estagiária. 

– É aluna? - Questinou um dos alunos, o rapaz possuiria cabelos loiros bem destacados, com uma pequena mecha em forma de raio em sua franja. 
– Não. - Respondeu outro aluno no canto da sala, esse possuía uma cicatriz em um dos lados do rosto e cabelo dividido em vermelho e branco.
– Como pode ter certeza? 
– Cara, é só olhar o uniforme. 
– Ah, é verdade. 

Ela olhou o perfil de alguns alunos, apenas por cima para tentar lembrar dos seus nomes e avaliar as suas dificuldades. Alguns deles poderia ter Dislexia (Distúrbio de aprendizagem caracterizado pela dificuldade de leitura) ou DPAC (Distúrbio de Processamento Auditivo Central).

– Alguém pode me falar que horas são? Saí tão distraída que não coloquei o relógio, e acho que a hora do meu celular está errada. - A voz de S/N se instalou pela classe, e logo um aluno de óculos não tardou em responder a sua pergunta:
– Faltam três minutos para a aula, senhorita! 

Chegou até mais cedo do que esperava. Dando um sorriso leve, resolveu explicar aos alunos o que estava ocorrendo aquele dia. 

– Ótimo. Vou explicar o que está acontecendo. - Seus dedos correram pelo quadro a sua frente até chegar no giz. Segurando-o com a mão esquerda, ela escreveu seu nome: "S/N Yoshida". - Sou uma Professora estagiária da escola T.Y.P.W: Training Young People for Work (Formação de Jovens Para O Trabalho). Estou aqui para auxiliar o Professor Aizawa e outros que necessitarem de minha ajuda para minha experiência no mercado de trabalho como professora

Ainda sorrindo parcialmente, ela abriu o livro e o caderno de anotações. 

– Então... Você tem tipo... a nossa idade, Yoshida Senpai? - Um garoto de cabelo enrolado e esverdeado levantou o braço.
– Sim, mas isso não é de fazer grande diferença. Enfim, todos prestando atenção aqui na frente, esse conteúdo pode cair nas provas do Aizawa. 

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– ... Quando conseguirem dominar esse cálculo, os próximos serão muito mais fáceis. Por hoje é só, apesar de ainda faltar 15 minutos para o intervalo. Usem esse tempinho para guardar as suas coisas, por favor, sem muitos ruídos. 

Ela apoiou-se na sua mesa, observando o conteúdo que Aizawa planejava para a prova. S/N ficou levemente preocupada, não sabia se metade da classe pegaria a matéria a tempo. 

~ Preciso fazer algo a respeito disso. 

S/N respirou fundo enquanto pensava no que fazer para salvar a pele de seus amados alunos. Seus olhos correram pela sala de aula, observando bem os detalhes de cada aluno que ela encarava. 

Seu coração pulou da garganta quando viu um deles a encarar de volta. Ela o reconheceu imediatamente. 
É claro. Como ela não prestou atenção antes? O uniforme... Ela não lembrou da merda do uniforme. 

O garoto de olhos avermelhados a encarava fortemente, quase sem piscar. 
S/N baixou a cabeça e tentou disfarçar tamanho constrangimento vivido. A garota se perguntava quando a sua vida tomaria um rumo diferente e ela pararia de se ferrar tanto. 

Talvez nunca. 

Seu pé começou a bater repetidamente no chão, apreensiva com o olhar do garoto sob si. Fingiu estar analisando as próprias anotações, mexer no celular, procurar por seus livros na bolsa que carregava. 

Mesmo com isso tudo, com o canto do olho, ela o via a encarando. 

O que diabos você vê?! (Imagine Bakugou)Onde histórias criam vida. Descubra agora