— Eu posso ver e ouvir coisas estranhas.
— Não. - A mãe não acreditava no que a filha falava ver. S/N falava e desenhava as coisas que via o tempo inteiro, a maioria seguia um mesmo padrão: Forma humanóide, eram como sombras, olhos vermelhos ou brancos
Todos andavam de forma aleatória, seguindo quem lhes interessasse.— Isso é coisa da sua cabeça, no máximo você anda assistindo muitos filmes de terror.
— Não são iguais os filmes, eles não possuem ninguém, na verdade só seguem as pessoas mesmo.
— Não. Você não está vendo nada. - Replicou a mãe. - O dia está ótimo para ir brincar lá fora, você não acha?
— Sim, a senhora tem razão. Vou brincar com a Sofia, ela disse que você foi uma boa amiga quando você era criança.A mãe paralisou. Parou imediatamente de lavar a louça do almoço e enxugou as mãos no avental.
— Sofia? Onde você conheceu essa menina, S/N?
— No parquinho que fica uns 10 minutos a pé daqui de casa. Ela usava um vestido azul marinho, tem cabelos ruivos e cacheados, sardas no rosto, olhos pretos e atrás da cabeça tinha um...
— Um laço verde?
— Na verdade era branco.Dito isso, S/N virou as costas para a mãe a deixando sozinha na cozinha da casa. Sua mãe estava apavorada. A filha havia acabado de descrever uma de suas amigas de infância.
Sofia morreu aos 11 anos de idade em um ataque de vilões, bem perto daquele parque onde as duas costumavam brincar com outras crianças de seu grupo.O pai de S/N também conheceu a menina meses antes de sua morte.
Eles não tinham foto ou alguma recordação da menina Sofia, na verdade a esqueceram conforme os anos foram passando.
Quando a esposa o contou sobre o que a filha disse, foi uma das provas de que S/N não estava inventando.Ela via, ouvia e falava com pessoas mortas.
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De manhã cedo, ela recebeu um telefonema quando estava saindo de casa. Tirando o celular do bolso com uma das mãos, ela o posicionou entre o ouvido e o ombro.
— Sr. Aizawa? Bom dia, aconteceu alguma coisa?
— Não aconteceu nada. Mas gostaria de perguntar se você poderia fazer hora extra hoje a tarde.
— Oh... - Ela mal tinha feito um primeiro dia e já pediram hora extra?
— Eu sei que parece repentino porque você começou agora, mas você vai poder voltar para casa mais cedo outros dias, justamente para compensar o seu esforço. - Havia constrangimento na voz do homem, não foi difícil para ela imaginar o porquêA oferta era tentadora, ela admitiu isso para si mesma. Porém, ainda estava muito constrangida desde a noite anterior, sua vontade era de enterrar a cabeça na areia.
S/N repreendeu os próprios pensamentos. Afinal, que tipo de professora é essa que falta ao trabalho por causa do desencontro com um aluno? Que tipo que profissional ela queria ser?— Olha senhorita Yoshida, se não quiser, a escola vai entender...
— Eu vou. - Ela o cortou. - Desculpe se demorei muito para responder com mais certeza.
— Agradecemos muito a sua disposição.
— Disponha.Chegando na escola, ela percebeu que ainda era cedo, isso devido aos poucos alunos no corredor.
~ Meu relógio está errado outra vez? - Pensou.
Ao adentrar na sala, sentiu um arrepio esquisito subir pela sua espinha.
Ótimo. Tinha um deles na sala de aula.
Os alunos ficam sobrecarregados demais com toda a pressão por parte da escola, são os alvos perfeitos para atrai-los, ela não pensou nisso antes de preencher o formulário, esqueceu-se completamente na verdade.
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O que diabos você vê?! (Imagine Bakugou)
Novela JuvenilMedo, um medo avassalador e sutilmente construído. S/N tem lidado com isso desde que se entende por gente. Não há escapatória de seu destino, ela teria de aprender a conviver com os vultos e barulhos assustadores que testemunhava. Maldição. S/N =...