Graveto

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POV CHERYL

Dirigia o meu carro em alta velocidade enquanto minha mente formava mil maneiras de conversar com meu filho que estava definitivamente SURTANDO no banco trás do carro.

- ME DEIXA SAIR! PARA ESSA MERDA! - Kalleb gritou pela milésima vez. Na minha mente eu visualizava eu jogando aquele carro em uma ladeira pra matar nós dois. Balancei a cabeça. As vezes eu tinha medo da minha mente psicopata. Resquícios da adolescência.

Ele ainda gritava muito no banco de trás, já estava ficando sem voz. Sem pensar direito, joguei o carro em um rua e freei de uma vez só, o fazendo se assustar. Virei para o banco de trás e o puxei pela camisa. Minha mente gritando "CHERYL, SE ACALMA". Eu sabia o ser humano agressivo que vivia dentro de mim e não deixaria que voltasse, ainda mais com meu filho. Eu definitivamente estava pagando pelos meus pecados.

- Cala esse inferno dessa praga dessa maldita boca, INFELIZ! - Soltei sua camisa e liguei o carro novamente. O olhei pelo retrovisor, ele estava assustado. Não parava de chorar. Mas pelo menos tinha parado de gritar.

Eu queria chegar até a praia, teria uma conversa com ele. Ao que tudo indicava, Kalleb agora sabia de algo sobre eu e Toni sermos irmãs adotivas. Eu obviamente não a considerava como isso a anos, mas ele provavelmente não sabia nem de metade da história. Então Kalleb teria que me ouvir.

Toni sempre me alertou sobre Kalleb. Diferente de mim, ela parecia se importar e entender muito sobre a personalidade de nossos filhos. Isso passava batido por mim. Eu fazia de tudo pra ser uma boa mãe, mas sabia que era falha. Eu não tinha tanto tempo como Toni. Ainda tinha uma mente atrasada, tanto que as vezes parecia que eu era irmã deles. Eu precisava aprender a ser mãe e amiga como Toni. Não conseguia parar de pensar sobre isso. Passava tanto tempo focada nos meus problemas psicológicos e trabalho que estava esquecendo de perceber que meus filhos precisavam de mim.

Kalleb era o principal. Eu me via nele. Desde pequeno ele se mostrava agressivo, nervoso. Na escola sempre resolvia as coisas batendo nas outras crianças. Ele sempre parecia estar com raiva de todos e de si mesmo. O por que? Eu não sabia. Por mais que eu fosse uma mãe presente e desse de tudo a ele, talvez ele precisasse de algo mais de mim. Algo que não tive minha vida toda de meus pais, que era carinho e amor.

Parei o carro na orla de uma pequena praia. Eu estava longe de casa. Estava sem celular, incomunicável. O lugar estava deserto. Era só eu e ele. Faria com ele algo que meu pai não fez comigo, o trataria como minha mãe não me tratou.

- Sai do carro. - Pedi abrindo a porta. Ele fingiu que não me escutou e continuou de cara fechada com os braços cruzados. - EU DISSE SAI DO CARRO, PORRA!! - Gritei e ele se assustou saindo me olhando espantado. Por Deus! Eu precisava ter controle!

- O que vai fazer comigo? - Ele perguntou enquanto andava do meu lado. Eu segurava seu braço para o caso dele tentar correr. Não o respondi, o que pareceu deixar ele nervoso. - O que vai fazer comigo, Cheryl? - Ele se alterou e parei de andar para encara-lo.

- Me chamou do que? - Perguntei o puxando pra perto de mim. Ele estava tentando me atingir, mas não ia conseguir.

- Te chamei de Cheryl. Não é o seu nome? - Ele ficou me encarando e eu sorri. Que diabo de filho é esse que Toni pariu?

- Sabe o que dizem? Que você é parecido comigo, na aparência, na personalidade, até no jeito de andar. - Eu dizia num tom irônico. Ele se mantinha sério me encarando. - Você se parece, só parece. Você não tem ideia do que eu sou capaz. Não me chame de Cheryl, eu sou sua mãe. Você tem minha personalidade, mas você não sabe ser o que eu sou. Você não vai querer entrar numa comigo, garoto!

Adotada  - ChoniOnde histórias criam vida. Descubra agora