Ajude-a.

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A criança continuou a seguir S/N por todos os cantos naquele dia, muda, não dizia mais uma única palavra ou dava quaisquer resmungos.

Não tinha certeza se a menina a seguiria até em casa, era bem provável que sim. De alguma forma, a criança ainda esperava um milagre de ser atendida.
Mesmo sabendo que não seria seguro ajudar aquela criança, seu estômago embrulhava cada vez que olhava de relance para a garota em silêncio.

S/N deu um suspiro parou de andar, refletindo sobre o que faria para aliviar a tensão que sentia ali.
Quando alguns segundos, que mais pareciam horas, passaram, ela finalmente se prontificou.

— Me leve até a sua mãe. Você ainda lembra da sua casa?

A menina arqueou uma das sobrancelhas e olhou para trás, pensando que S/N não estava falando com ela.

— É com você que estou falando, Kiara. Consegue lembrar de onde mora?

Os olhos da menina brilharam em êxtase, finalmente havia sido notada por alguém.
Sem esperar por questionamentos, a menina virou as costas, correndo alegremente para o que seria a sua casa.

— Vem! - Ela a chamou.

S/N a seguiu, coração mais aliviado agora que iria ajudar aquela criança tão desesperada.
Katsuki estava saindo da escola, e iria direto para casa não tivesse visto S/N seguir por outro caminho. Os dois moravam perto um do outro, portanto pegavam metrô para voltar para casa.

A rota no qual S/N seguia caminhando não tinha nada a ver com onde morava.
Ele ficou intrigados com isso, quais outros compromissos ela teria além da escola? Tinha um namorado? Por que não ir para casa primeiro?

Ele virou a cabeça, seguindo o caminho até o metrô. Não era da conta dele, Bakugou sabia disso.

— É por aqui! Prometo que não é longe.
Agora não tinha mais como voltar atrás em sua decisão, estava decidida a ajudar a criança, então assim ela faria, não importasse o que acontecesse.

Pararam em frente à uma casa bem simples, pequena, muro pintado de branco por fora.

— É aqui. - A menina apontou.

S/N respirou fundo, pensando no que falaria para a mulher que ali morava. Tinha certeza que ela a chamaria de maluca e bateria a porta em sua cara, mas tinha que tentar fazer alguma coisa.
Apertou a companhia, trêmula, nervosa ao que ia fazer.

— Sim? - Uma mulher muito bonita atendeu a porta, não era loira como a criança, porém tinha lindos olhos verdes assim como ela.
Omma! - Kiara apontou para a mulher.
Omma? - S/N repetiu.

A tal "Omma" deu um passo para trás, sobrancelhas arqueadas. S/N não sabia dizer que ela estava surpresa ou em pânico.
Talvez os dois.

— A Kiara. Ela tem uma mensagem para você. - Disse.
— Pede para ela pegar a canetinha rosa que ela me deu de presente! É a minha favorita! Ah! E pede para ela pegar o meu diário embaixo do colchão do meu quarto - Kiara disse em pulinhos, animada para dar a mensagem a sua mãe.
— Ela disse para você pegar o diário que está embaixo do colchão do quarto dela, e a caneta favorita dela também. Ela disse ser uma rosa.

Demorou um pouco para a mulher raciocinar, mas atendeu o pedido.
Poucos minutos depois de entrar, ela voltou, diário e caneta em mãos. Não disse uma única palavra desde que S/N falou que tinha uma mensagem da menina Kiara, porém tinha lágrimas contidas em seus olhos.

S/N tentou ignorar esse fato. Deveria ser difícil para ela engolir o que estava acontecendo. S/N se agachou, apoiando o diário na perna enquanto se preparava para escrever.

Kiara começou a falar em seu ouvido e S/N passava tudo para o diário, em total silêncio como uma forma de respeito à aquela mãe.
A menina disse palavras de conforto, e relatou na carta boas memórias que teria passado junto de sua família e amigos, também falou a respeito de uma menina, que dizia gostar muito ao ponto de fazer o seu coração acelerar quando chegava perto dela.

S/N estava destruída por dentro, embora sua expressão se mantivesse indiferente.

Quando terminou, entregou o diário a Omma, dando um leve sorriso, não de alegria, mas sim como um conforto.
A carta teria dado duas páginas.

— É isso que ela tem a dizer para você, Sra. Omma.

A mulher riu.

Omma era como ela me chamava. Ninguém mais me chamava assim além dela. - A mulher desabou em choro - Esse diário... Eu nem sabia dele... A caneta... Como você sabia da caneta? Ela nunca levou pra escola antes! COMO?!

S/N suspirou.

— Ela me contou.
— Ela... Tá aqui com você?
— Está do meu lado. Passou o dia inteiro me seguindo e dizendo que queria falar uma última coisa para você. Aí está. Desculpe por chegar assim.
— Não. Eu tenho muito a agradecer! Filha, a mamãe te ama tá? Ela tá orgulhosa por você ter sido tão insistente durante todo esse tempo! - Disse enquanto abraçava o diário da filha.

S/N iria se afastar, voltar para casa e deixar a mulher com seu próprio luto, porém, uma mão quente a segurou.

— Como posso agradecer?
— Só de ver a senhora satisfeita eu já tenho a minha recompensa. Kiara era uma menina muito insistente.
— Oh sim. Ela... Ela se foi à exatos 6 anos.

~ 6 anos...

S/N repetiu o número em sua mente. O Espírito da menina teria passado os últimos 6 anos buscando ajuda.
Kiara atualmente teria a mesma idade de S/N se não tivesse falecido.

— Diga ao meu irmãozinho que eu o amo! - Kiara declarou animada.
— Kiara disse que ama muito o irmão dela.
Irmão?
— A senhora não tem um segundo filho?
— Não... na verdade... eu estou grávida de 4 meses. Mas eu não contei a ninguém além do meu marido e... Oh... É mesmo um menino?
— Kiara disse que sim. Desculpe estragar a surpresa.
— Não... Não estragou. Eu já desconfiava na verdade. Mais uma vez, obrigada err...
— S/N.

S/N virou a cabeça para o lado, vendo Kiara sumir totalmente de sua vista. Ela sorriu.

— Kiara já está em paz. Obrigada a senhora por ter sido compreensiva.

S/N se curvou em despedida, a mulher sorriu uma última vez e acenou, ainda abraçada com o diário e a caneta.
Seu coração estava mais leve, ela sentia-se bem por ter ajudado de alguma forma.

Quando virou a rua, deu de cara com Katsuki.

— Oh... Bakugou. Como vai? Err...
— Eu vi tudo.
— O que?
— A menina falando com você, a mãe dela agradecendo, você escrevendo, o diário. Eu vi tudo.
— Você... Viu a menina?
— De relance, mas vi sim.

Ele virou as costas, afastando-se de S/N.

Katsuki não conteve a própria curiosidade. S/N não deixaria a oportunidade de dormir o resto da tarde por qualquer coisa.
Se ela estava seguindo por um rumo diferente, alguma coisa devia ter acontecido.

Ele parou, olhando para trás.
S/N estava parada no mesmo lugar. Ele também ficou em choque quando viu a menina, e mais em choque ainda quando S/N citou um diário que nem mesmo a mãe da tal Kiara sabia que existia.

— Vai ficarparada até anoitecer ou vai vir comigo, caralho?!

O que diabos você vê?! (Imagine Bakugou)Onde histórias criam vida. Descubra agora