1 - Mudança Repentina

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Luna Valente.

Um ano difícil para mim. Bem difícil. Daqueles que tudo tendem a dar errado, e que, mais do que nunca, realmente deram. Todas as minhas etapas haviam tido notas medianas a baixas e, por causa disso, meus pais passavam a me repreender e a cobrar mais de mim. Por sorte, no último dia de aula, tive uma grata surpresa: fui aprovada sem precisar de recuperação.

Minha irmã, Lavínia - que havia tido notas excelentes - parecia estar feliz por mim, juntamente com minha mãe, que não parava de sorrir.

— Pelo menos uma boa notícia num dia como hoje. — suspirou minha mãe.

Eu estava desatenta, mas algo nela parecia deixar claro que estava preocupada. Segurei sua mão e sorri. Minha irmã parecia sonolenta e mais desatenta do que eu, e logo passou a escutar música pelo celular, até que, finalmente, chegamos à nossa casa.

Quando finalmente entramos, vi nosso pai com um ar de preocupação, um tanto choroso. Não sabia o que ele tinha, mas, logo mostrei nossa aprovação e aquilo serviu como um bálsamo para ele. As expressões faciais de preocupação foram se atenuando, ele sorriu um pouco, mas a preocupação continuava em seus olhos. Naquele momento, lembrei-me que mamãe estava com o mesmo sentimento enquanto voltávamos da escola, e agora, o olhar dela era o mesmo. Parecia feliz por conta de nossa aprovação e de nossa mudança para o ensino médio, mas, faltava algo. Fiquei calada. Esperei que eles pudessem falar, mas o silêncio dominava todo o ambiente naquele momento. Inquieta, Lavínia perguntou:

— Gente, o que está acontecendo? Luna e eu passamos, e vocês fazem essas caras... — foi interrompida por nosso pai.

— Filhas... a vida de vocês vai mudar drasticamente. Perdoem-me pela falta de tato para falar isso, meninas, mas, a situação da nossa família está completamente complicada.

— Pai, o que está acontecendo? — Perguntei antes que ele pudesse fazer rodeios, pois, o nervosismo já tomava conta do meu ser. — Por favor, pai... É alguma doença?

— Não, filha. Eu, sua mãe e vocês estamos muito bem de saúde... — Enquanto ele falava, sentei-me sobre um dos sofás de nossa imensa casa, suspirei. Lavínia fez o mesmo, embora demonstrasse estar mais segura. Era possível observar algumas lágrimas que caíam do rosto de nossa mãe. — A empresa vai mal. Muito mal. Não é segredo que foi um ano de crise para muitos empreendedores, mas, tivemos um rombo muito grande. A solução foi vender mais da metade dos restaurantes.

A cada nova palavra, meu peito batia mais fortemente. As emoções estavam ficando à flor da pele. Já sentia algum tipo de tremedeira sobre mim.

— E não para por aí. — Ele continuou — Eu tomei a decisão de que, para enfrentarmos isso tudo, vamos precisar fazer uma mudança da nossa sede central para um lugar... digamos... mais valorizado.

— E isso quer dizer que...? — perguntou Lavínia.

— Que a empresa vai se mudar para São Paulo, que é o centro financeiro do Brasil. Na verdade, o escritório vai ser lá, mas o centro de produção vai ser no Rio de Janeiro. E isso quer dizer que também teremos que nos mudar para lá em... em 20 dias.

Congelei. Como eu poderia me desapegar em 20 dias? Talvez, a questão nem fosse o desapego, mas sim, de me acostumar à uma nova vida em um local totalmente novo e desconhecido.

Quando contei aos meus amigos, choramos, rimos por relembrar os bons momentos, e Lavínia deixava claro que não estava de acordo com a mudança. Ela, todos os dias e mais do que ninguém, perguntava se a mudança da família seria necessária. Rebatia. Dizia que não queria ir, mas seu protesto não surtia efeito algum.

E os vinte dias voaram como vinte minutos. Talvez até como vinte segundos.

No dia em que, finalmente partiríamos para o Rio de Janeiro, todos os nossos parentes e amigos foram se despedir de nós no aeroporto. Eu já estava inteiramente sem esperanças de que Simón, meu melhor amigo, aparecesse, quando ouvi seu grito pelo meu nome no momento em que estávamos indo para a sala de embarque.

— Luna! — ele gritava várias vezes.

Me virei e corri para seu abraço. Ficamos daquela forma por dez minutos, sorrimos, choramos, e nos despedimos várias vezes. Não poderíamos o contato.

O vôo foi anunciado pela última vez, e corri para a sala de embarque depois de mais um forte abraço em meu melhor amigo.

Entrei no avião, sentei e logo dormi.

(...)

— Luna! Acorda! Estamos chegando! — Lavínia me chacoalhava para que eu pudesse despertar.

— Olha ali. — despertei automaticamente, rapidamente — É o pão de açúcar. — Minhas expressões de tristeza e saudade foram se desfazendo ao ver uma nova paisagem, a qual havia sido vista apenas pela internet e pela TV.

Desembarcando, pegamos nossas bagagens e saí andando com as minhas. Andei até onde pude, até que esbarrei em alguém. Era um rapaz... era um rapaz lindo. Nos olhamos enquanto a minha garrafa de água caía. Nossos pés ficaram encharcados e nós dois ficamos a nos olhar. Parecia que não nos importávamos com aquela correria, era estranho, pois ele era um desconhecido, mas que, de certa forma, havia me deixado nervosa.

— De... desculpa. — falei.

Ele me olhava sem dizer nada. Que olhar estranho ele tinha. E encantador, ao mesmo tempo era. De repente, uma estranha visão passou sobre o meu pensar, o que me fez ficar ainda mais nervosa.

Doce DeleiteOnde histórias criam vida. Descubra agora