Seu sorriso {Mikey}

07

— Flora? O que aconteceu? Cadê o Mikey? — escuto uma música altíssima no fundo e me embrulho com o lençol que estava antes, me encostando na cabeceira da minha cama.

— Ele foi embora, Mit. Eu consegui, eu fiz o que eu queria no momento, mas ele foi embora e nem me deu uma explicação. — falo chorosa, tentando ao máximo segurar as minhas lágrimas que se aglomeram rapidamente nos meus olhos, deixando a minha visão turva e embaçada.

— Não precisa chorar, tudo bem? — eu concordo com a cabeça, como se ele pudesse me ver através da ligação. — Eu estou perto da sua casa, chego aí em instantes. Olha aqui, toma um banho, relaxa e me espera, prometo que não demoro.

— Tudo bem. — é a única coisa que consigo dizer antes do meu celular descarregar por completo. Eu o deixo na mesinha ao lado da minha cama, me levantando devagar.

Olho para a bagunça na minha cama, soltando um suspiro pesado pela loucura que eu acabei de fazer, e me arrependo no mesmo instante, mesmo que eu tenha adorado enquanto durou.

Pego as minhas peças de roupas pelo chão e jogo-as no cesto. Paro de caminhar quando eu encontro uma gravata vermelha, mais especificamente a gravata do Mikey. Apenas a jogo dentro do meu cesto também, não querendo ficar com essa peça mais nem um segundo.

Vou até o banheiro e ligo o chuveiro na água normal, molhando o meu cabelo na água fria que cai sobre a minha cabeça. Não me importo de estar lavando o cabelo tão tarde, ou de estar demorando mais do que o normal no banho, eu só quero relaxar. Quero ficar aqui até o meu melhor amigo passar por aquela porta e me tirar daqui.

— Que idiota. — digo a mim mesma enquanto desligo o chuveiro.

Estou parecendo uma adolescente que teve o seu coração partido pela primeira vez. Uma boba! Como se já não tivessem me quebrado antes, como se essa fosse a única forma que as pessoas me veem. Não acredito que estou derramando lágrimas por um cara que conheci recentemente apenas porque ele foi carinhoso comigo e depois foi embora.

Lavo o meu rosto mais uma vez, me enrolando na minha toalha e saindo do banheiro. Retiro os lençóis da minha cama, os levando até a máquina de lavar e os deixando lá. Coloco novos lençóis e me sento ali, apenas esperando que o Mit entre no meu quarto e possa me escutar, ou talvez apenas ficar ao meu lado, como ele sempre faz.

— Flora, está aí? — eu murmuro algum som para confirmar, virando o meu rosto para encará-lo.

Mit não diz nada, apenas se senta ao meu lado e me abraça forte, fazendo um carinho no meu cabelo molhado.

— Me desculpa! Eu coloquei tanto isso na sua cabeça, que você devia seguir em frente, que devia curtir o momento, eu não pensei no que você queria. Eu achei que o Mikey seria legal com você, eu achei, de verdade.

— Você não teve culpa, Mit. Na verdade eu nem acho mesmo que tenha um culpado, você apenas queria o meu bem e, sinceramente, eu me senti bem com ele. Eu só estou magoada por ele ter ido embora tão de repente sem ao menos me dizer o porquê, ainda mais depois de... tudo o que aconteceu hoje.

— Vocês... — eu concordo e o Mit me abraça mais forte, descansando as suas mãos nas minhas costas. — Nada de ruim vai acontecer com você. Você sabe que eu não vou deixar ninguém mexer com você, não sabe? Você não vai passar por nada daquilo de novo, eu prometo.

Eu descanso a minha cabeça na curvatura do pescoço dele, agradecendo baixinho por ele estar aqui comigo quando na verdade poderia estar em qualquer lugar, com qualquer outra pessoa.

Quero ficar nesse abraço por horas, apenas para me sentir protegida de tanta coisa. Depois que os meus pais se foram eu me senti tão sozinha, afinal, eles eram as únicas pessoas que eu tinha. Eles e o Mit, que era o único amigo que eu tinha graças ao cursinho de corte e costura, o qual eu desisti após algumas semanas. Então nós nos tornamos grandes amigos, talvez até mesmo irmãos, e eu o amo tanto que quero protegê-lo assim como ele me protege. Mas o Mit não precisa de proteção, não como eu.