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Karol

***
Fiquei o resto da noite no apartamento. Não chorei, só pensei. Quero tentar entender
o que Ruggero ganharia inventando uma coisa assim. Fantasma de Bernardo? Quem ele acha
que eu sou? Uma criança? E como ele pode ter sobrevivido ao acidente? As pessoas
viram, Renato reconheceu o corpo. Agora, a vingança é comprovada. Ruggero me deu forças
para eu me vingar dele. Será doloroso.
Estou sentada no sofá de Carolina , sozinha no apartamento, olhando fixamente para o
celular sentindo o coração bater nervoso. Acabei de tomar coragem de ligar para alguém.
Meus pais ainda não sabem desses meus problemas, nem quero que saibam por
enquanto; mamãe ainda está em recuperação. Também me recuso a ligar para Carolina. Sei
como ela é, vai querer colocar ideias fantasiosas na minha cabeça. Também não vou ligar
para valu por causa de Mike , então sobrou só Sérgio. Conto a ele tudo o que aconteceu,
ele fica calado me ouvindo e confirma minhas suspeitas de que Ruggero só pode estar
querendo me desestabilizar com essa história.
Depois que eu desligo, passo mais um bom tempo olhando para a TV. Olho mais uma
vez no celular, já é quase meia noite. Nesse instante, a campainha toca, e eu me levanto
em sobressalto. Corro para a porta e pergunto:
— Quem é?
— Sou eu, Sérgio. Você está bem?
Respirando aliviada, abro a porta e Sérgio já entra me empurrando contra a parede,
espremendo seu corpo grande contra o meu. Fico sem fôlego por causa do beijo
apressado e pelas mãos dele que passeiam pelo meu corpo.
— Sérgio — eu grito, tentando afastá-lo.
— kah, eu…
— Não! — grito furiosa, o afasto bruscamente e saio cambaleando.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto.
— kah , me desculpe. Eu achei que…
— Só fique longe de mim — eu peço de costas para ele.
Totalmente apavorada, acabo de cair na real. Deixei em casa um marido e um filho.
Deus! Eu negligenciei Beni, só por causa de uma vingança.
Agarro minha bolsa rapidamente e olho para Sérgio.
— Não trabalho mais com você.
— Tudo bem. Eu estou muito envergonhado. Eu só achei que nós dois…
— Não existe nós dois. Sou casada.

— Mas você odeia o Ruggero …
— Não o odeio. Eu estou com raiva dele nesse momento, mas não o odeio.
— Karol , eu achei que…
Ele tenta explicar, mas eu corto imediatamente. Com pose austera, eu digo:
— Sérgio, eu não te dei liberdade em momento algum. Por favor, quero que saia, já
estou voltando para minha casa.
— Está bem. Vamos, eu te levo até lá embaixo.
Espero ele sair, fecho a porta e marcho rápido na frente, tremendo de aflição.
Quero apenas estar em casa, mesmo brigada com Ruggero. Amanhã eu e ele
conversamos. Farei ele me pedir desculpas e retirar todas as infâmias que levantou contra
a memória de Bernardo.
Logo depois
Assim que chegaram em frente ao prédio, karol  virou-se para Sérgio.
— Adeus.
— kah , espere — ele disse e a tomou nos braços em um abraço amigável.
— Me desculpa, tá?
— Sim, tudo bem. — Karol  se afasta rápido e anda depressa para o carro dela.
Sabe que foi um erro ter saído quando a discussão com Ruggero esquentou.
Sérgio se apressou em abrir a porta do carro para ela. Karol  entrou e deu a
partida. Ele ficou na calçada olhando o carro se afastar. Assim que não estava mais visível,
uma mulher andou rápido em sua direção.
— E então? As fotos ficaram boas? — ele pergunta para Carla, que exibe uma
câmera como se fosse um troféu.
— Ficaram ótimas.
— E vai entregar para o babaca do marido?
— Lógico que não. Observe e verá. Ele não verá essas fotos por enquanto —
maliciosa, Carla diz, pensativa.
— Preciso logo do meu dinheiro. Carolina  e o namoradinho me devem cada centavo —
Sérgio diz, vira as costas para Carla e vai embora.


Ruggero


Sozinho na minha sala na AMB, eu estou de pé, com as mãos espalmadas sobre a
mesa, meio curvado para frente, olhando sem piscar para as fotos que o detetive trouxe.
Preciso entender o que está acontecendo e, para isso, tem que ser como sempre, só eu e
mais ninguém. Sou melhor trabalhando sozinho, nada daquela história de “duas cabeças
pensam melhor do que uma.” Isso não funciona comigo. A não ser que seja algo fútil, como
os planos que eu ajudei Mike  e Agustín a elaborar. O caso aqui é bem mais sério do que
apenas planejar para levar uma mulher para a cama.
Hoje eu levantei bem cedo e vim para cá. Não quero conversar com Karol  ainda.
Ela deve estar furiosa, e eu também estou irritado por ela ter saído e chegado tão tarde.
Agiu como uma covarde, não quis sequer me ouvir, muito menos brigar. Nem mesmo se
importou com o bebê chorando. Eu fiquei com muita raiva dela, que só se intensificou
conforme as horas passavam. Por isso, vou passar o dia fora, já decidi. Não quero ter que
bater boca de novo e preciso ter todas as respostas para quando eu chegar em casa. Vou
mostrar essas fotos à karol , ela aceitando ou não, vai ter que ver.
Minhas perguntas são muitas, e preciso tê-las esclarecidas antes de explicar tudo
para karol . Como por exemplo: se esse cara está vivo, onde ele está? E por que ele se
escondeu se fingindo de morto? Se escondeu, aparentemente, apenas de karol . Por
quê? O que ele tem a ganhar se escondendo dela?
A primeira coisa que me veio à mente foi: ele forjou a própria morte para ficar com o
seguro. Mike  e eu fizemos uns cálculos e, pelo que karol  me contou sobre o acidente,
ele receberia em torno de cem mil reais. É uma boa grana, mas não justifica ele ter feito a
namorada de tola. Se é que fez. Não sei ainda quem está mentido nessa história, não
deixei nenhuma possibilidade de fora. Será que karol  está metida nisso? Tenho quase
certeza que não, mas não posso descartar.
Eu preciso ter certeza. Acho que fui imprudente em contar para ela sem ter provas.
Acreditem, o jumento aqui deixou o envelope na sala de descanso. Me insulto toda vez que
lembro disso. Gustavo foi, de novo, investigar mais a fundo. Espero que ele encontre mais
respostas.
Nesse momento, a porta se abre, e Mike  entra.
Ele olha para mim, seus olhos descem para a mesa e sobem de novo para o meu
rosto.

Minha perdição   (Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora