Capitulo 6

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Como seu filho, Noah Urrea aprendeu a dormir em qualquer lugar. Do chão de terra das barracas nômades do Paquistão ao compartimento de bagagem de um velho ônibus no Camboja, se houvesse espaço suficiente para ele se enroscar ali, o sono era quase certo. Era estranho que nessa luxuosa cama king-size, na atmosfera climatizada de sua casa em Shaw Haven, ele estivesse acordado há horas olhando para o teto, de olhos arregalados.

Naquela noite, ele se viu abandonando por completo seu objetivo, e não desceu a escada polida e pegou o MacBook para organizar as fotos do seu último trabalho.

Não assumiu nenhum compromisso neste outono propositalmente. Entre ambientar Matthew no jardim de infância e pensar sobre a mudança para Nova York, ele decidiu fazer uma pausa. Mas sentia falta do trabalho. A fotografia era sua paixão, e escolher cada foto, vendo as diferenças mínimas entre elas, tinha um efeito calmante como nenhum outro.

Ainda assim, estava se sentindo mal-humorado quando a manhã chegou, pois tinha adormecido pouco antes do amanhecer. Matthew, por outro lado, estava mais animado do que o habitual, falando com a boca cheia enquanto comia seu cereal matinal.

- A Sammy pode vir brincar de novo depois da aula? - o menino perguntou. - Vamos procurar mais minhocas e criar uma fazenda para elas. Ela disse que podemos treiná-las para elas fazerem truques.

Os pensamentos de Noah se voltaram imediatamente para Sina.

O jeito como ela parecia brava quando pisou no seu quintal. Mas quando sua fúria se dissipou, substituída por uma vulnerabilidade que o tocou profundamente, ele viu sua raiva pelo que realmente era.

Medo.

Mas medo do quê? Era isso o que não conseguia entender.

Balançou a cabeça de novo para si mesmo - lá estava ele mais uma vez, pensando em coisas que não eram da sua conta. Não tinha nada melhor para fazer? Preparar seu filho para a escola seria um começo.

- Não sei. Teríamos que perguntar para a mãe dela. - Noah pegou a tigela vazia de Matthew e a colocou na lava-louça. - Se ela não puder, podemos convidar outra pessoa. Você não tem mais amigos na escola?

Matthew balançou a cabeça.

- Quero brincar com a Sammy. As outras crianças são um saco.

Noah empurrou a porta da máquina e se virou para olhar para o filho.

- É mesmo? Por quê?

Seu filho piscou duas vezes, depois baixou os olhos para os pés, franzindo a testa.

- Eles são malvados. Disseram que ela não podia brincar com eles porque não tinha mais pai. - Ao olhar para Noah, ele ainda estava franzindo a testa. - Mas ela tem pai, não tem?

- Sim, ela tem. - Noah umedeceu os lábios. - Só porque você não mora com alguém, não significa que a pessoa não te ame. Veja a sua mãe. Ela é louca por você.

- Foi o que eu disse. Mas ninguém acreditou em mim quando falei que a minha mãe não morava com a gente. Disseram que as mães têm que morar com os filhos.

Uma olhada no relógio disse a Noah que eles iam se atrasar se não saíssem em breve. No entanto, isso parecia importante demais para deixar de lado.

- E o que você acha?

Matthew franziu os lábios, imerso em pensamentos.

- Acho que não importa se você mora com sua mãe ou seu pai. Desde que eles te amem, está tudo bem.

Noah se agachou na frente do filho, colocando as mãos nos ombros de Matthew. Seu peito doía de amor pelo menino.

- Ninguém poderia ser mais amado que você - falou com a voz cheia de emoção. - E você sempre vai ficar bem. Vou me certificar disso.

Uma luz no Outono - Adaptation NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora