Prólogo

144 19 12
                                    

Vinci

Aos 10 anos - Londres

A vista do meu quarto é privilegiada, o jardim dos meus avós é lindo. Mamãe diz que eu sou uma criança de sono leve, sempre acordo nas madrugadas e por isso tenho inúmeras vezes a sorte de acordar antes do sol nascer e por isso posso vê-lo acender as primeira luzes do dia.

O sótão da casa virou o meu quarto quando completei 6 anos, vovô disse que eu estava virando um rapaz e precisava do meu próprio espaço já que dividia o quarto com minha mãe. Assim, ele reformou o sótão e eu ganhei o meu lugar, meu espaço para estudo e uma estante inteira de livros e gibis.

Vovó sempre traz novos livros e cultiva o meu hábito de leitura, ainda lembro das madrugadas que acordava assustado e mamãe me acalmava lendo um dos exemplares que vovó me presenteava.

Na nossa casa sempre fomos nós quatro, só convivo com outras crianças na escola e o assunto "meu pai" meio que é proibido em casa. Sempre que o mesmo surgia, por atividade na escola ou dúvida minha mesmo, percebi o desconforto de mamãe e meu avós.

Não é algo raro de se ver no lado da cidade onde moramos. Londres é uma das maiores metrópoles do mundo, temos muito orgulho da nossa cidade, porém, viver na periferia dela não é fácil. Meus professores sempre nos incentivam e o mantra na escola é sempre esse: estudem para aproveitar as melhores oportunidades.

Minhas notas são ótimas, por algum motivo, assimilo rapidamente os conteúdos e não preciso estudar tanto para que minhas notas sejam as mais altas da turma.

Meus avós são donos de uma padaria no nosso bairro, sempre depois da escola venho ajudar mamãe no atendimento enquanto meus avós cuidam da cozinha.

É uma correria diária, saio da escola direto para a padaria. As vezes preciso me esconder dos garotos maiores, eles sabem ser cruéis. Não gosto muito de interagir com outras pessoas além da minha família, eles me acusam de ser desconfiado, medroso e até já me chamaram de perturbado. Eu não ligo não gosto muito de falar, prefiro ler.

Encaro o prédio em tons pastéis que tem três mesinhas em frente e aperto o passo. Esse horário o movimento aumenta e sei que mamãe vai precisar da minha ajuda.

- Filho. - mamãe me chama do balcão, caminho até ela, deixo minha mochila no armário do lado da cafeteira industrial e abraço seus quadris.

- Sim, mamãe. - a aperto e desfruto do seu cheiro de chá com lascas de limão, seu avental sempre tem cheiro de chocolate.

- Resolvi que você vai entrar na turma especial como sua professora sugeriu, você é um aluno acima da média e precisamos investir no seu futuro.

- Desse modo não poderei ajudá-la no atendimento na padaria. - a olho sem entender, ela precisa de mim aqui para ajudar e as turmas especiais me tomariam o dia inteiro.

- Nós daremos um jeito, quero o melhor pra você, meu menino.

- Mamãe, os Nerds das turmas especiais nos odeiam, eles comerão meu fígado quando chegar lá como novato.

- Vincent Thomas, você é o garoto mais especial que eu conheço. - ela se inclina e me olha com o olhar mais doce, minha mãe parece um anjo, pele clara, olhos verdes, cabelos loiros como os raios de sol e uma voz mansa como as águas tranquilas que correm nas margens dos lagos do nosso condado. - Sei que fará amizades rapidinho, meu amor.

Seu sorriso se amplia e para não desaponta-la assinto, apesar de os nerds não serem violentos, são extremamente arrogantes, arredios e antisociais. Como eu sei disso? Meio que me enxergo neles. Quem consegue ter medo de quem tanto parece consigo? Eu. Pela minha mamãe, para que ela tenha orgulho de mim, farei todo esforço e serei o número um das turmas especiais.

Vinci - A Redenção De Um HomemOnde histórias criam vida. Descubra agora