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Estava um pouco frio ali fora por conta do ventinho gelado que soprava, me encolhi toda no lugar e abracei meu corpo para tentar ao menos me aquecer. A música vinda do baile ainda estava alta aqui, mas o fluxo de pessoas era menor.

Meus olhos preocupados passeavam naquela viela a todo instante, com medo de que eu fosse atacada por algum usuário de droga ou bêbado saindo agora da quadra. Mas, no fundo, eu sabia que algo bem pior me esperava. Se aquele homem queria me ver, assim do nada, era porque algo de ruim estava para acontecer.

De repente, em um lapso de memória, lembrei-me de que havia acabado de beijar Théo. Será que ele viu? Ou alguém me dedurou? Eu cuidei de ser escondido para que ninguém visse, mas o que mais tinha nesse morro era gente fofoqueira.

Um ruído atrás de mim fez com que eu desse um salto assustada. Estremeci ao ver uma sombra na rua se aproximando. Era ele. Coloquei a mão no peito e senti o quanto meu coração estava acelerado, batendo fora de ritmo.

Não tinha feito nada de errado. Eu era solteira e livre para ficar com quem eu quisesse, então por que aquele homem me fazia sentir como se tivesse feito algo horrível? Como se tivesse sido pega em flagrante depois de cometer algum crime terrível?

Ele se aproximou, lançando um olhar ameaçador para mim, e então seus olhos percorreram meu corpo e minhas pernas à mostra por causa da saia curta. Ele parou na minha frente, abaixando ainda mais o boné na cabeça.

Tive que erguer o rosto para encarar seus olhos e percebi que ele estava realmente nervoso comigo. Russo devia ser mais de vinte centímetros mais alto do que eu, o que me fazia sentir pequena e insignificante ao seu lado.

— Chegou nos meus ouvidos que você aprontou no baile, isso tem procedência? — Ele cruzou os braços e continuou me encarando com frieza. Engoli em seco e dei de ombros, sem saber o que responder. — Papo reto, eu sabia que essa cara de "boa moça" era só uma fachada para esconder a vagabunda que você é. Igualzinha à sua irmã, na moral.

— Eu achei que... — Prendi a respiração quando ele se aproximou ainda mais, me olhando de maneira ameaçadora. Nunca havia sentido tanto medo na minha vida. Se ele decidisse me machucar agora, ninguém saberia o que havia acontecido comigo.

— Achou o quê, hein? Que podia dar para qualquer um? Baranga do caralho! — Ele puxou bruscamente meu cabelo. Eu fiz uma expressão de choro e tentei me afastar, mas seu aperto era forte.

— Por favor... — Pedi baixinho.

— Você não bota fé no que eu digo, né, garota? — Ele deu um tapa forte na minha cabeça. A ruga entre suas sobrancelhas lhe conferia uma expressão cruel, mas eu sabia que não era apenas a aparência. Russo era uma pessoa cruel e desprezível, e a cada dia que passava eu percebia isso. — Você está no meu nome, filha da puta.

— Você não me procurou, pensei que não queria mais. — Murmurei baixinho, tentando me explicar.

— Quem decide quando acaba sou eu, filhona. — Ele me largou de uma vez. Meu corpo se chocou contra a parede atrás de mim. — Essa é a última vez que te passo a visão. Se eu souber que andou aprontando de novo, não tem mais conversinha, se ligou? Vou chegar e já passar a zero nessa sua cabeça.

Concordei, sentindo-me humilhada por ser tratada como uma vadia, tudo isso por tentar salvar minha irmã. Russo fez menção de sair, mas minha voz o fez parar.

— Minha irmã... ela desapareceu. — Ele se virou e voltou a me encarar como se eu fosse insignificante.

— E eu com isso, porra? — Rebateu impaciente. — Quer que eu dê conta agora daquela viciada de merda?

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora