O Início 1

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Seis da manhã. O despertador do meu celular grita ao lado do meu travesseiro.
Sinceramente, eu não queria que esse dia chegasse. Não estou pronta pra deixar o lar onde cresci, abandonar a realidade que conheço desde o dia em que nasci. Me desfazer da escola, de alguns amigos e até mesmo da minha mãe. Droga, preciso encarar logo tudo isso.

O meu nome é Aylla, ou Ally, você decide. Eu acabei de completar meus 18 anos e de repente a minha vida virou de cabeça pra baixo, e acredite, não foi por minha culpa.
Vivo com a minha mãe Deisy e seu namorado Marco na Georgia desde os meus 3 anos de idade e o meu pai... bom, minha mãe deixou ele quando completei 1 ano de idade e se mudou de Michigan, não me perguntem o motivo porque nem mesmo eu sei.
A aproximadamente uma semana minha mãe e o seu marido se desentenderam e uma briga muito feia rolou aqui em casa resultando em um inesperado convite para que nós duas nos retirassemos da casa que o Marco comprou. De início, eu vi isso como uma boa oportunidade para que nós duas nos mudássemos para mais perto da minha escola e do trabalho da minha mãe, mas, não foi bem como eu estava esperando.
Minha mãe tem passado por algumas coisas delicadas em relação ao seu trabalho e quase não para em casa ou da satisfação do que faz então, ela decidiu sozinha que me mandaria para o Michigan, onde meu pai mora. EXATAMENTE! Depois de 18 anos eu estava indo morar com um completo desconhecido, que até então eu só conhecia por algumas chamadas de face time. Não consigo explicar em palavras o quão frustrada eu me encontro e o quanto isso tá pesando a minha mente, meu corpo.
Agora, estou buscando ânimo de onde não existe para poder sair de dentro do meu quarto com todas as minhas coisas e encarar de perto o meu destino e todas as coisas que terei que enfrentar daqui pra frente.

[...]

Pisquei meus olhos e já estava no banco traseiro da picape do Marco com algumas mochilas e malas com os meus pertences. Minha atenção estava completamente presa a paisagem que a janela me proporcionava da cidade. Meus ouvidos estavam presos na melancolia que a voz do The Weeknd trazia em Save Your Tears. Eu estava totalmente desligada do mundo real, nem mesmo a discussão frenética que rolava entre Marco e minha mãe conseguia roubar a minha atenção ou tirar a paz que havia me dominado naquele momento.

Eu definitivamente não sei o que esperar. Não sei o que esperar da cidade, da escola, e do meu pai. É assustador a angústia e ansiedade que corriam pelo meu corpo. Eu só queria deitar e chorar até dormir, para quando despertar tudo isso só ser um sonho e nada na minha vida mudar assim, do nada.
Uma das coisas que mais me machucavam nisso tudo, era a indiferença da minha mãe em relação a mim. Ela não parecia estar preocupada com a distância de 1hs e alguns minutos que nos afastaria, e nem em como eu me adaptaria morando com um cara que eu nem conheço direito. estava me matando ver ela tão tranquila com tudo aquilo e se preocupado só em descobrir quem era a "vadia" que o Marco andava metendo o pinto. isso esta me matando.

Estava tão desligada que quando menos esperei já estava na frente da minha nova casa. pela primeira vez, desde que havia tomado a brilhante decisão de me mandar pra Michigan, a minha mãe estava sorrindo pra mim com algumas lágrimas nos olhos. Em um ato automático, puxei o par de fones do meu ouvido e fixei meu olhar aos olhos de minha mãe. eu estava morrendo de vontade chorar, grudar minha mão na dela e voltar correndo pra Georgia. que sensação horrível. parecia que nunca mais iríamos nos ver, esta sendo horrível.

-" E então?? Parece que chegamos no seu ponto mocinha"

minha mãe disse enquanto limpava seus olhos e se preparava pra sair da picape.
Minhas mãos estavam completamente geladas, meu corpo estremecia por inteiro e eu não estava conseguindo parar de suar frio. me retirei do carro junto de minha mãe e Marco e enquanto os dois tratavam de tirar as malas do carro, eu estava tentando arrumar a minha postura e desamassar a minha roupa no corpo. Eu queria causar uma boa impressão, preciso confessar isso.
Um homem alto, de cabelos grisalhos e um corpo bem em forma saiu de dentro da casa em que estávamos parados em frente, com um sorriso imenso e bem receptivo. eu estava completamente assustada e apreensiva, não sabia o que fazer, só queria correr daquele lugar e me trancar dentro do meu quarto.
Um "Bem vinda Aylla" saiu dos lábios do homem mais velho. naquele instante eu ja tinha até esquecido qual era o nome do meu pai e até os motivos pelos quais eu estava ali. minha cabeça estava a mil e eu não conseguia nem imaginar como seria minha vida dali pra frente.

- Obrigado (???)

minha voz saiu baixa e fraca. agora eu já estava com uma mochila sobre os ombros e duas malas nas mãos, arrumando um jeito para pegar as duas que ainda restavam ali. Eu nao fazia ideia de que tinha trago tantas coisas assim. O meu pai me ajudou a terminar de tirar as coisas de dentro da caminhonete, ele estava com um sorriso largo, parecia estar feliz em me receber na casa dele, talvez ele esteja querendo recuperar o tempo perdido ou só esteja animado com a ideia de que comigo em casa se sentiria menos solitário.
Me despedi da minha mãe com um abraço demorado e apertado e o Marco, apenas agradeci pelos anos em que ele me forneceu comida, internet, abrigo e roupas. Eu estava muito puta com ele pra me despedir com abraços ou coisas do tipo.
Marco e minha mãe entraram na caminhote e se despediram com um businar. Nesse momento meu pai ja estava sa adiantando e levando minhas coisas para dentro da casa, eu estava paralisada observando a velha picape azul bebê de Marco sumir no meio da neblina e com a ajuda da distância. Suspirei pesado e levei meu olhar ao céu, estava me preparando pra encarar a dura realidade e o fato de estar "começando do zero" de um lugar totalmente fora da minha zona de conforto.

Ele estava animado. A casa superou minhas expectativas e o meu quarto era ótimo, até melhor que o da minha antiga casa. Meu humor estava melhorando.
Consegui colocar tudo em ordem e em alguns longos minutos o quarto ja estava mais confortável pra mim e ja me lembrava um pouco de casa. Eu não posso negar, vai demorar para que eu me acostume com tudo isso. Que saco!
Eu estava exausta então a única coisa que fiz após arrumar todas as minhas coisas foi deitar na cama, que por sinal era o dobro do tamanho da minha antiga, mas quando estava quase cochilando um "Filha? quer comer alguma coisa?" me fez abrir os olhos e a minha barriga roncar. 'Filha??' sério? nem a minha mãe me chama assim, fiquei assustada por não estar acostumada mas respondi ao mais velho enquanto me levantava e caminhava em direção as escadas. Era engraçada toda essa situação, eu não sabia como agir e nem o que falar, eu nem o conheço direito, achei que nunca iria o ver além do FaceTime. enfim, uma loucura era o que a minha mente estava.
Me sentei na mesa junto ao mais velho, ele tinha feito algumas panquecas, ou ao menos tinha tentado fazer, achocolatado e mel. Não era o almoço que eu esperava mas não demorei pra começar a comer. ficou um silêncio constrangedor enquanto comiamos, ele estava lendo um jornal e eu fiquei olhando pra rua pela janela grande da sala de jantar. não me atrevi a falar, não sabia o que falar com ele, não tinha o que falar.

- se quiser carona amanhã pra ir a escola...acho que nao terei problema no trabalho se atrasar uns minutos...
Ele disse me fazendo levar o olhar e a atenção para ele.
Escola? Amanhã? Mas que porra, eu tinha acabado de chegar na cidade e ja teria que encarar a escola? Céus, achei que teria pelo menos uma semaninha pra sei la, conhecer a cidade ou pra cair a ficha de que essa seria minha realidade daqui pra frente.

- a... pode ser... quero dizer, tudo bem se não for um problema pra você. eu posso ir de ônibus.
Eu acabei me embaralhando enquanto falava, não queria ser um peso ou atrasar o lado dele, pelo contrário, quanto menos a minha presença fosse notada, melhor pra mim.

- Não se preocupe ta tudo certo. *ele disse enquanto mudava a página do jornal* - perdão pelas panquecas improvisadas, normalmente eu não cozinho, sempre faço minhas refeições na padaria de um amigo meu.
Meu pai disse e tomou um gole do seu café. Não julgava ele por não cozinhar porquê eu faria o mesmo se fosse velha e morasse sozinha a anos. Eu acho que não me importaria de comer todas as minhas refeições em uma padaria de um conhecido do meu pai, é bem melhor que cozinhar sozinha todos os dias o meu prato de comida.

- Eu não me importo em comer lá, da próxima vez economize seus igredientes
Disse com um tom sádico enquanto terminava a minha refeição.

Foi tranquilo. nós conversamos algumas coisas bobas, falamos sobre a minha mãe e sobre como seria daqui pra frente. Depois disso ele saiu pra trabalhar, ele mudou o horário do turno de hoje pra poder me receber aqui e isso me incomodou um pouco mas estava até que tranquila.
Agora já são 02:39 da madrugada e eu estou completamente ansiosa e muito tensa. não sei o que esperar da escola e das pessas que vou encontrar lá. Estou assustada mas vou tentar ser mais positiva.
Boa noite.

Blood MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora