O som da trombeta de corno anunciava um novo ataque. Os soldados da infantaria, em fileiras com seus escudos e lanças, esperavam a ordem de avançar, enquanto os arqueiros, posicionados logo atrás, já seguravam uma flechas e arcos. Os engenheiros calibravam as balistas e catapultas e o único, mas enorme trebuchet, era carregado com uma grande pedra. Os guerreiros mais fortes começavam a mover o aríete em direção ao portão principal da cidade sitiada. Grupos de soldados se reuniam em pequenos bandos para carregar escadas de assalto. O clima era tenso. Aquele cerco já durava tempo demais e custara muitas vidas e ouro.
Por trás das altas muralhas de pedras, a fumaça negra ainda subia com vigor, resquícios dos incêndios provocados pelas munições incendiárias das catapultas, que atiraram noite adentro, com a intenção de quebrar o ânimo dos habitantes daquela cidade murada. Porém, os atacantes já tentaram diversas vezes nas últimas semanas tomar seus muros e torres, mas seus defensores, os melhores besteiros de toda Calradia, resistiam bravamente.No meio do acampamento atacante, na tenda principal, os condes se preparavam para o ataque, quando Conde Clais, senhor de Dhirim, entra com semblante surpreso.
Clais - Por que estamos atacando? Não era para esperar a resposta dos emissários?
Klargus - Já recebemos a resposta! Olhe bem, está na torre principal!
Conde Clais deu meia volta e saiu da tenda para observar a muralha. No alto da torre, estavam as cabeças decepadas dos emissários swadianos, penduradas no parapeito da muralha, enquanto guerreiros rhodoks gritavam insultos às tropas de Swadia.
Delinard - As pessoas deviam saber quando são conquistadas!
Clais - Será que nós saberíamos que fomos conquistados? Rebateu a fala arrogante do companheiro de título, enquanto virava se de volta para a tenda.
Clais - Devíamos esperar o rei. Se mais um ataque der errado, as tropas de Graveth podem tentar nos atacar e aí ficaremos encurralados entre esses muros malditos e as lanças rhodoks.
Klargus - Meu velho amigo, por um acaso você viu alguma mensagem do nosso bom rei, dizendo que estava a caminho de Veluca?
Um silêncio imperou entre os condes de Swadia. Conde Klargus, senhor de Suno estava encarregado do exército swadiano, junto com conde Delinard senhor de Uxkhal e conde Clais senhor de Dhirim. Eles haviam enviado um mensageiro até Conde Matheas, senhor da cidade sitiada de Veluca, com um ultimato, para que a cidade se rendesse pela manhã, pois do contrário, o imenso exército swadiano atacaria com tudo. E a resposta já estava escancarada nos muros da cidade. Conde Klargus continuo:
Klargus - Nosso senhor Harlaus não virá antes do julgamento de sua sobrinha, a usurpadora lady Isolla, o que nos leva a outro problema muito mais sério. Nossos batedores viram tropas do rei Graveth a dois dias de viagem. Se eles chegarem aqui antes de nós tomarmos a cidade, ficaremos encurralados entre as duas forças inimigas. Então eu sugiro força total hoje e agora. Todos de acordo!?
Nenhum nobre naquela tenda ousaria contrariar conde Klargus, ainda mais com seus argumentos. Klargus era o homem mais poderoso de toda Swadia, depois do rei Harlaus. Era obstinado e o rei sempre ouvia seus conselhos, além de ser o marechal das tropas do reino.
Então, as trombetas de guerra swadianas ressoaram pela segunda vez naquela manhã. Em seguida, uma chuva de pedras, lanças e flechas desabam sob a cabeça dos rhodoks. O inferno havia recomeçado.
No flanco esquerdo do exército swadiano, um grupo de soldados mercenários correm com uma escada de assalto. Com rapidez e agilidade eles colocam a escada em posição para a escalada dos muros, que mediam 6 metros de altura, e na sua base um cavaleiro usando uma túnica vermelha sobre sua cota de malha, levanta seu escudo triangular e puxa a frente no assalto. Seu nome era Hegen, o Lobo de Uxkhal. Logo atrás dele vinham seus companheiros de tropa: Yoshio, Borcha, Firentis e Marnid. Dois arqueiros, Borislav e Aethrod davam cobertura aos atacantes protegidos por uma barreira de escudos móveis manipulados pelo enorme guerreiro Rolf. Alguns soldados rhodoks se expõe no topo da muralha para jogar pedras nos guerreiros que estavam escalando, mas são rapidamente abatidos por Borislav e Aethrod. Porém, de uma torre do lado esquerdo dos atacantes, surgem besteiros que disparam contra os guerreiros na escada. Os arqueiros em solo não tiveram tempo de cobrir seus companheiros. Marnid que já estava na metade do percurso, é ferido mortalmente com uma flecha no pescoço e quase que instantaneamente cai. Firentis é perfurado na panturrilha, mas com furor guerreiro, ele quebra a haste e continua a subir. Mais sorte teve Hegen, que conseguiu usar seu escudo e proteger-se, pois duas flechas ficaram cravadas na proteção.
Os sitiantes seguem a subida, e alguns instantes depois, novamente os besteiros rhodoks surgem na torre para nova saraivada, porém desta vez, Borislav e Aethrod eliminam os inimigos com precisão cirúrgica. A essa altura, Hegen estava a alguns centímetros de chegar ao topo, quando soldados rhodoks surgiram com um panelão de óleo fervente. O cavaleiro imaginou rapidamente seu fim horrível, quando seus futuros algozes foram estraçalhados por um dardo de balista, que atingiu o recipiente e com o impacto, espalhou óleo contra os próprios defensores. Aproveitando essa oportunidade dos deuses, Hegen chega ao topo do muro, desembainha sua espada para lutar, mas seus inimigos estão gemendo e se contorcendo de dor pelas queimaduras. Ele para por alguns segundos, hesitante, sem saber como proceder. Logo a seguir Yoshio se juntam a Hegen. É quando surgem defensores rhodoks de ambos os lados da muralha. Os guerreiros se encaram por alguns milésimos e a luta começa. Para a sorte dos atacantes, Firentis e Borcha também alcançam o topo equilibrando a balança.
Lá em baixo, mais soldados swadianos se aventuravam subindo a escada fazendo com que Borislav e Aethrod não tivessem descanso. Eles recarregaram seus arcos e deram sinal para Rolf erguer o muro de escudos. Seus alvos eram os teimosos besteiros da torre à esquerda, porém desta vez, alguns atiradores do lado direto do muro, também estavam mirando nos arqueiros. Como consequência, Aethrod foi varado por uma flecha no peito e morreu ali mesmo. Ao ver o companheiro morto, Rolf gritou furiosamente, largou a parede de escudos, juntou seu enorme machado de guerra e correu para a escada berrando insultos aos inimigos. Nem ouviu os gritos de Borislav para manter a posição.
No topo do muro a luta era encarniçada. Haviam muitos inimigos para Hegen e seus comandados. Firentis, mesmo ferido na perna, lutava como um urso. Borcha, para cada rhodok traspassado por sua cimitarra, ele soltava uma gargalhada demoníaca. Já Yoshio cortava seus oponentes em silêncio, só ouvindo o zunido da sua katana.Hegen lutava contra três adversários. Sua habilidade o ajudava a defender-se bem, porém o cansaço começar a deixá-lo lento. Com um movimento forte na horizontal, o cavaleiro cortou a garganta do primeiro com sua espada, mesmo que este tentou bloqueá-lo com sua espada, tamanha foi a fúria do cavaleiro. Em sequencia, usando o retorno do golpe anterior, Hegen abriu a guarda do inimigo e num movimento de cima para baixo, abriu o abdômen do segundo inimigo, que caiu contorcendo-se de dor com as próprias vísceras nas mãos. Porém o terceiro oponente já estava muito próximo e desferindo um golpe de maça. Hegen só viu de relance o ataque e agilmente conseguiu desviar sua cabeça do que seria um golpe fatal. O golpe inimigo foi de raspão, amortecido pelo elmo, mas o suficiente para derrubar o cavaleiro. Hegen estava no chão, meio zonzo ainda, quando viu o rhodok levantando a maça para esmagar seu crânio. Quase que em seguida, o inimigo foi transpassado por uma espada. Era o ágil e fiel Yoshio, cravando sua espada nas costas do infeliz rhodok.
Rolf subiu a escada em grande velocidade e fúria que acabou derrubando um soldado swadiano que estava em seu caminho. Quando chegou ao topo encontrou seus amigos ofegantes e cansados da luta que travaram até ali. Vários corpos de guerreiros rhodoks jaziam ao redor deles. Nisso, eles enxergaram uma turba de inimigos subindo as escadas da muralha, vindo do interior da cidade. Eram muitos. Seria uma luta muito desigual e provavelmente eles morreriam. Não dava para lutar contra tantos. Mas Hegen e seus comandados não se intimidavam. Firentis e Borcha que estavam mais a frente, debandaram gritando e se dirigiram ao acesso da escadaria para afunilar e ter pelo menos esta vantagem. Logo atrás vinham os outros guerreiros e também alguns soldados swadianos. Foi quando as paredes da muralha explodiram com o choque de um tiro de catapulta. Firentis e Borcha foram rasgados pela pedra e seus detritos, assim como os defensores da cidade. No local onde ficava a passarela do muro, agora tinha uma enorme brecha que como um precipício, separava o grupo de Hegen do outro lado, onde ficava o portão. Com o impacto, os sobreviventes foram jogados no chão. Estilhaços do muro voaram e cortaram o rosto de Rolf. O braço direito de Yoshio também foi perfurado por estilhaços da explosão. Mas foi Hegen o mais afetado. Um estilhaço fino e afiado passou cortando o seu pescoço, que sangrava com intensidade. O próprio cavaleiro procurou estancar a ferida com sua túnica, e por alguns instantes acreditou que esse seria seu fim. Mas graças aos deuses, pela terceira vez no dia, sua vida havia sido poupada e o ferimento não era mortal, pois a profusão logo parou e foi estancada.
Os sobreviventes ainda tentavam se recuperar, quando Borislav chegou desesperado, para verificar se todos estavam bem. Foi quando ele viu a terrível cena de seus companheiros. Sangue e pedaços de corpos se misturavam com os sobreviventes. Hegen ainda sangrando olhou para o arqueiro. Não ouve troca de palavras, os olhares disseram tudo.
Há essa altura da batalha, o aríete de Swadia já havia violado os portões da cidade e as catapultas rasgados brechas em vários lugares da muralha. Centenas de guerreiros ensandecidos penetravam na cidade gritando e vociferando como animais. Os poucos defensores que ainda restaram, lutavam desesperadamente por suas vidas, pois o número era muito desvantajoso. Logo a fumaça dos incêndios, os gritos dos moribundos e o barulho das lâminas criaram uma atmosfera infernal dentro das paredes de Veluca. Hegel e seus companheiros observavam em silêncio o massacre ocorrendo lá em baixo. Muito dos invasores, abandonavam a investida para se atirar no saque fácil ou estuprar mulheres indefesas. Os homens estavam em frenesi macabro, e muitos não poupavam nem as crianças, que eram mortas da mesma forma que os adultos. O último bastião rhodok era a fortaleza, onde Conde Matheas estava escondido como uma raposa em sua toca. Aos poucos as forças swadianas foram se aglomerando na frente do portão que protegia a entrada. Já não haviam defensores para jogar óleo ou pedras. O tronco do aríete foi trazido pelos soldados, que prontamente começaram a esmurrar a entrada. Diante dessa cena, Hegen virou-se para seus companheiros e disse:
Hegen - Acabou, não temos mais nada para fazer aqui. Vamos deixar que os swadianos terminem essa merda!

VOCÊ ESTÁ LENDO
The Warband - Crônicas de Calradia
Fanfiction"Eu conheço sua fama. Você venceu Ragnar em um torneio na própria casa do rei do Norte. Não sei se isso demonstra coragem ou muita tolice!" Nizar falando para Hegen, que tinha conhecimento da sua história.