Capítulo 9

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Capítulo 9

Otávio

Meus colegas de trabalho tinham me visto entrar de ressaca pós sexo, logo depois ter fodido sem sentido. Em uma ocasião, eu até tinha entrado ainda meio bêbado, o que eu nunca mais faria. Eles estavam acostumados a me ver e saber que eu fiz algo na noite anterior. Eu era até conhecido por soltar os detalhes com os que eu sabia que não iriam direto para chefe do departamento. Apesar de tudo isso, levo meu trabalho a sério.

Enquanto outros cursos tinham patrocínio privado; a faculdade de humanas era a que tinha menos verba. Letras então, estava desfalcada em professores, verba para pesquisa. Bolsas de iniciação científica. A minha foi cortada e meu orientador estava tirando do próprio bolso para completarmos nosso projeto. Era estressante ter a responsabilidade de não desapontar ninguém.

Hoje, porém, eu estava em algum lugar entre estar nas nuvens e o inferno. Pela primeira vez me senti vacilante. Era notável o suficiente para Mônica me puxar para o lado, me dando aquele olhar de lado que raramente tinha sido direcionado para mim.

— O que está acontecendo? — Ela perguntou, fechando a porta do escritório.

Abri minha boca para falar, mas mesmo que ela tivesse acabado de me fazer uma pergunta, ela levantou a mão antes que eu pudesse responder. Eu calei a boca, encolhendo-me na cadeira no pequeno escritório em que estávamos sentados. — Eu vi você bêbado, acabado de sair da cama, de ressaca, e houve o tempo em que você não tinha dormido em dois dias e estava sobrevivendo de Red Bull, — ela comentou.

— E batatas fritas, — eu interrompi, mostrando a minha melhor impressão de um sorriso.

Ela não parecia impressionada, mas revirou os olhos. — Sim, uma dieta balanceada é tudo em nosso trabalho. — Houve outro daqueles olhares pontiagudos. Porra, eu não acho que poderia lidar com isso em uma base regular. Eu gostava de ser o puxa saco do professor, por assim dizer, e ser interrogado não era a minha ideia de um bom tempo.

— Ei, têm um monte de idiotas aqui, por que estou sendo interrogado — me defendi. — Tenho direito a um dia de folga aqui e ali.

— Não quando você está sendo considerado como professor-assistente, — ela me disse.

Eu pisquei para ela. — Sério?

Mônica assentiu. — A verba foi aprovada para contratação. O seu nome foi colocado na lista, provavelmente vão adiantar a defesa do seu doutorado... — Ela fez uma pausa, depois acrescentou: — Vamos acelerar o cronograma do seu projeto. Vou te ajudar a fazer uma nova planilha. Espero que esteja preparado para essa nova responsabilidade.

Eu olhei para ela por tanto tempo que ela amassou um pedaço de papel e jogou na minha cabeça. Ela suspirou, inclinando-se para trás. Obviamente tomou minha falta de resposta como uma recusa porque ela continuou: — Eu sei que quando as coisas vão rápido demais podemos nos sentir despreparados. É um grande passo; quase um rito de passagem. Pense em quantas faculdades você vai conhecer. Outros lugares. Dar palestras pelo mundo a fora. Representar o professor em simpósios internacionais. Ele quase não viaja mais por conta da idade e saúde. É uma oportunidade imperdível.

Eu olhei para ela. — Você não precisa me vender o seu plano. É o que eu sempre sonhei.

Mônica me deu um sorriso enquanto eu pegava os papéis. — Eu sei. Só estava fazendo alguns apontamentos caso batesse o medo de arriscar e pular algumas etapas. Eu sei que fazemos uma linha de acontecimentos na nossa cabeça e quando etapas são puladas pode surgir o monstro da auto sabotagem. Como dizem... quem tem cu tem medo.

— Você sabe que eu sou gay e esse ditado é um pouco ofensivo, certo? — Eu perguntei a ela, com tom de brincadeira.

— Você sabe que eu não ligo para qual time você joga, certo? — Ela replicou. — Você sabe o que eu quero dizer.

Aprendendo a ser um cachorrinho (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora