A Cada Pincelada - Tamayo x Yushiro one‐shot

A Cada Pincelada

A cada pincelada que dou em essa tela devidamente uniforme, meu coração acelera, pois a cada traço que a tinta faz no branco, gradualmente seu rosto vai tomando forma.

Sua face perfeita, igualmente ao seu ser, me deixam cada vez mais feliz, mesmo com toda a dor acumulada no resto de minha alma.
Tento lutar contra isso, mas minha obsessão fica maior a cada dia que passei sem ela.

Uso tinta roxa para pintar os olhos cujo eu amava apreciar, uso tinta preta para pintar os cabelos que tanto queria acariciar, uso um tom de bege bem claro para pintar a pele que tanto já quis tocar e uso vermelho sangue para pintar aqueles lábios que tanto já me imaginei beijando.

Sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto, sinto o sofrimento no peito.
Sinto sua falta.
E tudo isso é interrompido por uma pequena vibração, era meu celular.
Um e-mail foi enviado à mim, aparentemente minhas artes haviam ficado famosas, me queriam apresentando minhas obras em uma exposição.

Olho em volta, vejo o rosto de Tamayo estampado por todo o lugar, observo cada arte com atenção, encaro as tintas espalhadas pelo chão e caio junto a elas. As lágrimas voltam.
A beleza de Tamayo estava sendo reconhecida, seus traços delicados e leves, sua beleza magnífica e sua postura elegante, finalmente estava sendo apreciada.

Saí daquele quarto, me recompus e saí daquela casa, saí para apreciar a noite que acabara de chegar junto a lua e as estrelas.
Andava pelas ruas vazias, olhando o céu escuro, faz duzentos anos que não vejo o céu claro, tenho medo de sair até nos dias nublados, e a única luz que eu tenho é a da lua.
Sinto falta de Tamayo, de sua companhia, não tenho mais nada além de suas lembranças, além de meus quadros e chachamaru; não tenho mais nada além disso.
Paro de olhar para o céu, retiro de meu bolso o grampo que Tamayo me dera como recordação. As lágrimas voltam, as memórias voltam, tudo volta.
Me sento na calçada, cansado mentalmente, morto por dentro.
Pego meu celular e revejo o e-mail. O evento seria às oito da noite, confirmei a presença. Era algo novo, fazia tempos que não frequentava lugares com muitas pessoas.
Vejo minhas redes sociais, que choviam de notificações, curtidas e muitos comentários do tipo:

" Uau, parece uma foto! "

" Quem será essa Tamayo? "

" Que pintura linda "

" Quem pintou isso? Está muito bom! "

" Que mulher bonita "

Eu concordo, Tamayo é maravilhosa.
Me levanto da calçada e volto a minha casa, ainda com o grampo em mãos e o observando atentamente.
Fico a noite toda terminando o quadro que estava fazendo antes de sair e quando amanheceu, fui para a cama.

•❀•

Uma semana toda dedicada a fazer quadros, desenhei Tamayo de todos os jeitos possíveis, às vezes mudando o fundo, ou um pequeno detalhe, como o quanto o seu cabelo está solto, ou também sua posição.
E cada quadro era enviado à galeria, todos estavam esperando para ver quem pintava esses quadros, as pessoas estavam ansiosas, muito mais do que eu em si.
Conferia minhas redes sociais com muito mais frequência, amava comentários que ressaltavam a beleza de Tamayo, eu poderia passar o dia inteiro lendo eles.
Agora eu estou a caminho da galeria, são sete horas, acho que nunca fiquei tão nervoso na minha vida, mas era algo bom. Algo realmente bom.
Chego no lugar e me deparo com os meus quadros nas paredes, todos expostos.
Minha função apenas seria ficar ali, presente e uma hora me chamariam para uma entrevista, apenas isso, seria fácil.
Com o passar do tempo várias pessoas chegavam no local, o lugar ficava cada vez mais cheio, cada vez mais lotado, e para mim, cada vez mais agonizante, pelo menos as luzes de tom arroxeado tornavam o ambiente mais agradável.
E foi ali no meio da multidão onde eu jurei ver Tamayo de novo, aqueles olhos, aquela boca, aquela face; os meus olhos brilharam, encheram de lágrimas, fui me aproximando, passando por algumas pessoas, e chegava cada vez mais perto de Tamayo, quando alguém me toca no ombro. Era o entrevistador. Olhei para ele e voltei meus olhos a Tamayo, que já não estava mais lá. Não tive escolha a não ser ir fazer a entrevista.