Leche

I

Uma  xícara de leite, por favor — disse a voz manhosa e doce.

6:09  01/10.

Logo pela manhã a mulher gritava para seu filho acordar, estava animada pois os novos vizinhos chegariam naquela tarde e queria dar uma boa primeira impressão e os convidar para tomar um café da tarde, ou quem sabe até um jantar casual.

Jeon não estava nada animado, só de saber que os novos vizinhos tem um filho ele quis chorar, se a sua mãe lhe disse que o filho do novo morador poderia até vir jogar videogame com ele, já lhe veio na cabeça a imagem de uma criança de até doze anos, com a mão suja de chocolate barato ou doritos fazendo birra para jogar Minecraft.

Mesmo contra a sua vontade ele se levantou, mas porra pra que acordar tão cedo, férias da faculdade, ele só queria descansar um pouco, não é fácil cursar administração, por mais fácil que parecesse.

Após um demorado banho foi comer o seu cereal de chocolate, encheu a tigela com leite, era a última caixa, mirou no lixo e jogou com tudo, como um jogador de basquete acerta a cesta.

Jeon, acabou com a última caixa de leite? Como eu irei fazer o bolo agora? Sorte que eu irei fazer a compra do mês hoje, mas não conseguirei fazer o bolo a tempo, terei que servir somente a torta e um bolinho comprado! — a falou mulher com um semblante bravo enquanto encarava o café da manhã de seu filho.

Ah me desculpe, avisasse antes, sabe que eu gosto de cereal com leite — retrucou, injustiçado é como ele se sentia, é só um homem de vinte anos lutando pelos seus direitos de ficar procrastinando no período de férias todinho.

Tomou o café assistindo a primeira merda animada que achasse na tv, até que não era tão ruim o que passava, dois adolescentes fantasiados de gato e joaninha indo salvar Paris, lhe parecia um desenho para crianças inteligentes.

Lavou a tigela e a colher antes que a mãe dele tivesse um surto e foi para seu quarto, arrumou tudo, detestava seu quarto bagunçado, por isso não queria novos vizinhos, principalmente os que tem filhos, ver seu quarto bagunçado seria doloroso, até que não foi ruim acabar com o leite, indagou para si mesmo.

Deitado na cama mexendo em seu celular escutou a mãe saindo de casa, olhou no celular e era 7:30, ela voltaria pela tarde, conhecia bem sua mãe, sabia que nas compras do mês fazia questão de escolher mediculosamente cada item de seu carrinho.

Ele sabia que tinha algo para fazer, mas estava bem mais ocupado pensando naquele vídeo que assistiu pela madrugada, será que alguém um dia lhe pagaria um boquete tão bom como o do seu vídeo, só o tempo para lhe responder.

Se contentou com uma preve punheta e foi arrumar seus jogos e depois a sala de estudos, seu computador gamer pra falar a verdade, limpava as teclas com carinho, ele nunca deixaria o filho do novo morador ver o seu precioso pc.

12:12

O estômago já anunciava a fome, se direcionou a cozinha e como de costume abriu a geladeira, pegou uns legumes, e uma pequena porção de frango, refogou o frango com legumes e em seguida fez um lamén, juntou tudo e degustou de seu refinado almoço.

Ele sabe cozinhar, bem de dar inveja, mas foda-se ele está de férias do terceiro período da faculdade, somente coisas fáceis, preguiçosas para lhe ajudar a descansar o máximo que puder.

O tempo passou rápido, até sua mãe voltou cedo, ou pelo ou menos foi o que pensou ao escutar a campainha tocar, mais quando abriu a porta não era a mulher cheia de sacolas.

15:25

Oi, sou o filho da nova moradora, moramos no apartamento do lado ao seu, será que você teria... Uma  xícara de leite, por favor — disse a voz manhosa e doce.