As cores do céu pareciam um quadro lindo naqueles tons em rosa, lilás e laranja. Enquanto o sol se despedia de forma preguiçosa, o vento um pouco mais gelado me alcançava de forma tímida, alertando que talvez eu devesse ter passado tempo demais sentada naquela grama que,apesar de confortável, certamente deveria ter sujado um pouco meu jeans.
Solto uma risada internamente por pensar que se fosse há alguns meses atrás jamais permitiria que isso acontecesse, pois meu cuidado em não parecer desleixada beirava a ser um pouco exagerado.
Dei uma breve olhada ao redor, observando de forma calma e talvez até cautelosa algumas flores surgindo nos arbustos, crianças brincando e rindo de forma alegre, alguns casais conversando e trocando carinhos discretos ou pelo menos de forma comportada. Também haviam pelo parque aquelas pessoas que pareciam bem concentradas em seu próprios mundos sem precisar de companhia de outras pessoas. Algumas com livros em mãos outras meditando com fones de ouvidos, mas tambem tinham aquelas que não se encontravam com nenhum e nem outro. Algumas pessoas até já se retiravam dali, voltando, quem sabe, para suas vidas felizes ou talvez tristes, pois a realidade as vezes era massante, obscura, solitária.
Me faz pensar que esse lugar talvez fosse a válvula de escape perfeita. O local que servia para parar e respirar, escutar sua voz interior e quem sabe até bolar um novo rumo para seu futuro.
Mais de 5 anos morando nessa cidade e eu nunca vim aqui?
Por Deus, onde eu estava esse tempo todo?Ah, essa pergunta era tão difícil de responder...
De repente nem era tão difícil, mas sim incomoda a resposta.Não ser mais uma jovem estudante era algo que me assustava, ainda mais porque eu nem tinha aquela sensação tão esperada de dever cumprido.
Algumas pessoas que conviveram comigo diziam que depois de graduada seria fácil sentir que tudo valeu a pena depois de todas as noites em claro praticamente decorando as formulas, equações e probabilidades.
Administração nunca foi minha paixão, mas meus pais diziam que formação profissional não era para se ter sentimentos, mas sim certeza de que teria um bom retorno financeiro. Como eram eles que pagaram metade do meu curso até a época dos estágios e eu conseguir me manter sozinha nunca quis um debate de verdade sobre esse pensamento deles.A questão era que qualquer coisa que me tirasse da cidadezinha onde nasci eu toparia sem pensar duas vezes.
Ser crente em religiões ortodoxas nunca foi algo que me identifiquei, ainda mais sabendo que a forma de ser mulher daqueles cultos nunca seria algo que me representaria. Me sentir um peixe fora d'agua sempre foi o meu maior estímulo para buscar algo novo e sair de uma vez daquele lugar onde todos pareciam pensar da mesma forma durante décadas. Ainda lembro de, com muita briga, conseguir que meus pais me dessem um celular tecnicamente moderno, e com ele até conseguia me conectar com pessoas aparentemente com os mesmo pensamentos e questionamentos que eu.