Cruel como serpente

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Igualmente a serra cortando os legumes postos ao redor da carne de cordeiro, as pupilas densas invadem a minha privacidade, dilacerando-me com uma sensualidade fora do normal. Jungkook está fazendo o máximo nos mínimos gestos para me provocar. Ou pode ser, que eu esteja apenas sexualizando cada um dos seus movimentos mais triviais. 

— Estranho… Você não costuma ficar calado por tanto tempo. Está fazendo o jogo do silêncio ou esperando que eu tome a iniciativa? — puxo assunto, relembrando a tagarelice que o Jeon pratica quando está com alguém que o "serve". Sempre nos lembrando de sua divindade e que perto dele, somos reles mortais.

— Impressão sua. Não sou muito de falar. É você quem presta muito mais atenção no que eu digo, do que no que está a sua volta. — detecta friamente. Ele resgata uma taça de água para se refrescar. Claro, a comida daqui é extremamente apimentada e temperada. Uma boa experiência para o meu paladar sem sombra de dúvidas, mas próxima de quem estou, meus sentidos ficam menos aguçados para os pratos. 

Realmente, eu presto atenção em demasia no Jeon.

Me sinto uma traidora das minhas próprias opiniões. Jungkook jamais poderia ser alguém atraente pra mim. Ele é cafajeste e criminoso. Cruzes!

— Deve ser porque não são sempre coisas agradáveis aos meus ouvidos. — toco pela primeira vez no meu garfo. Já estou na sobremesa: uma apetitosa torta de doce de cupuaçu com queijo do reino e muito suspiro. Apenas pelo cheiro posso detectar que tem um primoroso sabor.

Mal soube processar o jantar. São tantas novas informações para o meu paladar, que me sinto em êxtase. Nunca comi coisas tão boas em toda a minha vida. A minha comida é borrachuda e sem graça, graças a minha mãe, que cozinhava tão bem quanto me amava. E olha que ela fugiu com um boliviano pro Panamá quando eu tinha uns dez anos.

— Eu daria tudo para que fosse mais direta comigo. Não tenho idade pra ficar brincando, Gina. — limpa a boca com o anelar, passando pelo lábio mais baixo e enxuto, vagarosamente. Jungkook ajeita o cabelo logo após e suspira, exausto com o meu jogo. — "Dread Game" me cansa tanto... — usa sua gíria descolada que eu nem mesmo faço ideia do que significa, mas deduzo que seja a minha forma ríspida de rejeitá-lo.

— Não estou jogando com você. Olha, nem todas as mulheres te querem. Talvez as do seu meio, e é a elas que você deveria estar "cortejando" com essa intensidade. — transito com o talher pela lateral da fatia e levo o creme até a minha boca, sentindo um forte envolvimento do meu paladar no doce.

Arquejo involuntariamente, espremendo os lábios em um lapso de sensações distintas.

— Assim você me fode... Posso te dar prazeres e gemidos tão melhores que esse... — faz-me endireitar as costelas e endurecer as juntas no mesmo momento. — Foi uma observação. — sorri, servindo-se do último gole de Jack Daniel's da noite.

×××


Nem o sol que enfraquece minhas retinas em plenas nove e trinta da manhã, é capaz de desfocar a atenção que tinha para a preparação da casa por Jungkook lá embaixo. Orientando os subalternos e escravos… Digo, empregados sem nenhuma norma trabalhista a ser seguida em seu registro, para que tudo saia perfeito como ele gosta. Claro que, seu tom de irritação é notável há todos que passam pelo homem. O olhar ríspido, as olheiras acentuadas e a postura mais fixa e dura que o costumeiro, lhe entregam. É a típica fisionomia do homem que não está nada contente com sua derrota.

Do alto das minhas janelas, estou protegida de tudo, menos de seu fitar que se torna mais tórrido do que o próprio astro-rei. Estava certo que meio quilo de palavras fariam-me desmontar e me jogar aos seus pés. Implorar por uma migalha de uma foda quente com ele.

SÁDICO - Jeon Jungkook (Narcotráfico) +18Onde histórias criam vida. Descubra agora