Eu pedi tanto para não ir embora.

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 Já se passavam das onze da noite, e quem olhasse para os céus poderia ver faixas cinzas voando pela escuridão. Ele não se cansava, não poderia se permitir sentir cansaço antes de chegar até o local combinado. A euforia escondida dentro de si guardava uma saudade absurda dos tempos em que Aizawa acordava desejando fitar os cabelos pretos misturados com as orelhas no topo da cabeça enquanto os olhos verdes abriam vagarosamente para lhe dar bom dia.

Quando contou a Yamada sobre o chamado de Kat, o loiro não se conteve em querer acompanhá - lo, mas na mensagem descrita no bilhete que Hawks o entregou dizia para o homem ir solo, o que deixou Hizashi triste, porém compreensível, já que entendia mentalmente que comparar o sentimento que ele tinha pela menina gato com o que Aizawa e ela viveram era idiotice.

O lado leste de Musutafu era rodeado por dezenas de prédios e milhares de janelas, mas o herói não se perderia tão fácil, já sabia por onde tinha que ir. Foi então que ele sentiu o forte odor de morango, e somente ela tinha aquele cheiro, era o feromônio dela. Aquele odor convidativo e hipnotizador que uma vez esteve soando em seus braços e se misturando com o seu, algo que somente ele tinha.

Mas que agora não o pertencia mais, desde aquela noite há cinco anos atrás que Kat decidiu abandonar a escola e deixar tudo no passado.

Ninguém imaginaria que a doce, gentil e carinhosa professora Kat desistiria do heroísmo e se juntaria a liga dos vilões, que hoje em dia era comandada por ela e Shigaraki. Depois de ver sua prima, Nemuri, morrer em sua frente, a cabeça da menina se tornou um vendaval, onde só existia remorso e culpa, e aquilo a torturou por dentro a ponto da mesma perder a empatia por si mesma e por qualquer outra pessoa ao seu redor.

Estar na yueei era doloroso sem Nemuri, e nem o amor que ela sentia por Eraser a convenceu a ficar naquele lugar. Sua prima era como sua segunda irmã, e a culpa que ela carregava a machucava mais do que a opinião dos outros. Além da própria mente, seu psicológico não aguentou escutar de seus próprios tios que ela era a culpada da morte de Nemuri, já que segundo ao noticiário, Kat estava ao lado da mais velha e teria como levá - la até um hospital em tempo.

Ver o mundo perder empatia por você e te culpar parece pior do que aguentar suas próprias julgamentos, e a dor foi tanta que Kat abandonou Yueei, com o pensamento de nunca mais voltar. Mas naquele momento, Aizawa a encontraria novamente, e só isso importava para ele.

O cheiro ficou mais forte na quinta esquina ao lado leste de Musutafu, onde indicava o endereço. Precisamente, na janela do segundo andar de um prédio escondido e praticamente abandonado, onde Aizawa prendeu a fita na grade da sacada se pendurando e subindo com as mesmas até alcançar o chão da varanda, encontrando a sua frente uma porta de vidro fumê coberta por uma cortina branca pelo lado de dentro.

Devagar, o herói abriu e a mesma que fez um barulho baixo agudo pelo atrito do ferro já envelhecido pelo tempo. O cheiro forte de morango adentrou pelas suas narinas e ele sorriu de lado sentindo que seus olhos encheram d'água, talvez pela saudade que sentia ou pelo sentimento de que iria finalmente vê - la de novo.

Fungando rápido, ele levantou o rosto, vendo a silhueta da mulher metros a sua frente, do jeito que observava sempre em seus sonhos. Uma luz roxa acendeu de supetão, revelando a felina sentada na ponta da cama por cima de um cobertor branco, em sua mão direita ela portava um cigarro já manchado pelo batom cor de vinho na ponta.

— Olá, Eraser.— A voz da gata parecia calma e plena.

— Olá, Kat.— Respondeu sentindo suas mãos suarem, soltando as fitas que retornaram automaticamente ao tamanho normal, envolvendo o pescoço do mais velho.

A noite que tudo se foi.Onde histórias criam vida. Descubra agora