Naquele momento, Paul Connolly segurava o rosto entre as mãos enquanto tentava controlar a respiração. Aquele gesto parecia doloroso, Lucy não entendia o que o deixava daquele jeito, mas estava dividida entre a raiva e o alívio de encontrá-lo debaixo daquela grandiosa árvore.
— Lucy... — ele grunhe entre dentes, deixando-a parada e surpresa pelo conhecimento de sua presença. — Não deveria estar aqui, eu mandei...
— Uma carta — afirmou melancólica. Seus olhos, agora encharcados de lágrimas, quase lhe cegavam enquanto paços tímidos a levaram em direção a Paul. Ele, no entanto, continuava na mesma posição, como se tentasse controlar a sua fera interior a cada passo que que ela dava em sua direção. — Não entendo o apresso que sente por essa árvore. Sinto que a ama mais do que a mim.
Ele não fala nada, continua com a respiração cada vez mais acelerada, algo nele não soava verdadeiro. Aquele gesto parecia mecanizado.
— Hoje seria o dia que você pediria a papai minha mão. — ela continuou, visto que aquele homem não tinha comentado nada prosseguiu sentindo a raiva sucumbir. Os olhos perigosos queriam parti-lo em pedaços. — Mas o que vejo quando acordo é uma carta sua dizendo que estava cometendo uma loucura? Eu me entreguei a você! Você disse que tinha sentimentos por mim e...
— ... Está sangrando.
— Pouco importa meus ferimentos! — ela altera o tom enquanto as lágrimas desciam em cachoeiras por suas já tão coradas bochechas.
Entretanto, a ação dele a fez segurar a boca por um tempo. Paul retirava tão rápido quanto o vento seus sapatos e jogavam em direção a Lucy que ficou abismada o suficiente para não reparar a angústia do rosto do homem a sua frente.
— Eu me importo. — Sua voz acalenta a sensação terrível, mas ela não se move um centímetros para pegar o calçado. — Use-os, por favor... Pelo restante de apresso que ainda sente por mim.
Ele suplica. Lucy, sentia-se fraca o suficiente para fazer o que aquele homem estava pedindo e demorou poucos segundos para fazê-lo. O calçado ainda estava gelado, mas o macio do solado ajudava a diminuir a dor. Por isso, não se impetou tanto.
— Todas as cartas do mundo não mudariam o que eu sinto. Eu não o apresso, eu o amo. — apertou os lábios com força, seus olhos esbugalhados e bochechas coradas fizeram Paul encara-la com tristeza. Com a carta ainda em mãos Lucy começa a amassar o pedaço de papel para depois joga-lo em direção aquele homem. — Por que, por que me manda uma carta tão cruel quanto esta? Por que está me deixando? Não me ama mais?
— É por que a amo que estou indo embora da sua vida, senhorita Hunter. Não espero que entenda, por isso mandei a carta.
— Seria mais fácil descartar-se de mim por algo tão fútil? É tão covarde que não consegue me dizer isso enquanto olha nos meus olhos?
Antes mesmo que o vento soprasse seus fios de cabelo, Paul já estava em pé e tão perto. Ela ficou ofegante, de repente o oxigênio que entrava em seus pulmões não era mais suficiente. Os olhos profundos, o queixo quadrado e a pele tão alva do homem a sua frente lhe levavam a uma direção sombria, uma que que no fundo sabia que não viveria para vê-la.
— Sim. — Ele afirma, mas o que este homem estava afirmando? Lucy já nem lembrava-se sobre o que falara antes. — Iria embora sem falar com você, sem ao menos tocar uma última vez seus lábios. Temia que não conseguisse forças para ir embora se fosse pessoalmente informar minha decisão.
Ele já estava agachado o suficiente para dizer aquelas palavras enquanto roçava sua boca na de Lucy. Seu dedo indicador acariciava a bochecha dela e os corpos chegavam cada vez mais perto um do outro. Se sentia quase rendido a pele quente de Lucy, aos sentimentos que ela emanava de seu corpo. Que o fazia arder em chamas.
Ela fechou os olhos quando finalmente embriagava-se do sabor dos lábios de Paul Connolly. Ele envolveu o braço esquerdo em volta da cintura dela e a fez flutuar. No entanto, o breve contato durou pouco, ele já se afastava, parecia pedido quando seus olhos confusos encaravam a senhorita Hunter.
— Não quero machuca-la. Por isso, me deixe ir embora antes que eu faça alguma insensatez.
— Já fez isso quando mandou-me aquela carta. — Tentava inspirar fundo para recuperar o fôlego, não entendia o motivo de tanta fraqueza, mas olhava para o homem a sua frente e então percebia. — Por que seus atos dizem uma coisa e suas palavras dizem outra? Sei que me quer tanto quanto eu o quero, mas por que está fugindo de mim de novo? Pensei que já tínhamos superado isso.
— Eu não quero machuca-la...
— Não entende que já estou machucada, mais do que isso, estou destruída. Por que está fazendo isso? Me diga!
— Quer viver com um monstro? Por que é isso que sou, um monstro! — Aquele rosto que a segundos atrás parecia tão angelical torna formas assustadoras. Seus dois caninos extrapolam os lábios, os olhos ficam vermelhos e Lucy só percebeu que estava prensada contra a árvore mais antiga do local quando sentiu as mãos fortes dele lhe apertar os braços.
Esbugalhou os olhos, mas não deixou de encarar os dele. As pernas estavam bambas, não reconhecida o homem que amava naquela máscara desfigurada.
Ele era uma figura das trevas? Lucy não conseguia acreditar, afinal eram só histórias.
Paul encarou um único ponto, se aproximou dele com lentidão e quando chegou ao pescoço dela, sem que a tocasse diretamente, inspirou o perfume que tanto desejou tê-lo. Connolly estava prestes a sugar a força vital de Lucy, ela sentia aquilo, mas não estava com medo.
“Por que não estava?” – Paul ainda conseguiu se perguntar.
— Eu sinto seu sangue pulsar, Lucy. Por que não tenta fugir antes que eu possa cravar meus dentes em seu pescoço? — Paul solta um dos braços que a prensava numa tentativa inútil de fazê-la perceber que estava dando uma brecha para fugir antes que os instintos dele tomassem conta do corpo inteiro.
Continua...
N/A: eae pessoal! Cês gostaram desse capítulo? Espero que sim. E ah, não se esqueçam da estrelinha, eu ficaria muito feliz de ter um voto de vcs❤️