Parte 1.

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[S/N] andava pelas ruas monótonas de Tokyo com uma certa presa, pois estava impaciente para chegar ao seu compromisso. Desviava das pessoas como se elas fossem "tóxicas" demais para encostarem em si na sua corrida frenética - apesar de não está propriamente correndo e sim andando rapidamente. Amaldiçoou a existência de cada ser humano que esbarrava por conta do seu óbvio descuido, porém tentava ao máximo se controlar para não xingar ninguém e acabar estragando aquele seu dia que prometia ser perfeito.
E perfeito, por que? Ora, depois de cinco longos anos iria reencontrar seus dois amigos de infância e isso lhe deixava extasiada demais. Era uma tarefa nível hard ter que controlar o seu impulso de sorrir do nada, entretanto não queria pagar o mico de ser a "boboca sorridente" da metrópole.
Portanto, [S/N] guardou aqueles preciosos sentimentos dentro do seu coração e focou em caminhar depressa para chegar ao seu destino.
Havia combinado de encontrar, Ran e Rindou - os irmãos Haitani - em um restaurante de lamén para um tranquilo almoço. Ansiava por aquele programa a muito tempo, desde a época em que partiu da casa ao lado dos rapazes para ir morar em Quioto.
Os irmãos Hatani eram seus vizinhos e além de grandes amigos de [S/N]. Conhecia ambos desde que eram crianças comedoras de terra do playground do bairro. Mudou-se por conta do trabalho do seu pai que recebeu uma promoção e isso foi um banque para a garota que ficou desolada por ter que abandonar a única vida que conhecia.
Sua vida era ali, naquele bairro situado em local meio isolado com Ran e Rindou ao seu lado. Depois da morte da sua mãe, [S/N] sabia que seu pai fazia de tudo para lhe dar uma vida confortável e aquela mudança era prova do seu esforço para criá-la com afinco. Diante disso, a jovem acatou a decisão sem protestar, apesar de querer desmoronar em lágrimas. Contudo, a felicidade do seu pai vinha em primeiro lugar...
Quando contou para os irmãos, eles ficaram pensativos com aquele assunto. Até em momentos tensos, eles tinham uma perfeita sincronia como se fossem apenas um só. E foi nesse vislumbre de instante que [S/N] descobriu está apaixonada por eles. A ideia de deixá-los era tão absurda que apertava o seu coração e a deixava desolada. Era como se uma parte de si ficasse ali dívida em dois para os dois irmãos.
Todavia, seria mesmo possível gostar de duas pessoas ao mesmo tempo?
Essa dúvida martelava na mente de [S/N] lhe provocando intermináveis pesadelos. Ao chegar a véspera da sua partida, procurou Ran e Rindou no seu habitual ponto de encontro para se despedir. Contudo, ao chegar lá, não encontrou nenhum dos dois. Isso deixou a garota de coração partido. Então, era essa a importância que tinha na vida deles? As amargas lágrimas caíam impiedosas no frágil rosto da jovem que foi embora sem olhar para trás.
Depois da sua partida, [S/N] recebeu uma carta de Rindou explicando os motivos deles não terem comparecido ao local. Por mais que doesse profundamente, ela entendeu e também estava cansada de saber o quanto os garotos eram orgulhosos demais para demonstrarem seus reais sentimentos.
Os anos passaram... E agora eles não eram mais adolescentes. Ela deixou de ser aquela garota magricela e se tornou uma bela mulher madura.
A paixonite pelos irmãos Haitani ainda estava intacta em [S/N]. Amava os dois e se qualquer um deles quisesse "aprofundar" a amizade, ela não negaria. Ou melhor, se os dois quisessem... Ah, esse pensamento deixava-a extremamente excitada.
E será que como eles estavam? Decerto, mudaram muito a sua aparência, já que ambos adoravam mudar o visual em decorrência da sua delinquência. Isso deixava [S/N] ansiosa e foi de supetão que notou que já havia chegado no local marcado.
Ela respirou profundamente e ajeitou seu vestido vermelho caríssimo, antes de adentrar no estabelecimento de aparência familiar. Olhou em torno, estudando o ambiente: era um restaurante de lamén muito simpático, tinha uma cozinha aberta para que os fregueses assistirem a preparação dos alimentos e várias mesas cobertas por toalhas com estampa xadrez nas cores laranja e azul.
Tudo ali era agradável, não tinha muitos clientes naquele momento e o cheiro da comida era delicioso.
- O QUE VOCÊ DISSE, SEU MERDINHA!? - [S/N] escutou uma voz familiar vociferar de modo irritado e arregalou os olhos ao reconhecer Ran segurando o colarinho de um funcionário, enquanto o ameaçava com um punho.
- Se você não quiser morrer agora, acho bom soltar o meu irmão. - um rapaz com uma vasta cabeleira ruiva falou com um sorriso sinistro nos lábios.
Mas que depressa, [S/N] correu em direção a aquela confusão sem antes analisar a situação.
- Não precisa se intrometer, irmão. Sozinho eu deito esses dois na porrada! - um rapaz parecido com o ruivo, porém de cabelos azuis, exclamou bravo e era muito perceptível a véia saltando em sua testa.
- Para isso acontecer, o neném vai ter que chorar. - Rindou caçoou com um sorriso debochado e cruzou os braços de costas para o balcão.
[S/N] ficou boquiaberta ao vislumbrar aquele ato. O seu pequeno Rindou estava de terno azul escuro e com aquele cruzamento de braços salientava os seus músculos. Aquilo quase lhe provocou um infarto... O Haitani deixou o cabelo crescer e aparentemente usava lentes de contato, pois o seus óculos não faziam mais parte do seu vestuário.
- Quer que eu te faça chorar, Angry? - Ran indagou com o tom de voz irônico, enquanto o azulado rosnou em protesto.
Ran não ficava atrás... Também vestia um terno de cor cinza escuro e usava um brilhante relógio dourado no pulso direito. Seus cabelos estavam mais curtos e penteados para trás, deixando-o com uma aura extremamente sexy. [S/N] só poderia agradecer ao céus pelo útero abençoado da matriarca Haitani.
- Eu... Vou... Te... Matar. - o rapaz falou entredentes e tentou se soltar, dando um impulso para trás.
Ran acabou por soltá-lo e o desconhecido acabou cambaleando em direção a [S/N] que caiu com o impacto do corpo masculino.
- Aí. - ela gemeu de dor, enquanto massageava o seu cotovelo que chocou contra o piso.
- V-Você está bem, moça? - o rapaz de cabelos azulados indagou com um semblante preocupado, enquanto tentava ajudá-la a se reerguer.
Ela reparou o quanto aquele cara era lindo. Seus cabelos cacheados tinham a estranha cor azul que combinava com os seus olhos. E apesar de não sorrir, ele tinha uma espécie de encanto peculiar que fazia o seu coração palpitar.
- [S/N]? - Rindou perguntou atônito, despertando a atenção dela, ao olhar a garota que acabava de se levantar do chão com o auxílio do jovem funcionário. - É você?
- É claro que é ela, irmão! - Ran respondeu com impaciência e marchou com passos duros até onde ela estava. - Tira essas mãos imundas dela. - ele acrescentou entre dentes, pegando o braço de [S/N] e puxando o seu corpo para perto de si. Imediatamente, uma corrente elétrica passou pelo corpo da garota ao sentir aquele simples toque em sua carne.
- Chega de briga! Acho bom vocês merdinhas darem o fora daqui. - a versão ruiva do rapaz de cabelos azulados proferiu em tom de voz alto e gesticulou para a saída. - Sumam daqui, seus ratos. - continuou sorrindo alegremente.
- Isso é jeito de tratar seus clientes, Smiley? - Rindou questionou com um sorriso debochado e posicionou ao lado de [S/N]. A essa altura, o coração da garota estava batendo loucamente em seu peito por ter cada irmão ao seu lado.
Foi durante várias noites que sonhou em tê-los por perto. E agora que finalmente aquele sonho estava realizado, era surreal a forma em que estavam se metendo em uma briga. Era como antigamente em que Ran e Rindou ficavam entrando em conflitos com gangues. Isso mostrava que nada havia mudado em relação aos dois e querendo ou não, [S/N] ficava feliz por isso.
- Dêem o fora agora. - o ruivo falou autoritário sem retirar o sorriso de seus lábios.
- Nós vamos mesmo, esse restaurante é de quinta categoria. - Ran retrucou com desdém e virou-se puxando a garota pelo braço em direção a saída. - Vocês tiveram muita sorte que a [S/N] chegou, senão estariam muito fudidos.
- Como é que é? - o azulado gritou rispidamente, querendo pular no pescoço de Ran, mas foi detido pela sua versão que o segurou pelo antebraço.
- Deixe esses lixos irem, Angry. Cão que late, não morre. - ele proferiu sorridente, deixando os irmãos Haitani com o cenho franzido. - E você - ele encarou [S/N]. - Deveria escolher melhor os seus amigos.
Dito isso, o ruivo puxou o azulado pelo braço para dentro de algum cômodo do restaurante, sem dar a chance dos outros falarem alguma coisa. O rapaz mostrou o dedo do meio para Rindou e Ran antes de desaparecer.
- Mas o quê... - [S/N] não terminou de falar, pois Ran a puxou bruscamente para a saída, enquanto Rindou os acompanhava com as mãos dentro do seu paletó.
Os poucos clientes que ali estavam presentes assistiam tudo aquilo com uma expressão chocada e a garota sentiu suas bochechas queimarem de vergonha pelo show que deram.
- Espera! - [S/N] gritou em plenos pulmões, após saírem do recinto e terem chegado a calçada. Os irmãos Haitani olharam em sua direção, principalmente Ran que estava mais próximo por ter sua mão depositada no braço da garota. - O que foi aquilo? - ela perguntou pausadamente com uma expressão encabulada no rosto.
- Aquilo o quê? - Rindou rebateu com outra pergunta de forma um tanto ríspida, deixando a jovem intimidada.
Mas, ela não poderia se dar ao luxo de ter as mesmas atitudes do passado. Por mais que estivesse realmente mexida por está com eles, tinha que tomar postura. Diante disso, [S/N] soltou-se do aperto firme de Ran, ajeitando o seu cabelo longo e colocou as mãos na cintura para demonstrar a sua indignação.
- Falei grego? Que merda foi aquela no restaurante? - ela indagou com o cenho franzido, sem se preocupar em ocultar a sua fúria. Odiava aquele lado agressivo dos rapazes em sempre arrumarem briga em todo lugar que iam. Imaginava que eles tivessem amadurecido depois de tanto tempo separados, entretanto pelo visto estava completamente enganada. - Por que estavam brigando com os caras do restaurante? - acrescentou, alternando olhares com os dois.
Ran bufou irritado, passando as mãos pelas madeixas em um ato de impaciência. Já Rindou fez sua melhor expressão de paisagem e como melhor interlocutor, tratou de imediato de explicar o ocorrido.
- A gente teve um desentendimento no passado com eles. - Rindou proferiu secamente. - Não sabíamos que eles eram donos desse muquifo.
- Eles dão muita sorte, se fosse antigamente eu limparia o chão com os gêmeos Kawata. - Ran falou nervoso. [S/N] arregalou os olhos ao escutar os dizeres absurdos do Haitani e franziu o cenho.
- Como é que é? Nada de violência, ok? Vocês já estão bem grandinhos para meterem em encrenca! - ela exclamou brava, surpreendendo os dois indivíduos pela atitude.
   - Opa, calma aí...
   - Calma nada, vocês praticamente estragaram o nosso encontro. - [S/N] interrompeu a fala de Rindou com rispidez. - Acho bom vocês me compensarem muito bem.
   - Quer uma compensação? - Rindou questionou e ela assentiu afirmando com a cabeça. - Então, vamos para um lugar.

{...}

  - Uau! - [S/N] exclamou boquiaberta, observando a bela vista panorâmica da cobertura de um luxuoso prédio. - É sério que vão morar aqui? - ela indagou, após descolar o rosto da vidraça da grande janela e encarar os dois homens.
    Ran estava sentado de pernas cruzadas no amplo sofá de canto, afrouxando a gravata e meneando a cabeça afirmando. Rindou riu da euforia da garota, enquanto servia três copos de uísque no bar instalado no canto da sala.
     Eles estavam no novo apartamento dos irmãos Haitani, [S/N] ficou maravilhada com o lugar onde os dois moravam. Era tudo extremamente chiquérrimo e de ótimo bom gosto, aparentemente eles trabalhavam no mercado de ações e ganhavam um salário generoso com os seus investimento.
    O luxo era evidente naquele ambiente: a sala era gigantesca com móveis top de linha e tinha um bar muito bem equipado de várias bebidas em uma das extremidades. [S/N] ainda não conhecia os outros cômodos, mas não tinha muito interesse nisso, pois a sua atenção estava em Rindou que lhe entregava a sua bebida.
    - O-obrigada. - ela agradeceu envergonhada, aceitando de bom grado a bebida oferecida pelo rapaz e logo bebericou um gole do líquido.
     - Os anos lhe fizeram bem, [S/N]. - Rindou murmurou de forma casual, colocando uma mecha do cabelo da garota detrás da sua orelha.
    De imediato, ela corou violentamente com o ato inusitado e por instinto deu um passo para trás, derramando um pouco do uísque no chão. Seu coração estava acelerado e [S/N] não sabia como lidar com tudo aquilo até escutar a risada sonora de Ran. Seus olhos foram de encontro ao homem sentado no sofá que esbanjava um sorriso debochado.
    - Parece que a [S/N] ficou nervosa por algum motivo. - Ran proferiu levantando-se do estofado, segurando o seu copo e caminhou lentamente até a garota que travou no mesmo lugar. - Pensei que fôssemos amigos o suficiente para deixar de lado algumas formalidades.
    - Acho que a [S/N] não quer ser tão íntima da gente, Ran. - Rindou falou em tom de falsa mágoa e logo bebeu um pouco do seu uísque.
    - O q-que? N-Não é nada disso. - ela tratou de tentar se explicar, mas em resposta recebeu um olhar desafiador dos irmãos.
    - Não é? Então quer dizer que somos íntimos? - Ran perguntou tombando a cabeça de forma sexy. A sua camisa social estava meio aberta, exibindo a sua bela clavícula para o desespero de [S/N] que não conseguia tirar os olhos dali.
    - C-Claro que somos. - a garota murmurou com dificuldade, sentindo uma estranha falta de ar, que aumentou ao ver Rindou se aproximando de si.
     Sem saída, ela caminhou para trás e logo chocou-se de encontro a vidraça da janela. [S/N] arregalou os olhos ao perceber os braços musculosos de Rindou em cada lado do seu corpo, bloqueando qualquer rota de fuga.
    O rapaz lhe direcionava um olhar penetrante que fazia o coração dela acelerar e quase sentiu um infarto ao vê-lo abrir um singelo sorriso misterioso.
    - O quão íntimos nós somos dela, Ran? - Rindou indagou em tom de voz alto. Como a atenção da jovem estava concentrada no Haitani a sua frente, ela não notou que Ran estava parado ao seu lado até ele se abaixar e beija-lhe a bochecha rapidamente.
    - Acho que somos próximos o suficiente para fazer uma brincadeira a três.

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⏰ Última atualização: Aug 16, 2021 ⏰

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Brincadeira á três - Irmãos HaitaniOnde histórias criam vida. Descubra agora