01 | Só tinha que ser com você

250 22 170
                                    

-ATENÇÃO-

Esse capítulo contém: Comportamento familiar levemente abusivo, Hanji com pronomes femininos, vergonha alheia de BR que paga pau pra gringo, conteúdo não revisado (desculpa, queria publicar isso logo), um alemão com procedência mais duvidosa do que salsicha e aproximadamente 8k de palavras até o momento que estou escrevendo essa lista de avisos.

Leia por sua própria conta e risco.

----------

O dia começou como que para ser assim, só mais um dia qualquer de fevereiro.
O sol nem havia nascido quando despertei. As cigarras ainda cantavam no terreno ao lado, tal qual as caixas de som bar do seu Jorge que fica em frente à nossa casa, que emitiam o som auto e quase ensurdecedor da noite do pagode, que se estendeu para madrugada e quase se transformava em dia.
Mesmo me mudando para essa rua à pouco tempo atrás, tais coisas já se tornaram familiares para mim. A verdade era que esse era um tema universal, presente em todos os lugares que já vivi, e provavelmente estará presente em todos os próximos que viverei.

Assim como o familiar som do meu despertador particular, um oferecimento das minhas responsáveis, que não conseguiam acordar de maneira silenciosa e harmônica como qualquer outra família normal.
Era sempre uma correria, minha mãe brigando com minha tia por algo que nenhuma das duas fez, porém nenhuma das duas assumiria qualquer responsabilidade.
Mesmo essas sendo uma situação recorrente, algo em mim nunca se acostumou com essa situação. E esse algo fazia com que eu sempre acordasse de mal humor.
Não o tipo de mal humor que se resolveria com uma xícara de café, ou um banho quente. Era o tipo de mal humor que só se resolvia com música.

A algum tempo atrás, aprendi com uma professora que a música que nos escutamos influência diretamente no nosso estado de espírito.
Se ouvimos músicas tristes, ficamos tristes. Se ouvimos músicas religiosas, nos sentimentos em comunhão com Deus. Se ouvimos músicas animadas e alegres, ficamos animados e mais dispostos.
E é por isso que meu corpo acordou suplicando por alguma dose de música pop japonesa. Podia não ser meu estilo favorito, porém ajudava muito nessas horas onde eu precisava induzir algum tipo de sentimento positivo e motivador.

Esse seria meu primeiro dia de aula, em uma escola nova, com gente nova, em um lugar diferente.
E eu prometi pra mim mesma ser uma pessoa diferente dessa vez.
Para quem sabe, não passar mais um ano sozinha, e não afundar mais ainda no isolamento social. Tal qual já fazia parte de mim, porém, eu queria viver algo diferente.
Fazer amigos, sair para bater perna, virar a madrugada acordada em ligação ou simplesmente tomar uma casquinha no Nova América. Nada demais, apenas algo que qualquer um da minha idade já está mais do que familiarizado.

Mas se eu quisesse que qualquer um desses desejos se realizasse, eu teria que tomar alguma iniciativa. E o um bom primeiro passo seria começar a me arrumar o mais rápido possível. Já que perdi um tempo considerável sentada na ponta da cama olhando para o escuro e profundo vazio do canto do meu quarto, despertando aos poucos e lentamente.

Então levantei, peguei minhas coisas e segui ao banheiro. Tentando me preparar psicologicamente para mais um banho gelado que eu teria de tomar, graças à resistência que inventou de queimar em uma semana onde ninguém teve tempo de concertar.
Minha mãe disse que iria pedir para minha tia concertar, minha tia disse que não tem tempo e que minha mãe quem deveria concertar, e o ciclo caótico continua, até uma delas ceder ou até que eu desista e procure um jeito de resolver sozinha.

Não era horrível, apenas extremamente desconfortável. Como se eu estivesse tomando um banho de chuva. O que seria bom, se eu ao menos gostasse de chuva.

Burguesinha Onde histórias criam vida. Descubra agora