Pressure

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Camila Cabello, Janeiro, 13, 14:35.

Me diz por que eu deveria lutar por algo inexistente? Por que eu deveria sorrir e agradecer por coisas que eu nem consigo sentir?


Pesadelos. Era apenas isso que eu conseguia ter quando meu corpo finalmente cansava de funcionar e eu dormia, sonhos exaustivos e esquisitos sobre um mundo de sombras onde eu sempre estava prestes a ser engolida, gritos altos e estridentes ecoavam naquele lugar que eu infelizmente conhecia como a palma da minha mão, cada sombra e cada arrepio não me assustavam mais como faziam quando eu tinha 7 anos. A parte mais difícil de noites ruins é sempre levantar da cama e existir como se eu já não estivesse mais tão mal quanto antes, minha mãe não precisava de mais essa preocupação, não precisava saber que sua filha, por quem ela daria a vida, só pensa em formas diferentes de acabar com a própria vida.

Me forcei a sair da cama e vestir as roupas de sempre, roupas largas e compridas que impediam qualquer visão mais detalhada do meu corpo, corpo esse que estava sempre repleto de cicatrizes e hematomas que surgiam após crises. Assim que termino a última etapa de uma manhã sufocante desço de encontro a minha mãe na cozinha cantando e cozinhando, o bom humor dela conseguia aquecer pelo menos 1% de qualquer frieza que existia em mim.

 - Bom dia Mama. - disse me aproximando da mulher em frente ao fogão lhe dando um sorriso fraco após um rápido beijo meu ser deixado em sua bochecha.

- Bom dia mi hija. - vejo seu sorriso caloroso lançado em minha direção e seus olhos sempre com o mesmo brilho alegre, um brilho que muitas vezes eu sentia inveja por não conseguir ter. - fiz panquecas de bananas pra você, pra deixar seu dia mais alegre. - Minha mãe terminou a frase com um sorriso maior ainda deixando um prato com panquecas de banana e pedaços de banana e mel formando uma carinha feliz em cima, observei aquilo com um sorriso um pouco maior mas, diferente de felicidade, um nó se formava em minha garganta.

Eu tentei ignorar qualquer sensação ruim e apenas me concentrar nas panquecas, minha mãe fazia elas pra mim desde que eu tinha 7 anos, após minha primeira crise mais especificamente. Minha mãe sempre tentou se manter positiva perante minha depressão e ansiedade, sempre achando formas de me fazer sorrir ou me distrair pra que, por um momento, eu pudesse experimentar uma dose de felicidade. As panquecas eram a forma dela me dizer "eu estou com você pra sempre", toda manhã eu tenho as panquecas e o bom humor dela contagiando o ambiente, mas toda manhã me sinto má por fingir estar melhorando e lhe dando falsas expectativas de que eu poderia me curar.

Após terminar de comer e tudo estar lavado, subo para meu quarto tendo cada passo meu observado por Sinuhe com uma certa tristeza, por mais que eu saiba que me isolar em meu quarto possa ser prejudicial e agravar ainda mais minha situação ali era meu canto seguro, onde eu poderia apenas colocar meus fones e fugir por alguns minutos da minha realidade sufocante em algum perfil do tumblr.

"Constantemente me sinto afundando em um oceano sem conseguir nadar pra superfície, vendo pessoas passando o tempo todo e me vendo afundar, mas, ao invés de me puxarem pra fora apenas olham. Não os julgo pois, pessoas que tentam me fazer subir e sentir pelo menos uma vez meu pulmão receber o ar que deveria receber, acabam se afogando também, acabam submersas em um oceano que nunca tiveram que se preocupar, eu afogo pessoas inocentes."

assim que termino de escrever sinto minhas bochechas molhadas pelas lágrimas que surgiam cada vez que eu me lembrava de como era doloroso estar assim. Meu peito ficava pesado a cada dia mais, meu corpo ficava trêmulo e eu sentia meus órgãos se colapsarem dentro de mim todos os dias, talvez eu estivesse mais submersa do que pude perceber...

após alguns minutos chorando meu corpo apenas se cansou novamente e eu adormeci, eu não tinha muitos sonhos bons então dormir também era algo que me assustava, em alguns deles eu tinha que correr de alguém tentando me matar ou tinha que me defender de alguém tentando colocar as mãos em partes onde apenas mãos permitidas poderiam tocar, em todos os meus sonhos eu gritava o mais algo que eu podia, gritava ate meus pulmões implorarem por ar e, ainda assim, nenhum som saía, eu não era permitida gritar nem na minha própria cabeça.

Eu havia acordado no meio da madrugada após tiros serem disparados em minha direção em mais um pesadelo, não era como se aquilo já não fosse algo normal. Levantei da minha cama de maneira preguiçosa e mole por conta do susto e fui em passos silenciosos até a cozinha procurando algo pra mastigar e tentar distrair minha mente com alguma coisa, em alguns segundos consegui enxergar de onde eu estava um pote com alguns biscoitos que pareciam ter sido feitos enquanto eu estava dormindo, assim que chego um pouco mais perto vejo um bilhete que minha mãe deixou, "sei que sempre que acorda assustada sente fome, então deixei alguns biscoitos da felicidade pro meu girassol, fiz com todo o carinho do mundo e com muitas bananas do jeito que você gosta, mi hija. Te amo além do que pode ser compreendido e com toda a força que eu poderia ter, volte a dormir assim que estiver melhor e não se esqueça: sempre estarei aqui pra você, em todos os momentos, eu me importo e eu te amo. P.S.: também deixei suco de maracujá na geladeira do jeitinho que você gosta :)"

Aquilo me pegou de surpresa de uma forma boa, minha mãe sempre dava um jeito de me surpreender e tentar de alguma maneira me fazer sorrir mesmo que minimamente. Eu peguei o pote de biscoitos juntamente ao suco e subi para o meu quarto, hoje a lua parecia estar maior e o céu parecia estar mais estrelado, me sentei próxima a minha janela com meus fones ajeitados com Turning Page do Sleeping At Last tocando no último volume, essa era uma das músicas que ainda conseguiam me fazer ter alguma mínima esperança de algo bom acontecer, ainda escutando ela, começo a desenhar em meu caderninho que eu sempre deixava perto da janela pra quando eu precisasse escapar de uma realidade da qual eu sentia que não pertencia. Desenhei a lua e tudo que estava abaixo e em volta dela, tudo que acabava compondo a visão de um ponto de esperança e paz pra algumas pessoas.

Além de desenhar a lua acabo fazendo também um eclipse em outra página, um tipo de eclipse que de alguma forma aquecia meu coração quando eu pensava, assim como a história por trás de um evento que muitos consideram tristes em uma visão filosófica da coisa. O eclipse é a forma que quem criou o universo achou para juntar o sol e a lua pois os dois não podem ficar juntos em um mesmo céu. O sol amava a lua e a lua era entregue ao sol, os dois viviam o amor mais lindo ate que tiveram que se separar e perderam a força em continuar "vivendo", até que esse criador criou o eclipse como uma forma de juntar os dois novamente e, mesmo que por um momento em muitos anos, pertenciam um ao outro novamente e encontravam forças para continuar e esperar até o próximo momento de se entregarem um ao outro.

Essa historia me contavam como algo triste mas, o sol e a lua achavam forças um no outro para continuar, não existe nada triste nisso, o amor deles continuava brilhando e ardendo de maneira mais intensa a cada encontro, aquele era o tipo de amor que eu esperava ter quando alguém aparecesse, um amor de eclipse, um amor ardente e eterno.

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