I - Outono de 1992

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Rafael

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Rafael


Estou em pé do lado de fora da sala. Não estou nervoso nem nada, eu só quero que ele me libere logo para entrar na sala e eu possa me sentar.

Me chamo Rafael Lima e estou cursando a 4ª série agora. Meu pai conseguiu comprar uma casa para nós numa cidade pequena, no interior do nosso estado. Ele conseguiu abrir uma padaria grande na cidade, e por isso tivemos que nos mudar no meio do ano letivo, já que se não fôssemos, ele iria perder o seu investimento.

A rua que vamos morar é bem calma. A casa que estamos é localizada na esquina, e faz contato com duas outras casas, mas acho que uma é abandonada, pois não vi ninguém por lá. A nossa nova casa é bem grande, e eu vou ter um quarto enorme para mim.

Tinha um quintal bem grande e um pé de laranjeira bem no meio dele. Como estávamos no outono, a grande maioria das folhas estava ficando amarelada. Dava pra brincar de bola ali sem ter medo de quebrar nada dentro de casa. Ia ser bem legal ter muito espaço para brincar. Minha mãe está animada em ter uma casa grande, do jeito que ela sempre quis.

Percebi que ela sempre ficava triste pelos cantos quando estávamos no nosso apartamento na cidade grande. Ela queria ter espaço para pintar, e colocar seus livros. E no apartamento que a gente tinha, os livros dela ficavam espalhados pela casa e ela não pintava mais.

Eu só sabia que ela pintava porque tinham vários quadros pela casa que ela tinha feito. Ela pintava muito bem, e tenho certeza que ela sentia falta. E quando meu pai conversou com a gente sobre uma possível mudança, ela faltou dar pulinhos de tanta felicidade.

Queria ter falado alguma coisa, mas nem sei se ia adiantar e não quero deixar meus pais tristes só porque não queria mudar.

Não gostei de ter mudado assim, não vou ter mais contatos com nenhum dos meus amigos e como o ano já começou, todos já devem se conhecer e eu vou ser somente o novato, vindo de longe, no meio do ano. Esquisito.

– Acho que você vai gostar da nossa escola Rafael – o diretor da escola fala.

Nem me dei ao trabalho de aprender o nome dele. Ele estava se esforçando para que eu me sentisse bem recebido na escola e já tinha me mostrado onde ficavam algumas coisas. Onde eram as entradas, alguns banheiros, salas de informática, esse tipo de coisas... E diferente da minha escola antiga, só vamos ficar em uma sala durante todo o período de aula. Estranho.

Dou um sorriso fraco para ele. Minha mãe sempre diz que é para sermos simpáticos e prestativos, não importa se você não gosta da pessoa. Não é que eu não goste do diretor, mas eu estou numa escola nova, e não conheço ninguém, duvido muito que eu vá gostar logo de cara. Mas o homem careca e magro na minha frente não precisava saber disso.

Olho pelo pequeno vidro da porta e observo todos os alunos. Parece com a minha antiga sala de aula, os meninos bagunceiros, as meninas que não se desgrudam, os inteligentes que sentam lá na frente. O pessoal que não fala com ninguém nos cantos da sala, de cabeça baixa...

Outonos MeusOnde histórias criam vida. Descubra agora