Capítulo 17

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- Claire.
    Escutei um sussurro.
- Mia?
    Levantei da cama.
- Preciso da sua ajuda.
- Você está bem?
- Preciso da sua ajuda.
Sua voz era baixa e continha medo.
- Mia, o que está acontecendo?
- Não me deixe, Claire...
    Mia saiu correndo pelo quarto. Tentei ir atrás dela, saber o que estava acontecendo, mas eu acordei.

   Acordo com muita dor de cabeça. Estava exausta.
   Peter não estava no quarto. Me levantei devagar e fui para o quarto da Mia.
    Ela estava na cama, mas estava acordada.
- Ei... Posso entrar?
- Claro. - disse a Mia em um sussurro.
- Você está bem?
- Sim, e você?
- Estou, acho.
    Deitei ao lado dela na cama.
- Claire... Conversei com o meu pai essa noite. - disse a Mia, quebrando o silêncio. - E ele me disse que você é especial. Eu e o Peter também, mas você é muito mais. Ele disse que você é capaz de virar o mundo de cabeça para baixo, se quiser.
    Mia sorriu.
- Eu ri dele, claro. Ele me disse também que preciso treinar minhas habilidades. E que você pode me ajudar. E eu também posso te ajudar.
- E ele explicou como vamos fazer isso? - pergunto confusa.
- Não, ele disse que somos espertas o bastante para descobrirmos isso sozinhas.
   Ela sorriu para mim.
- Meu pai gostava de resolver enigmas. Então eu já esperava isso dele.
    Vendo a Mia falando desse jeito, parece que ela cresceu bastante desde quando eu a vi pela primeira vez, à um mês atrás.
- Vamos treinar então! - digo.
- Você vai ao baile? - pergunta a Mia.
- Eu não sei.
- Peter já te convidou?
- Ainda não. - digo olhando para baixo.
   O silêncio paira entre nós duas novamente.
- Eu preciso ir Mia. - digo. - Não conversei isso com ninguém ainda. Mas eu preciso voltar para casa. Vocês me trataram tão bem, que eu fico sem graça.
   Sorri e ela retribuiu o sorriso.
- Preciso procurar coisas do meu passado. Coisas que eu não lembro que aconteceram, coisas importantes. - meus olhos estavam cheios de lágrimas.
- Talvez eu possa te ajudar. - disse ela. - Eu não sou uma garotinha qualquer, Claire. Tenho habilidades como você, só que diferentes. Eu poderia te ajudar agora, mas você não está preparada. Quem sabe outro dia?
- Eu adoraria, Mia.
   A Mia é parecida comigo quando eu era criança. Amava brincar, mas sempre parecia adulta. Sempre fui responsável.
   Sai do quarto e me arrumei. Precisava ir para casa. Antes passei no quarto da Amanda. Ela estava cochilando, mas estava bem.
    Deixei um bilhete para o Peter.
" Preciso de um pouco de ar. Volto logo."
  
   Sai pela porta da frente. Tinha uma moto roxa enorme na frente da casa. Me aproximei e li o bilhete que estava nela.
" Bom passeio, Claire. Espero que goste do presente.
                                     Peter"
- Meu deus! Não acredito!
   Subi na moto e acelerei.
   Antes do meu pai começar a viajar, ele me ensinou a pilotar uma moto e a dirigir um carro. Foi bem difícil. Eu ainda era nova, e meus pés não alcançavam no pedal. Mas meu pai insistia em tentar. Depois de meses, aprendi. Andava direto, sem bater ou atropelar alguém.
   Parei ao chegar diante da minha casa. Fiquei encarando a porta por um tempo. Peguei a minha chave, mas hesitei por um momento. Abri a porta devagar, não sei se eu já estou pronta para isso. Comecei a tremer.
    A casa estava fria e silenciosa. Uma coisa diferente.
    Entrei e fechei a porta. Tudo me lembrava ela. Subi para o meu quarto, e tudo continuava ali. Parecia que nada tinha acontecido. Me perguntei se tudo o que aconteceu foi um típico sonho estranho. Mas acho que já está na hora de encarar a realidade. Como eu queria que tudo na minha vida fosse apenas um sonho.
    Fui para o quarto da minha vó e subi no armário. E como no meu antigo sonho, tinha uma caixa ali. Uma caixa marrom e antiga. Eu a abri. Tinha uma chave, várias fotos e uma carta. No envelope estava meu nome com uma letra magnífica.
    Peguei a caixa e fui para o meu quarto. Sentei na cama e abri a carta.

      "Minha querida Claire,
Me perdoe por não passar cada momento ao seu lado. Por não está quando você sempre precisar. Sei que você vai crescer, e eu não vou estar para te ajudar, e para lhe aconselhar. Sua avó fez mais do que um favor para mim, ela lhe criou, cuidou de você. Nem sei como agradecê-la por isso.
Tenho tantas coisas para lhe contar, Claire. Nem sei por onde começar. Se você está lendo essa carta, eu provavelmente não estarei mais aqui. Me perdoe por colocar você nessa confusão. Queria que você tivesse uma vida normal. Se está lendo, é porque a sua avó acha que está com idade o suficiente para saber que você não é normal, Claire. Eu também não sou. Sinto a sua falta todos os dias. Estou quase saindo desse acampamento e indo de vez para casa. Meu amor, quero que fique forte para o que estar por vir. Sei que você vai conseguir. Te amo com todas as minhas forças, querida.
                                             Com amor,
                                                       Mamãe."
   
    Meus olhos estavam cheios de lágrimas. Eu precisava de ar. Guardei a caixa, e coloquei a carta no bolso da calça. Eu ainda não estava pronta para ficar nessa casa sozinha. Era tão vazio e escuro por aqui. As lágrimas não paravam de escorrer no meu rosto. Respirei fundo e desci as escadas. Preciso pensar, preciso analisar tudo o que está acontecendo. Preciso de tempo, mas é a única coisa que eu não tenho.
      Subi na moto e fui para a praia. Lá é o único lugar que consigo pensar.
   

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