1° Dia
A mocinha de cabelos loiros quase brancos estava desconfortável. Não chegava a ter 1,6m, o corpo era magro e não possuía extravagâncias físicas. Era a primeira vez que colocava um vestido colorido e um corset branco simples, os cabelos estavam presos num coque alto bem feito.
Chaeyoung não conhecia muito do mundo, havia passado doze de seus dezenove anos de vida dentro de um convento. O pai obviamente gastara em manter a igreja feliz enquanto a mantinha lá desde que criança, só que criar uma filha freira não necessitava de investimentos em aparência. Era a primeira vez que sentia o toque do tecido caro na pele ou de algo apertando seu corpo. Acostumada com as roupas cinzas conservadoras do convento, se achou vulgar quando viu os pequenos seios levantados no vestido azul claro. Sabia que havia voltado apenas porque uma irmã, a mais velha, havia se enforcado numa macieira no meio da floresta acompanhada de uma criada. Não foi ao funeral da irmã, mas ouviu dizer que tanto ela como a empregada morreram de mãos dadas com um sorriso no rosto.
A morte da irmã que mal vira enquanto crescia culminou em sua saída do convento. Estava prometida para um conde, dono de várias terras e que tinha poder político. Com uma irmã fora de jogo, a pequena Chaeyoung tinha que substituir. O casamento seria em seis meses, mas a irmã dele viria para analisar a futura cunhada e a transformá-la numa condessa de respeito. Imaginava com antecedência que seria um fracasso, já que não se parecia em nada com a irmã. A falecida tinha cabelos loiros dourados, os olhos como duas avelãs e um sorriso tão doce que iluminava o dia, o corpo bem desenvolvido para seus vinte anos, talentosa e polida. Os boatos diziam que seu sorriso iluminava até o castelo escuro de pedra que chamava de lar e havia sido uma perda inestimável para o pai sua partida. Chaeyoung mal sabia o que era isso. As madres do convento condenavam o sorriso, afirmavam que sorrir na casa de Deus era uma insolência e não demorou muito para que ouvissem as pessoas comentando:
- A mais nova é tão arrogante! Pobre Conde de Sheridan!
Em defesa de nossa protagonista, não havia um motivo bom de verdade para sorrir. Desde que havia chegado, o pai a tratava com hostilidade. Era franzina, nem todas as roupas de sua falecida irmã a serviam e, obviamente, precisava de um enxoval novo. Fora esse gasto extra, o conde demorou quatro meses para avisar que queria a outra filha e que sua irmã se encarregaria de treiná-la, que ela estava a caminho e chegaria em um mês. O pai protestou, mas não daria tempo de enviar uma carta recusando. Às pressas, retirou a filha do convento e a trouxe para o castelo escuro e sem vida.
Chaeyoung sabia que o pai não gostava dela porque a mãe morreu em seu parto, então nem tratou de buscar ou oferecer algum tipo de conforto, protestar ou agradecer tirá-la daquele lugar. Ficava na biblioteca ou presa no quarto, descendo apenas para comer. Uma criada apareceu para chamá-la que a tal irmã havia chegado. Chaeyoung não sentia nada além da vontade de acabar com tudo, perguntando se a irmã também sentia aquele tipo de angústia. Só que uma primeira olhada mudou tudo.
A mulher, que ela sabia se chamar Sharon Myoui estava na sala. Os cabelos eram negros como a noite e a pele pálida como a luz da lua. Estava acompanhada de outras duas mulheres que Chaeyoung nem prestou atenção, inebriada demais na beleza misteriosa daquela mulher. Ela usava um vestido vermelho com detalhes em branco, um decote como o que Chaeng usava, mas nela ficava mais bonito, combinando com o batom vermelho como o sangue:
- Essa é a Chaeyoung, creio que saiu do convento faz duas semanas. Talvez tenha um pouco de trabalho com ela.- o pai falou com um certo desdém sobre a filha, algo que não passou despercebido pela garota.
- Não se preocupe com isso. Posso conversar com ela a sós. Creio que esteja assustada com toda a situação.
O pai apenas acenou em confirmação e observou Sharon andar e subir as escadas ao encontro de Chaeyoung. Em todos esses anos, a garota nunca havia se sentido daquela forma, tão instigada sobre alguém. Estava mais interessada na cunhada que no próprio noivo:
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Apple - A Little Bloody Tale
FanfictionPor conta de uma tragédia, uma mocinha tem que se casar com um conde. Antes que isso aconteça, recebe a visita e a ajuda de sua misteriosa irmã.