Me observo no espelho, tentando ignorar o ser que bate incessantemente na porta, passando perfume nos pulsos e passando os pulsos atrás das orelhas.
Como diz meu pai: Se for em um encontro fedendo a peixe, então vire uma sereia e vá nadar!
Quando mais novo, interpretava isso como: não desista da mina mesmo se estiver fedendo! Mas aprendi na prática que não era exatamente isso que ele quis dizer.
- SE VOCÊ NÃO ABRIR ESSA PORTA, EU VOU METER O PÉ NELA! - o projeto de ser humano grita do outro lado da porta, parando de bater a mão nela.
- Você não teria coragem pra isso! - respondo, olhando pra porta como se conseguisse a ver pela madeira.
- Ah, não é? - ela grita de volta e respiro fundo, sabendo que ela realmente faria isso, mesmo se quebrasse o pé.
Vou até a porta e a destranco, abrindo-a para a menina que entra com a perna inteira dentro do quarto, tentando dar um chute no invisível. Lise dá alguns passos para frente, tentando continuar de pé, parecendo um boneco de posto no processo. Nem tento esconder o quanto estou rindo.
- Tá rindo do quê, dente de cavalo? - ela cruza os braços e me olha com os óculos redondos quase caindo do rosto.
- Dessa tua cara de palhaça. - passo por ela e dou um tapinha leve na sua cabeça, bagunçando seus cabelos afro e seguindo para o espelho, para checar mais uma vez.
A camisa cor vinho com as mangas enroladas até o cotovelo, o tecido sem nenhum amassado - a isso agradeço a Millie Braxton, minha mãe -, calças jeans escuro e um tênis preto. Os fios castanhos jogados para trás com a ajuda do gel, mas uma mecha teimosa insistia em cair em cima da testa.
- Você vai pra um encontro? - Lise ajusta os óculos na cara e se senta na cama.
- Sim.
- Desse jeito? - pelo seu reflexo, a vejo arregalar os olhos e apontar pra mim. Me viro sobre os calcanhares pra ela e me olho de cima abaixo.
- E o que tem de errado? - na verdade, acho até que estou arrumadinho demais.
- Além da sua cara? - ela ri e eu reviro os olhos, cruzando os braços acima do peito e levantando uma sobrancelha pra ela.
- Esqueceu que sou seu irmão?
- Adotivo! - ela retruca. Ao contrário do que acontecia quando eu era pequeno, a palavra não me machuca, já superei o fato de não ser filho biológico faz tempo. Pai e mãe é quem cria, não quem pariu, minha mãe sempre me dizia.
- E acha que sou o mais bonito porquê? - Dou um sorriso e sento ao seu lado na cama.
- Que mentira! - Lise exclama rindo e se deita no colchão, a imito colocando as mãos sobre a barriga. - É só olhar pra mim! Eu sou linda! - sorrio com sua afirmação, mas o ego dessa menina já é grande demais pra eu falar que, realmente, minha irmã é linda.
Os olhos castanhos e brilhantes sendo aumentados pela lente do óculos, pele negra com algumas quase imperceptíveis sardinhas espalhadas pelas bochechas e nariz e o cabelo afro que as mulheres da casa insistiam em ostentar emoldurando o rosto redondo.
Ela só tem nove anos, mas já prevejo problemas com meninos na minha posterior vida de irmão de adolescente.- Qual o nome dela? - ela indaga, os olhinhos brilhando de curiosidade.
- Yarin.
- O nome dela é bonito, mas e a cara dela? - ela pergunta e balanço a cabeça, dizendo que sim. - E você já a conhece? - digo que não e ela arregala os olhos, um costume que sempre teve - Como é que você vai em um encontro com uma pessoa que nem conhece? - solto uma risadinha frouxa.
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Entre Estrelas e Planetas
Science FictionUm sorvete. Um encontro. O espaço. Uma aventura. Peter e Yarin mal sabiam que um encontro marcado em um parque de diversões mudaria para sempre suas vidas. Amor a primeira vista? Não. Quase morte ao primeiro encontro? Com certeza! Ao acabarem no esp...