Capítulo 15

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-Bravo, bravo, bravíssimo! -Jacques parecia arrebatado.

Eu estava novamente no salão. As pedras haviam desaparecido, a escuridão, e os corredores apertados. Tudo parecia como antes.

Olhei para as minhas roupas, na esperança de ter sido afetada pela magia também, mas elas continuavam trapos rasgados e molhados. Meus ferimentos continuavam no mesmo lugar, e agora pareciam doer muito mais.

As salvas de palmas continuavam, e a única que não parecia interessada era Lisandra, que estava de braços cruzados, quase que espumando de raiva. Então Levy a cutucou com o cotovelo e ela começou a bater palmas também.

Lembro-me que ela disse que faria de tudo para que eu não passasse pelo primeiro teste. Pois nem eu estou acreditando que passei depois de tudo aquilo. Ainda parecia irreal a minha vitória.

-Quanta emoção! -Charlotte exclamou. -Você se mostrava muito resistente, mas quando achei que nada mais poderia ser interessante, você se levantou e achou o seu objetivo no último segundo! Magnífico!

Eu não sabia o que dizer. Eles faziam parecer que a situação não foi desesperadora. Minha voz mal saiu assim que tentei falar algo.

-Obrigada, senhores. -consegui dizer, mas duvido que minha expressão tenha sido de alguém agradecida. -Claro que sofri alguns acidentes, e vocês trituraram meus sentimentos, mas o espetáculo foi entregue.

Jacques pareceu não gostar.

-É como dizem, tudo vai bem, quando acaba bem. -ele disse num tom autoritário e lançou um sorriso debochado. -Agradeça por ter conseguido passar para a segunda etapa.

Troquei olhares afrontosos com ele, até ser interrompida por Charlotte:

-Sim, é verdade! -ela parecia animada. -Você agora tem mais três dias de folga, e não se preocupe, a festa será melhor que a anterior!

O jeito que ela sorria me remetia ao holograma no labirinto, e então me veio uma dúvida:

-Uma coisa que eu ainda não entendi, é como consegui passar após o tempo determinado. -tive que falar, minha curiosidade não me permitiu ficar em silêncio. -Não que eu esteja reclamando, mas...

-Você foi bem espertinha, mas não percebeu a principal charada. -Charlotte me interrompeu. -Eu disse que assim que o tempo acabasse tudo ruiria. Mas não especifiquei que o jogo acabaria assim que isso acontecesse.

Fiquei impressionada de como deixei isso passar. Acho que eu estava mais preocupada em achar meu desejo do que prestar atenção nas palavras de Charlotte.

-Pode voltar ao seu quarto, senhorita Ávila. -Levy tomou a fala. -Não se preocupe com os ferimentos, as camareiras te ajudarão com suas roupas e todo o resto.

Olhei em seus olhos, tentando ver se ele demonstrava algo do Levy que eu conheci. Mas ele parecia um Leblanc.

-Obrigada, senhor Leblanc. -coloquei ênfase na frase. Lisandra fez uma careta ao seu lado.

Saí do salão quase que me arrastando. Agora a dor parecia bem mais real do que antes; eu tinha uma mordida no braço, e o pior, minha mão direita estava perfurada por conta dos espinhos. Ainda caía muito sangue desse ferimento. Acho que assim que voltei para o mundo real, desprovido de qualquer tipo de magia que me confundisse, eu podia sentir com mais força as dores do que antes.

Juntei as mãos, tentando não sujar os tapetes finos dos corredores, e torci para que nenhum amaldiçoado me visse nessas condições.

Acho que uma família de feiticeiros assistir a sua possível morte é bem pior do que ser vista por mais alguém.

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