Capítulo 1 - Figurantes (pt 1)

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"Mundo sem paz, mundo sem nada." Uma frase que qualquer criança de 8 anos já leu em qualquer livro escolar. Uma frase clichê, parte de uma conversa histórica que virou até desenho animado.

Essa foi a maldita frase que originou a Divisão de clases que ocorreu 21 anos atrás, e que trouxe algo próximo a "paz" que tantos buscavam, assim estabelecendo um conformismo monótono por dezenas de anos.

Desde que essa frase foi dita, a realidade foi tratada como ficção, uma história retratada de forma específica para desviar os olhares de coisas como governo, países, raças, gêneros entre as muitas outras coisas que poderiam colocar em jogo a estabilidade moral. Desde então, a culpa é puramente da sorte.

Anualmente são realizados testes para pessoas com cerca de 12 anos. Nele, testam sua força, agilidade, velocidade, inteligência, gentileza, espiritual, entre outros.

E em todos esses, eu tirei exatamente 10.

Então você pensa "certo! Parabéns!" E eu respondo "haha não."

Com um total de 100 pontos em cada disciplina e cerca de 1000 pontos contando todas, tirar 10 em todos os atributos é nada mais nada menos que humilhante. Normalmente, quando se é um figurante "comum" você precisa tirar no mínimo 150, mas eu tive a proeza de acertar 100.

Eu sou um puto miserável e inútil, figurante sangue puro com exatamente 99% de chances de morrer.

E hoje é o dia do aniversário do teste que fiz 6 anos atrás, também o chamarei de "o dia em que perdi totalmente minhas esperanças". Sim, já faz 6 anos desde que fiz o teste e desde então minha vida tem sido uma completa catástrofe. Entretanto, aos 18 anos, os jovens tem uma chance de realizar os testes novamente, e eu esperei desesperadamente por esse dia. Eu trabalhei e me esforcei ao máximo para melhorar meus atributos gerais. Mesmo quase morrendo, fiz bicos de freelancer o quanto dava e estudei que nem um louco, passei fome, frio, sono e desespero, e então, finalmente cheguei no dia em que tudo isso valeria a pena...

Ou não.

Olho novamente para o papel diagnóstico que eu seguro em minhas mãos. Ele dizia claramente "figurante" e eu reli novamente "figurante", então novamente, quer dizer, posso estar com problemas nos olhos... mas a palavra não mudou, continua escrito "figurante". A esse ponto, esse papel já está bastante manchado com as lágrimas que eu havia derramado no caminho para cá. Com raiva, o amasso em uma pequena bolinha e o arremesso para longe.

Ele cai a menos de 3 metros de mim.

Maldito seja. Maldito seja você, universo.

Eu dei o meu melhor, eu fiz de tudo, e agora, só me resta morrer que nem um verme miserável. Fui demitido do único emprego que me aceitava graças a esse teste maldito. Meu empregador só havia me aceitado porque eu garanti que mudaria de classe no segundo teste, mas agora que viram o resultado... Estou oficialmente desempregado - de novo.

- Devo cravar uma faca no minha barriga e ir visitar minha mãe no hospital? Se eu tiver sorte eles permitem que eu fique lá com ela pelos próximos meses... Ah! - Eu levanto o rosto para o céu e sorrio - É verdade! Eu não tenho sorte! Hahahah!

Ah... Eu vou apenas ir pra casa. Não vai melhorar absolutamente nada, mas pelo menos poderei dormir enquanto meu aluguel ainda está em dia, o que me garante um teto por mais algum tempo.

Olho para frente. Os postes estão começando a acender. Deve ser umas 18h... Parte do céu está avermelhada e a outra parte já está quase totalmente escura. A brisa do vento balança um pouco meu cabelo e causa um arrepio na minha pele.

Que merda... Tá frio pra caralho. Eu olho em volta, certo, esse ambiente, esse vento, esses postes... Tudo indica que eu irei morrer daqui a pouco.

Passo a mão na cabeça. Estou enlouquecendo, se acalme Michael, se acalme. Você ainda possui esperança.

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