As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1

Capítulo 44: Força da natureza.

Encontrei um lugar pra me sentar nas arquibancadas da arena, coberto o suficiente para me fazer fugir da chuva. Sky se sentou ao meu lado, puxando um lenço do bolso para enrolar meus dedos doloridos. Tentei ignorar a eletricidade que percorria minha pele aonde ele me tocava, parecendo muito concentrado e cuidadoso com o que estava fazendo.

—Você está bem? —Questionou, parecendo incomodado com o meu silêncio. Meu pico de energia havia passado, trazendo um mal estar pra dentro do meu corpo, que formigava em todos os cantos possíveis.

—Sim, só estou cansada. —Falei, girando o rosto para encarar Sky quando ele terminou de enfaixar minha mão e se afastou. Tentei fechar minha mão, fazendo uma careta ao senti-la latejar.

—Uma confissão por outra, meu bem. —Sugeriu, me fazendo rir, antes de ficar seria de novo, erguendo o rosto para encarar o céu escuro e nublado.

—Queria poder ver as estrelas daqui e não apenas nuvens de chuva.

—Isso não é uma confissão, é um fato. —Sky retrucou, enquanto eu encolhia os ombros e abraçava o próprio corpo. Queria apenas ficar em silêncio, mas ele não parecia desejar o mesmo.

—O que você quer saber? Apenas pergunte. —Falei, sem estar interessada em jogos naquele momento. Tinha percorrido um longo caminho até ali e aquilo estava me tirando da zona de conforto.

—O que você e Raven tinham um com o outro? —Indagou, fazendo meus lábios se comprimirem e meus olhos se voltarem pra ele. —Eu vi vocês dois no acampamento. Ele parecia envolvido demais no que vocês dois conversavam.

—A gente não tem nada um com o outro. Eu o conheci no Chalé Azul e pensei que ele fosse meu amigo. Pensei que ele era alguém que eu podia me aproximar. Mas então tudo desmoronou quando ele revelou suas intenções reais. —Afirmei, umedecendo os lábios com a língua, sentindo o peso daquilo nos meus ombros. —No final das contas, ele só está interessado no que eu posso oferecer a ele por conta da profecia.

—Já ouvi falar sobre ela. Dizem que ela é importante, mas ninguém sabe de fato o que ela diz. —Sky se sentou virado pra mim, mais próximo do que eu achava ser possível. Podia sentir o calor que emanava do seu corpo quando me encarou, com os olhos tão nublados quanto o céu. —O que pretende fazer se seu nome estiver mesmo nessa profecia?

—Por que quer saber? Está interessado na profecia também? —Questionei, abrindo um sorrisinho afiado pra ele.

—Não. Não na profecia. —Sussurrou, e os dedos roçaram de leve no meu braço, espalhando uma onda de calor pelo meu corpo inteiro. Já tinha o visto flertar antes. Mas não daquela forma. Não com a voz carregada de algo quente e intenso, capaz de estremecer até meus ossos.

Não achava que Sky era como Raven. Na verdade, ele era algo completamente diferente de Raven. Raven parecia uma força violenta e sem controle, capaz de queimar o mundo todo com um estalar de dedos. Sky era uma tempestade. Uma força da natureza, fria, lenta e cruel. Ele não parecia seria capaz de destruir o mundo, mas dominá-lo.

Essa era a diferença de Sky e Raven. Sky tem poder para destruir, mas ele governaria em vez disso. E aquela tensão entre nós dois. Aquela faísca pequena que podia se transformar em algo maior era perigosa. Eu tinha a sensação que se o deixasse entrar na minha cabeça, aquilo seria minha ruína. Aqueles olhos acinzentados iriam me consumir de dentro pra fora.

—Minha vez. —Sussurrei, com minha voz saindo tão baixa que quase não ouvi, ainda absorvendo o calor deixado pelos dedos de Sky na minha pele. —Por que você quer encontrar uma bruxa da lua?

O calor desapareceu. A faísca nos olhos de Sky sumiu e sua mão se afastou de mim. Percebi que tinha feito a pergunta errada no mesmo instante, quando ele me encarou em um silêncio longo e tenso.