As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1

Capítulo 45: Sou uma guerreira.

Tínhamos saído de casa logo depois. Meu tio me encarou desconfiado, como se não tivesse certeza se voltaríamos a nós ver ou não. Se dependesse de mim, eu o veria sempre que possível. Mas tem algo que preciso resolver antes. Não posso continuar vivendo normalmente, quando Raven está me caçando como um maluco.

—O que é aquilo? —Sky indagou, parando de andar e apontando para um dos barcos.

Um amontoado de pessoas estavam em volta de uma mulher de vestido branco e um homem com roupas pretas. Os dois estavam sorrindo um para o outro, enquanto seu casamento era celebrado. Casamento não eram raros por ali, mas vê-los tão felizes era quase surpreendente pra mim. Não tinha visto muitas pessoas se casarem por amor naquele vilarejo. A maioria se casava procurando uma vida melhor.

—Um casamento. —Ayla respondeu, olhando naquela direção com uma expressão confusa, como se estivesse pensando o mesmo que eu. —A união de duas pessoas não funciona assim no mundo de vocês?

—Não. —Margo encarou o barco onde o casamento acontecia, antes de negar com a cabeça e voltar a andar. —Nada de festas ou alianças. Pelo menos não para os humanos.

—E como acontece então?

—Usamos uma pedra da estrela. —Nos seguimos Margo, enquanto ela falava, ainda olhando pro casamento que acontecia a poucos metros de nós. —É uma pequena pedra de tom preto cintilante. As duas pessoas que querem se unir precisam segurar ela e dizer algumas palavras. Depois disso uma marca com as iniciais dos parceiros surge no ombro de cada um, selando a união.

—Irrevogável. —Sky completou. O olhei na mesma hora, vendo ele me lançar um sorriso afiado. —Melhor ter certeza quando quiser se unir a alguém do meu mundo, porque não tem mais volta depois que acontece.

Fiz uma careta pra ele, antes de parar de andar assim que visualizei a figura de pele negra andando pelas docas, enquanto ajudava a carregar o barco do pai com várias caixas de madeira. Não estava mais usando uma muleta, como foi da última vez que o vi. Parecia bem demais, pra falar a verdade, como se nunca tivesse sido atacado por um lobo negro.

—Vitor? —Eu o chamei, observando ele hesitar ao soltar uma caixa na rampa do navio, antes de se virar para me encarar. Não tinha certeza se ele parecia surpreso em me ver, ou se estava apenas confuso.

—Zaia. —Ele abriu um sorriso depois de um momento, caminhando na minha direção a passos lentos. Não estava sequer mancando. Ele olhou para as três pessoas atrás de mim, com um brilho de curiosidade ao ver Sky e Margo, sabendo logo de cara que eles não pertenciam ao nosso mundo.

—Desculpe atrapalhar o seu trabalho. Eu só preciso falar com você. —Falei, abrindo um sorriso tenso, porque não tinha certeza de qual seria a reação dele ao meu pedido. —Eu precisava de um favor seu.

—Tudo bem, não há problema. —Ele olhou para o pessoal atrás de mim novamente, a curiosidade se tornando maior. —Em que posso ajudar?

—O seu pai é dono de um dos barcos, certo? —Indaguei, observando-o confirmar com a cabeça, agora parecendo desconfiado. —Bom, estou precisando de um barco nesse momento. E queria saber se vocês estariam dispostos a me ajudar.

Vitor cruzou os braços na frente do peito, enquanto me olhava com uma das sobrancelhas erguidas. E eu esperava que ele realmente aceitasse isso

[...]

—Sua vida anda bem agitada. —Ayla comentou, enquanto me observava atentamente, depois de me ouvir contar sobre os últimos dias.

—Você não faz ideia. Zaia vive uma aventura a cada dia. —Sky afirmou, usando um tom de voz tão sarcástico que não tive vontade de retruca-lo, porque aquilo não era mentira.