Capítulo 49: Por que fez isso?

2.8K 473 189
                                    

Uma pergunta pesou na minha cabeça quando pensei como as coisas poderiam ter sido diferentes se Adam e Daphne tivessem conseguido ficar juntos. Eu provavelmente não teria nascido e a profecia não seria ligada a mim. Mas ela ainda existiria? Ela ainda citaria um arcadiano? O poder da água teria desaparecido por completo?

—Eu suponho que já acabamos a nossa reunião. —Raven Afirmou, puxando Alexia pelo braço, o que arrancou um grunhido de irritação dela, enquanto eu abafava aqueles pensamentos para prestar atenção nele. —Tenho coisas mais importantes para fazer. Eu e você não podemos perder mais tempo, Zaia.

—Perder mais tempo no que? —Eu o encarei confusa, porque ainda estava me recuperando do baque e não fazia ideia de onde Raven queria chegar com aquilo.

A espada de fogo surgiu no mão de Raven e antes que eu pudesse fazer algo, ela já tinha atravessado o corpo de Alexia. Demorei pra processar o que tinha acontecido, até Ayla soltar um grito, enquanto Margo tentava tampar a visão dela. O ar escapou com força pela minha boca quando empurrei Sky, correndo na direção de Alexia quando o corpo dela desabou no chão.

—Não, não, não, não... —Exclamei, sentindo um nó se formar na minha garganta ao me abaixar do lado dela, observando o sangue que ensopava seu peito. —Alexia? —Ela me encarou com os olhos pesados, enquanto eu erguia a cabeça para encarar a expressão fria no rosto de Raven. —Por que fez isso? Por quê, Raven? Ela já tinha contado a verdade.

—Eu te fiz um favor, Zaia. —Ele apontou para Alexia, soltando uma risada incrédula ao ver meu desespero. —Ela te tratava como um lixo. Ela te odiava. Eu sei disso, porque ela mesmo fez a questão de me contar.

—Não interessa! —Gritei, com a raiva borbulhando nas minhas veias, porque mais uma vez Raven estava me fazendo ficar com as mãos sujas de sangue, pela morte de outra pessoa. —Você não podia ter feito isso. Você não pode passar por cima de todo mundo só pra conseguir o que quer! Pare de agir como um monstro!

Desviei a atenção dele para Alexia quando ela tentou dizer alguma coisa. Com cuidado, puxei seu rosto pra cima do meu colo, ouvindo meu coração martelando dentro do meu peito, enquanto tentava ignorar todo aquele sangue, que me deixava enjoada.

—Está tudo bem. —Alexia sussurrou, como se estivesse falando mais para si mesma do que para mim. —Está tudo bem.

—Eu sinto muito. —Falei, pressionando o ferimento com força, mesmo que tivesse certeza de que não podia fazer mais nada. Alexia trouxe a mão até a minha, a segurando com os últimos resquícios de força que ainda tinha, com os olhos marejados e perdidos.

—Eu o amava de verdade. —Sussurrou, com o rosto começando a ficar pálido, assim como os lábios trêmulos. —Me perdoe pelo jeito que eu te tratava. Eu era... Você tinha tudo que eu sempre quis ter. Tudo que eu sempre desejei.

—O que? —Soltei, balançando a cabeça negativamente, sem entender o que ela queria dizer.

—Uma vida normal, Zaia. —Ela exibiu uma expressão de dor, apertando minha mão com mais força. —Eu tenho mais de cem anos. Tudo que eu mais queria era uma vida normal como a sua. Viver, amar, ter filhos e morrer como alguém normal. Mas isso nunca seria possível, sendo quem eu sou de verdade. Alguém fadada a servir ao prazer dos outros. Não o meu prazer ou felicidade, apenas a dos outros. Então eu sinto muito, porque eu tinha inveja de você, então eu a atacava, porque isso fazia eu me sentir melhor com minha própria amargura. Eu sinto muito... me perdoe.

—Não precisa me pedir perdão. —Afirmei, passando a mão pelos cabelos dela. O rosa se manchando de vermelho pelo sangue nas minhas mãos, enquanto ela soltava uma risada baixa.

—Precisa sim, garota. —Ela ficou subitamente séria, com algo pesado passando pelos olhos. —Quando você o encontrar, peça perdão por mim. E diga a ele... diga a ele que eu o amei de verdade, como nunca seria capaz de amar outra pessoa.

—Eu direi. Eu prometo que eu direi. —Falei, abrindo um sorriso dolorido, sentindo meu coração se contrair quando ela encarou o fundo dos meus olhos.

—Você vai ficar comigo até o fim?

—Sim. É claro que sim. —Ela olhou para a copa das árvores ao me ouvir falar. Para a noite que começava a dar lugar ao dia. Então apertei a mão dela com mais força, sentindo meu coração se partir ao meio. —Eu estou aqui. Você não está sozinha.

—Eu posso sentir o que você está sentindo agora. E você não deveria estar se sentindo assim. —Murmurou, com a voz saindo tão baixa que quase não ouvi. —Não por mim. Não depois de tudo. Eu jamais merecia sua compaixão.

—Você não sabe o que está falando. —Retruquei, sentindo um nó se formar na minha garganta quando ela abriu um sorriso trêmulo pra mim.

—Eu sei sim. Você sentiu raiva de mim a vida toda. —Ela me encarou, com um lampejo de diversão. Rápido, antes de dar lugar a dor. —E depois de tudo que eu fiz a você, eu não merecia esse sentimento que você está sentindo agora.

—Você é minha tia, o que queria que eu estivesse sentindo agora? Dor é um sentimento normal, principalmente quando você está prestes a perder alguém da família.

Supresa tomou conta do rosto dela quando me ouviu dizer aquilo, como se fosse a última coisa que ela esperasse ouvir de mim. Encarei ela com a mesma intensidade que ela me encarava, sentindo a palma da sua mão ficar tão fria quanto gelo e o brilho ir embora dos seus olhos azuis, que pareciam espelhar meu rosto.

—Adeus, Zaia. —Sussurrou, enquanto eu levava a mão livre até seu rosto, limpando as lágrimas que escorriam pela sua bochecha

—Adeus, tia Alexia. —Ela abriu um último sorriso pra mim ao me ouvir, e então aquele brilho nos seus olhos se apagou por completo, enquanto eles se fechavam para sempre.

Um soluço cortou minha garganta, enquanto as lágrimas que eu segurava surgiram como uma tempestade nas minhas bochechas. Um buraco se abriu no meu peito quando me inclinei e fechei os olhos com força, encostando minha testa na dela, sentindo a pressão da sua mão desaparecer quando seus dedos ficaram imóveis contra os meus. Gelados.

Afastei meu rosto quando sua mão desapareceu, abrindo os olhos e observando o corpo dela começar a se transformar em minúsculos pontinhos de luz, como estrelas, da mesma forma que aconteceu com a fada morta na casa de Estel. O corpo dela deu lugar aquelas estrelas cintilantes, que começaram a subir em direção ao céu, até simplesmente desaparecerem.



Continua...

As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora