22. Você está esperando alguém descobrir?

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- Então você tá me dizendo que sua mãe e o tio da Meredith Rose Saint-Jones foram NOIVOS??

René repetia pela terceira vez com os olhos arregalados. Assenti.

- Amigo... - ela levou a mão a boca, chocada - na corrida da sorte com inimigos você queimou a largada! Qual era a probabilidade de isso acontecer?! A sua mãe, o Gus Saint, isso... isso é...
- Bizarro?
- Incrível!

No calor da euforia, o copo que René segurava bateu na mesa, sua mãe olhou para ela da porta da lavanderia a repreendendo.

- Desculpe - René encolheu os ombros e sorriu - mas então - ela olhou novamente para mim empolgadíssima - se sua mãe e o tio da Meredith tiverem um revival, você vai conhecer sua inimiga como ninguém! E todo mundo sabe que é bom ter os amigos por perto, mas os inimigos é ainda melhor.
- Não, nunca poderia fazer isso com a Skye, nem se eu quisesse! - tomei um gole do chá gelado que a esta altura já estava um pouco aguado - no momento eu estou querendo distância da Meredith e dos Saint-Jones, ainda mais depois de saber que nossas famílias estão fadadas a se engalfinharem pra sempre.
- Você quer distância mas eu fiquei sabendo do climão com ela ontem na festa, há boatos de que se você procurar por "Guerra Fria" no livro de história tem sua foto e da Meredith ao invés da bandeira dos Estados Unidos e da URSS.
- Não duvido - ri, com uma pitada de desespero ao fundo - ela já começou a me difamar por aí?
- Ainda não, na real ela sequer deu as caras no Gardenia hoje, nem ela e nem o Heron... ah! - René se levantou repentinamente - falando no Heron...

René foi até a mesinha ao lado da porta de entrada de sua casa e voltou de lá com um envelope. Um envelope que eu conhecia bem.

- Já estava aqui quando cheguei, o Finnick que a recebeu já que ele não foi a escola hoje por conta dos exames e era o único em casa. Ele me certificou que foi o próprio Heron que a entregou, e ele também acha as pintinhas muito charmosas.

René me entregou a carta de Heron com um largo sorriso. Olhei para o envelope em minhas mãos e tentei - falhando miseravelmente - afastar a voz de Heron no fundo da minha cabeça dizendo que gostava de outra pessoa.

- O agradeça por mim.
- FINNICK! - René gritou a plenos pulmões, seu irmão mais novo respondeu da sala, onde estava assistindo TV com Elena e Anthony.
- O quê?!
- O Adrien disse obrigado!
- De nada Adrien!
- Ouviu né? - ela disse para mim, eu ri.
- Saudades do Finnick, como vai a transição dele?
- Já está fazendo os últimos exames, está todo alegre que a médica disse que a redesignação pode ser feita até daqui no máximo duas semanas.
- Ela disse dez dias! - corrigiu o garoto, René até virou para o encosto de sua cadeira para respondê-lo.
- Dá no mesmo! - ela gritou, Finnick riu.
- Que incrível Ren, mal consigo imaginar a alegria que ele, e vocês também, estão.
- Tô morta de orgulho desse moleque - René sorriu, seus olhos brilharam - eu vi ele nascer, crescer e se descobrir a cada dia, ver o Finn finalmente sendo quem ele realmente é, é lindo demais! Como sempre digo pra ele, eu, a nossa mãe, o pai dele, nossos irmãos, queremos vê-lo bem e feliz independente de qualquer coisa, independente do que ele for, e ele sabe disso.

Apesar de toda a primeira impressão ousada e até impetuosa de René, ela era um verdadeiro doce quando falava de sua família, incrivelmente! Eram raros momentos como esse onde ela abria o coração de verdade, mas sempre que acontecia era palpável a verdade em suas palavras. Apesar das brigas com o Anthony e as provocações com o Jonah, ela é capaz de qualquer coisa para defender eles e seus outros dois irmãos, afinal é como ela mesma diz "os xingamentos para com os Clark-Hutcherson é limitado apenas para os Clark-Hutcherson".

- Isso é lindo, Ren - apoiei meu rosto em minha mão - se eu fosse seu irmão você me trataria bem desse jeito?
- Eu ia era te dar uns tapas por ainda não ter contado ao Heron sobre a Queen - ela me deu um tapinha no braço, rimos - você viu a reação dele com o disco? Não vi ele sorrir tanto nem vendo o próprio bolo de aniversário! Tá esperando o quê pra contar que você é a "remetente misteriosa"? Alguém descobrir?

- O Heron não gosta de mim, René.

Só consegui suspirar. Uma hora ela teria que ficar sabendo.
Olhei no fundo dos olhos de minha amiga. Ela me olhou com uma feição perfeita de Grumpy Cat.

- O que eu falei sobre trabalhar nesse pessimismo, Adrien?
- Não Ren, dessa vez é sério - olhei para o copo e passei a balançar o gelo derretido na poça de chá - ontem ficamos sozinhos por alguns minutos na cozinha e ao invés de uma declaração ele falou na minha cara que gosta de outra pessoa. Até peguei alguns copos pra ele num armário que ele não alcançava bem como nos filmes - ri com as lembranças - mas logo depois ele disse que a pessoa que lhe deu o disco era só uma amiga e que ele "meio que gostava de outra pessoa". Para bom entendedor, meia palavra basta. Os boatos gritaram em seus ouvidos e ele me dispensou logo pra sua crush não entender errado.

René me olhava com uma feição blasé. Talvez processando o que falei ou pensando no que dizer para o amigo que acabou de tomar um pé histórico de um cara que o deixou meio fascinado. Eu também não saberia muito o que lhe dizer numa situação dessas.

- Meu Deus o Heron é muito burro! - disse ela negando com a cabeça - o que tem de bonito tem de burro! Ele não percebeu mesmo que você gosta dele? Nem com a gagueira? Nem com o desvio de olhar? Nem com a timidez extrema??? - sua voz se alterou - vou te contar, na segunda eu vou descascar esse francês até ele ter alguma responsabilidade afetiva com as pessoas que gostam dele e com um exame de vista marcado! Custava ser mais delicado?
- Nem se estressa René, brigar não vai adiantar nada - dei batidinhas em seu ombro tentando a acalmar - ele não é obrigado a gostar de mim só porque eu gosto dele e, pensando aqui, amizade não é tão ruim, né? Pelo menos ele disse que não é a Meredith, acho que já tá de bom tamanho.
- Nossa como é que ele faz isso - René passou uma das mãos por seu cabelo cor-de-rosa - e eu lá curtindo com a Jenna enquanto você estava triste em casa, que grande amiga eu sou!
- Para com isso! Fiz de propósito, você estava tão feliz.

René olhou para mim sem acreditar.

- Olha Adrien, sinceramente, se tem alguém que tá perdendo alguma coisa nessa história toda é o Heron, você seria a pessoa mais perfeita desse mundo pra ele, ainda mais olhando quem é que o rodeia!

Sorri, não totalmente feliz, mas talvez começando a me conformar.

- E você acha que eu não sei? - brinquei, ela riu.
- Ah Ad, você é um anjinho, não acredito que vou ter de falar pro Pat que você realmente está sem par pro baile de São Valentim...
- O Pat? - indaguei surpreso - Como assim? Não me diga que...
- Ah menino - René sorriu de canto - nem te conto!

Saí da casa de René por volta das sete da noite depois de horas pondo as novidades, boas e ruins, na mesa - acredita que Patrick "Pat" Elsen, um dos líderes de torcida mais populares e cobiçados do terceiro ano, tinha interesse em me chamar pro baile??? Isso era surreal!
Mas embora já houvesse quem estava de olho em mim, ainda voltei para casa carregando o peso da carta de Heron e meus sentimentos pelo francês. Acredito que essa carta seja a última que receberei já que definitivamente estava fora dos meus planos lhe enviar mais alguma - ou sequer ler esta - não sei se conseguiria disfarçar meus sentimentos nem por escrito.
De qualquer forma, essa tour chegaria ao fim algum dia, só é uma pena que não foi como eu imaginei nos meus melhores sonhos: Eu, diante de seu sorriso estonteante no momento da revelação, que poderia ser num fim de tarde na praia, na chuva, no vestiário, ou de qualquer forma desde que fosse bem memorável, e que fosse uma memória boa de se lembrar. 

Cartas para Heron HayesOnde histórias criam vida. Descubra agora