Oito

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Inglaterra, 25/08/1827.

- Bom dia - digo assim que entro no cômodo onde sempre fazemos nossas refeições.

A sala de jantar é tão majestosa quanto o resto da casa, tudo aqui é tão lindo e tão delicado que sempre tenho medo de quebrar algo quando vou comer.

Noto que apenas Amelia, Olivia e Kate estão sentadas à mesa, William não está presente. Provavelmente ele está me evitando, eu não o culparia. Talvez eu mesma devesse fingir que nada aconteceu ontem, mas não acho que seria possível.

Eu simplesmente não consigo parar de pensar naquele maldito. Dormir e acordar pensando em uma pessoa é demais para mim.

- Bom dia, querida - Amelia diz, mas sem me dar muita atenção, ela está ocupada lendo o jornal.

Kate bebe um gole de suco antes de dizer:

- Como passou a noite? - E em seguida sorri.

Algo me diz que ela sabe de alguma coisa, mas não é possível que o irmão tenha contado o que aconteceu. Não, ele parecia envergonhado e culpado o suficiente mesmo sem ninguém saber.

- Você está sendo indelicada, Kate - Olivia repreende. - E bom dia, Catarina. Sua dor de cabeça melhorou?

Levo um tempo para me lembrar do que Olivia está falando, afinal eu não estava com dor de cabeça ontem. Embora pensar tanto no irmão dela poderia ter provocado isso, mas não teria como ela saber.

Estou ficando paranoica e passo tanto tempo pensando nisso que demoro para responder, chega a ser indelicado.

- Dormi muito bem - minto. - E já estou melhor, aquele chá que você pediu para prepararem ajudou muito.

O chá era horrível, mas é isso que ganho por mentir. A questão é que ontem elas me chamaram para ir comprar vestidos, mas eu não queria ir, então inventei uma desculpa. Elas me deixaram ficar, pois o médico disse que qualquer sinal de dor na cabeça eu deveria ficar de repouso, outra consequência de outra mentira.

Olivia sorri, satisfeita.

É um café da manhã silencioso, nós não falamos mais nada. Em parte, é culpa minha que estou sempre com a boca cheia para evitar conversas.

As três são ótimas e estão sempre cuidando de mim, mas estou confusa demais para sequer pensar em bater papo, por isso como tudo o mais rápido que posso.

Passo a manhã inteira na biblioteca, me ocupo lendo Orgulho e Preconceito da Jane Austen. É intrigante ler esse livro quando ele praticamente acabou de ser publicado, são só quatorze anos de diferença. E esse é um exemplar de 1813, o que é absurdamente impressionante, já que nunca pensei que um dia tocaria em um livro dela do ano que foi publicado.

Acho que fico mais tempo observando o livro do que realmente lendo.

O tempo passa rápido demais, no almoço não há sinal de William. Ou ele está ocupado ou está realmente fugindo de mim, espero que seja a primeira opção. Não o vejo o dia todo, provavelmente está trancado naquele escritório, mas também nem chego perto do cômodo, não quero atrapalhá-lo.

- O que está acontecendo com você? - Kate pergunta.

É hora do chá da tarde, sua mãe saiu, então estou apenas com as irmãs. Olivia está fazendo um bordado, ela é realmente muito habilidosa, se eu estivesse fazendo isso já teria furado tanto a mão que teria arrancado sangue, mas Olivia faz tudo com graciosidade.

E Kate me observa, atenta a tudo que estou fazendo. Sinto como se ela estivesse me analisando. Deve ser impossível esconder algum segredo dessa garota, ela é capaz de me fazer falar apenas com esse olhar. Tenho dó dos seus futuros filhos.

Através do Espelho (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora