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O meu pai me leva até um sofá vermelho — que eu apenas percebo minutos depois — e nós nos sentamos virados um para o outro. Nossas mãos estão entrelaçadas como há muito tempo não estiveram e eu me permito sorrir com o contato.

— Como você cresceu! Já está uma mulher! Tão parecida com a sua mãe... — ele fala a última frase com um tom de nostalgia na sua voz, mas sorri para mim, com os olhos marejados e concentrados em mim.

— Obrigada, pai! — digo. O nome soa bem saindo da minha boca, então eu repito novamente na minha mente apenas para aproveitar de tê-lo na minha frente e poder chamá-lo. — O senhor está diferente também. Mas ainda parece jovem.

— Agradeça ao Richard. Ele disse que era para mim mudar o visual pois, de acordo com ele, a minha idade já estava ficando aparente.

Nós rimos um pouco e faz um carinho nas pontas do meu cabelo, o que me faz sentir um conforto inexplicável. Talvez tudo isso seja pelo fato de não estar acreditando que ele realmente esteja aqui.

— Então... — ele fala suspirando. — Quero que me conte tudo sobre o que você fez durante esse tempo. Você está trabalhando agora, não é? Richard me contou quando o seu amigo entrou em contato com ele.

Nós conversamos sobre diversos assuntos. Conto para ele tudo o que eu fiz desde o acidente — tirando os acontecimentos com o Hanma —, conto sobre o meu trabalho que eu arrumei apenas para passar um tempo e ocupar a minha mente, mas que no fim conheci pessoas incríveis. Conto sobre como o Mit me ajudou nesse tempo e não me deixou faltar nada, e o meu pai parece feliz quando cito o meu melhor amigo.

— Pai! — chamo-o, fazendo com que ele acene com a cabeça para que eu continue. — Por que o senhor não voltou depois do acidente? Por que deixou que eu acreditasse que o senhor e a minha mãe morreram naquele dia? Por que me deixou sofrendo praticamente sozinha depois de tudo? Tem noção do quanto é ruim você perder duas pessoas que ama apenas de uma vez? — eu já estou chorando. As minhas lágrimas parecem quentes enquanto eu me recordo de quando recebi a notícia da mãe do Mit, que me ofereceu a casa dela para que eu ficasse o tempo que precisasse.

O meu pai me puxa para um abraço, deixando que eu chore no seu ombro como uma criança. Ele faz um carinho nas minhas costas e no meu cabelo, tentando me confortar em meio ao choro.

— Eu não estou julgando o que o senhor fez. Não pense assim. Eu só quero saber porque não voltou. Quero que me explique os seus motivos para ter me deixado.

— Eu não te deixei, meu amor. Eu fiquei com vergonha. Fiquei com vergonha de voltar para você sabendo que eu deixei a sua mãe morrer naquele acidente por um capricho meu. Eu carreguei essa culpa por todo esse tempo e eu não queria ver que causei tanto sofrimento para você, mesmo sabendo que você passou noites chorando por isso. As últimas palavras da sua mãe, os sentimentos que ela sentia por nós dois, essas palavras ainda rondam a minha cabeça desde que a vi morrer ao meu lado.

Ele está chorando agora, porém, muito mais controlado do que eu. Quero perguntar o que realmente causou o acidente, pois sei que o meu pai não estava bêbado como saiu nos jornais. Era um lugar isolado, mas o motorista do caminhão que bateu também morreu e não recebi nenhuma solução sobre o caso, nem mesmo um culpado sequer.

— O que causou o acidente? — pergunto de uma vez. Sei que esse deve ser um assunto sensível para ele, algo que doa de ser contado, mas eu quero saber. Quero que ele me conte sobre isso para que ele possa dividir essa dor comigo e não sofrer sozinho com tudo.

— Estávamos voltando do nosso jantar de casamento, como você sabe. Sua mãe estava feliz com o buquê que dei a ela. Era artificial, mas ela nem mesmo se importou com o fato de eu não escolher uma flor verdadeira para ela. Faltava poucos segundos para o sinal vermelho, mas eu decidi acelerar do mesmo jeito. Eu não vi nenhum veículo vindo, mas, quando acelerei, uma carreta bateu em cheio ao lado da sua mãe. Os faróis da carreta não estavam funcionando, então eu simplesmente não vi.

Seu sorriso {Mikey}Onde histórias criam vida. Descubra agora