Capítulo 2

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Aquele dragão motivou uma trégua na guerra entre argians e itzans. Cada exército pegou uma parte da grande fera alada para levar aos reis e um aperto de mãos marcou a despedida das duas tropas, garantindo que não nos atacaríamos mais até que aquele assunto fosse resolvido.

Voltar para Aruna era um alívio, principalmente após ter encarado a morte tão próxima, mas a vida no castelo não era mais fácil do que no campo de batalha. Toda a política que eu precisava aprender era estressante, mesmo com todos os conselheiros por perto, mas naquele mês foi muito mais fácil. Era como ser adolescente novamente, sem muitas preocupações.

Meu pai, o rei Malkiur, esteve muito ocupado em reuniões confidenciais a respeito daquele dragão e dos relatos de cada soldado. Ele recebeu também o rei de Senka, onde viviam os magos das sombras, mas não vi quando o visitante chegou ou quando partiu.

- Helene, está mais bonita a cada dia. - o rei falou quando entrou no jardim de inverno, onde eu observava as rosas brancas. Inclinei meu corpo em sua direção e curvei-me para cumprimentá-lo.

- Muito obrigada, meu pai.

Ele parou de andar ao meu lado e olhou através da janela para a neve que começava a cair enquanto refletia.

- Enfrentaremos uma guerra contra os domadores em breve, como você sabe... - Malkiur fez uma pausa para que eu concordasse, então continuou. - Por isso agora temos uma aliança com os itzans. O que quer que você e o príncipe Kardama tenham feito, foi o suficiente para nos dar esperanças de que juntos temos alguma chance contra eles.

Isso era como um elogio. Sorri ao ouvir, mas meu pai não acompanhou, por isso franzi o cenho confusa.

- Mas precisamos de algo que firme essa aliança, que garanta que nenhuma das partes possa voltar atrás, que dê segurança aos nossos soldados e ao nosso povo a respeito de nos unirmos com aqueles que eram nossos inimigos e que nos odiavam até agora. - O rei finalmente inclinou seu corpo em minha direção e continuou com certa tristeza. - Eu estou te dando uma opção. Você pode negar, Helene. Esse seria o melhor para o nosso reino e para o nosso povo, mas não seria o melhor para você. Eu estou falando isso como um pai, porque já conhece minha opinião como rei.

- Do que você está falando, pai? - Estreitei meus olhos enquanto o encarava ao perguntar.

- De um casamento com o príncipe Kardama Halfu. - Ele foi direto.

Senti meu corpo congelar. Aquela era uma das decisões mais difíceis entre as quais eu já havia sido exposta. Encarei as rosas brancas novamente, porque senti que precisava de algum ponto que desfocasse meus pensamentos confusos. Era mais uma das vezes em que eu precisava escolher entre a pessoa que desejava ser e a pessoa que meu povo precisava que eu fosse. Meus olhos lacrimejaram.

- Eu sei sobre você e o soldado Ermy. - Meu pai continuou a falar em tom de lamentação.

Inclinei meu rosto em sua direção para negar, mas não consegui. Não era como se fosse um segredo.

- Você pode negar a proposta, Helene. Tenho certeza de que podemos encontrar outros jeitos. - O rei segurou a minha mão como não fazia desde a minha infância.

Não. Eu vivi a minha vida para aquele título, para aquele povo, e aquele seria o jeito mais fácil de garantir que os magos das sombras não descumpririam sua parte do acordo. Era a única forma de realmente termos controle sobre aquilo e de ter certeza de que nosso povo estaria seguro. Por mais que desejasse (e muito) ter uma vida com a pessoa que escolhesse, eu jamais poderia ignorar as necessidades da coroa de Aruna.

Minha prioridade sempre seria o meu povo e Ermy sabia disso.

- Mas você não encontraria nenhum jeito tão seguro, não é? - perguntei, mas não esperei que o rei respondesse antes de continuar. - Eu aceito casar com o príncipe Kardama, minha prioridade é o nosso povo.

O Príncipe Sombrio [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora