Capítulo 2

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Lembro-me perfeitamente do dia em que recebi a incrível bolsa para terminar meus estudos na Parsons. Gritei, chorei, gritei, orei, gritei, agradeci, comemorei com minha família, e na companhia de minha irmã caçula, gritei mais um pouco.

Foi uma oportunidade incrível que mudou completamente o rumo da minha vida acadêmica/profissional. A Parsons é provavelmente o sonho número um dos estudantes de moda de Nova York. Com nome forte, tem entre seus ex-alunos Donna Karan, Marc Jacobs, Tom Ford, Narciso Rodriguez e Alexander Wang. Só fera!

Mesmo não sendo realmente um sonho meu, em todo o período da faculdade, e pós faculdade, busquei dar o meu melhor. Poupar esforços estava fora do meu vocabulário e rotina. Consequentemente acabei me destacando e chamando atenção de figuras importantes no mundo da moda.

Certa vez, em um parque qualquer localizado perto da Parsons, observei uma senhora caminhando elegantemente, vestida com um dos modelos de destaque da Chanel daquela estação. Analisei atentamente a bela peça engomada, e a cada detalhe recém-descobertos meus olhos brilhavam de admiração.

E foi naquele parque, em pleno verão norte-americano, que tracei em meu coração o objetivo profissional mais desejado e difícil de ser alcançado, aos olhos humanos, trabalhar na Chanel.

Hoje, com pouco menos de 6 anos de formada, alcancei minha maior meta. Não apenas trabalho na sede da Chanel, mas sou uma das principais estilistas de uma das maiores e mais influentes empresas do mundo da alta-costura. Meu nome pode não ser o mais conhecido mundialmente, entretanto, pude sentir o peso da responsabilidade em meus ombros desde o primeiro dia na empresa.

Apesar de todo estresse e agitação das últimas semanas, estava alegre e grata com o meu Deus. Por esse motivo, não deixo de colocar o meu melhor sorriso no rosto ao entrar na sala de reuniões, acompanhada de Louise, minha nova e fria parceira.

— Bonjour, Alain! — Ela o cumprimenta com o mesmo tom de sempre. Forço-me para não revirar os olhos.

— Bonjour, senhor Wertheimer! ­­— O homem se põe de pé a nossa frente, abotoando os primeiros botões do terno grafite. Fecha a cara e diz com seriedade.

— Já disse para me chamar apenas pelo primeiro nome, Ana! Deixemos as formalidades para os nossos clientes. — Pisca voltando sua atenção para a mulher ao meu lado, que acompanha nosso pequeno dialogo em silêncio — Trouxe tudo o que lhe pedi, Louise?

— Trouxe sim! — Retira da pilha de documentos que estava em seus braços, uma pasta preta fina, e logo estende em direção ao homem. Alain pega o objeto com certo receio.

Olho de relance para ela, sem entender exatamente sobre o que os dois falavam. A mesma me lança um olhar rápido. Reconheço o alerta, não deveria me intrometer neste assunto. Prefiro ignorá-la e voltar minha atenção para o CEO da empresa.

Sua reação me deixa um pouco preocupada. A medida que lia o suposto documento, suas pálpebras tremem e ele fecha as mãos com força, antes de socar a mesa de mármore. Dou um pequeno pulo com o barulho. Certamente deve ter doído, no entanto, aposto que ele não sentiu absolutamente nada, tamanha é sua raiva.

— Eu não posso acreditar nisso! — Fala alguns palavrões em francês — Você tem certeza que estas informações são verdadeiras, Louise. — Encara a mulher.

— Infelizmente! Nossa fonte é confiável, e você sabe disso! — Diz colocando o restante do material em cima da mesa.

Ele joga as folhas sobre o mármore Carrara, que se espalham. Algumas até caem no chão, mas os dois parecem ignorar.

— Sentem-se! — Nos orienta após respirar pesadamente algumas vezes.

Faço o que ele pede, em silencio, lançando outro breve olhar em direção à Louise, que me ignora.

𝗗𝗮 𝗩𝗮𝗿𝗮𝗻𝗱𝗮 | Em Paris [Livro 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora