TALVEZ Ivy Island esteja certa em optar pela solidão do bosque,árvores e lagos não mentem, não julgam e não lhe dizem o que fazer, estão em silêncio perpétuo, são a forma mais sincera de respeito que conheço.O caminho é feito como os cabelos dela: uma serpente de terra que parte ao meio as árvores avermelhadas.
A trilha se desmancha perto de uma árvore maior do que as outras,Mada Vera mencionou a árvore, disse que eu precisava fazer uma curva por ela.
A natureza tem seu papel em amenizar o objetivo que tenho ao atravessa-la, é difícil pensar em ódio quando vejo tanta vida acontecendo, me sinto pequena outra vez, mas não de uma maneira ruim.Faço a curva e ando por cerca de vinte minutos até avistar uma casa no horizonte.
A madeira foi pintada de branco, flores e plantas estão por todo lado, o lago reflete a luz do sol,estendendo generosidade sob a casa de Ivy Island.
De repente estou sem fôlego.
É como estar dentro de um quadro paisagista, ninguém sabe quem eu sou, mas sou divina e bonita.
Sinto a brisa acariciar meu rosto até o final do caminho,observo a casa de Ivy Island bem a minha frente, toco o apoio dos degraus da varanda, provando que se trata da realidade.
Hesito antes de bater na porta, eu não deveria estar tão nervosa, mas estou, sinto até a respiração trêmula.
Ensaiei o que diria a ela assim que a visse, treinei com olhos raivosos em frente ao espelho, eu parecia verídica, mas agora me sinto mais como uma lebre assustada.
Bato na porta de uma vez, espero, espero e espero por cerca de dez minutos, quase vou embora,mas mesmo virada de costas, ouço o ranger da porta, os passos de alguém confuso.
- Espera moça, aonde você vai?
Esta é a voz de Ivy Island,muito mais bonita do que imaginei,se parece com a mesma brisa quente que acariciou meu rosto.
Viro-me para ela, prendo o fôlego e ajeito o corpete, fito seu rosto com rigidez, espelhando o olhar das Madas sobre todos.
Ivy Island tem os cabelos desgrenhados, está de camisola no meio do dia, mas o rosto continua o de uma boneca de porcelana.
Engulo a seco, não tenho saliva para falar, mentalizo os motivos que me trouxeram para este bosque encantado, alimento a raiva e o ressentimento.
Ivy Island roubou meu marido, mesmo que por uma noite, mas roubou.
Ivy Island seduz homens com sua beleza exótica, os encanta até sua casa isolada, um por um.
A puta ruiva da vila ao norte.
- Você é Ivy Island certo? - pergunto, ríspida.
- Por enquanto sim, ainda não descobri uma sócia.
Ela abre um sorriso, está brincando comigo, caçoando da minha dor.
- Escute de uma vez, fique longe do meu marido - aponto o indicador na sua direção - como se já não bastasse o próprio pecado, quer carregar homens casados com você.
A ruiva arregala os olhos por um instante e desce os degraus da varanda, seus olhos são castanhos, mas não pálidos feito os meus, são dourados e uniformes.
Ela se aproxima de mim, fita meu rosto com uma propriedade assustadora,talvez ela tenha sugado minha alma neste instante - há pessoas que a acusam de bruxaria afinal.
- Seu marido é Daniel Fraser? - pergunta,a voz baixa.
- Exatamente, vejo que também coleciona o nome dos homens que seduz.
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Ivy
RomanceDepois das montanhas e da floresta esquecida,a pacata e religiosa vila dos Prudentes atravessa um outono marcado pela guerra. Apesar do conflito territorial que acontece nas fronteiras,uma jovem mulher de reputação controversa está de mudança para...