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Ruggero

Sem segredos. Ou então mandamos logo esse filho duma égua tomar no cu; tá ligado?
— Boa, gostei. Depois do almoço, passe aqui para a gente ir.
***
Um pouco mais tarde, mike  e eu estávamos descendo do meu SUV em frente ao
prédio onde funciona a empresa de publicidade de Sérgio e, agora, de Carolina . Ainda não
entrava na minha cabeça como Carolina  tinha conseguido comprar parte dessa empresa.
Era uma coisa que eu ia descobrir sim.
Vestidos elegantemente como estamos, ninguém nem tenta nos deter. Quem vai
parar dois requintados homens vestidos com terno e gravata? Estou me sentindo o James
Bond.
Fomos direto para o andar onde fica o escritório de Sérgio. A recepcionista da
entrada disse que ele não poderia atender agora, pois estava em horário de almoço. Mas,
depois do charme que Mike  jogou, ela disse que poderíamos esperar na sala de espera do
escritório do chefe.
Antes de seguir para os elevadores, aproveitamos que a mulher estava com olhinhos
brilhantes para nós dois, e eu já me adiantei:
— Fiquei sabendo que o Sérgio vai vender uma parte da sociedade — jogo verde.
A recepcionista se curva para frente e, em tom de segredo, diz:
— Isso é segredo de estado. Quem falou com vocês?
— Carolina  — despreocupadamente, mike  diz.
Tenho vontade de dar um cutucão nele. Ele atirou no escuro sem ter certeza. Por
sorte, a mulher dá um sorriso aliviado.
— Ah, bom. Então não é fofoca.
— Conhece Carolina ? — eu pergunto.
Mike  me direciona um olhar orgulhoso, afinal ele deu a cartada certa.
— Sim. Ela trabalha aqui. É bem íntima de Sérgio.
— Ainda trabalha? — questiono. — Ela está em Nova York — explico logo em
seguida.
— Pois é, ela está representando a filial de Nova York.
Agradecemos a mulher e fomos para o elevador. Assim que chegamos ao tal
escritório de Sérgio, encontramos um cara atrás de uma mesa.
Puta merda. Se fosse uma mulher seria mais fácil, bastaria eu ou mike darmos um
sorriso e arrancaríamos informações. Bem que esse cara podia ser gay.
Ele levanta os olhos e encara nós dois.— Senhores — cumprimenta a gente, seriamente. — Posso ajudá-los?
— Sim, viemos falar com Sérgio.
— Ele não está no momento. Querem esperar, ou deixar um recado?
— É só com ele mesmo. É a respeito das ações que ele vai vender — mais uma vez
Mike se adianta, ele acaba de usar a cara séria de executivo.
— Certo. Esse assunto é só com ele mesmo, mas já vou adiantando que chegaram
tarde demais. Sérgio já encontrou um sócio.
Eu e Mike  nos olhamos e depois voltamos a atenção para o rapaz.
— Como assim? Já?
— Já.
Passo as mãos nos cabelos e finjo exasperação.
— Conversamos ontem com Carolina  — digo, me fazendo de revoltado.
— Conversaram? Como assim?
— Sim, ela disse que estava querendo investir na sociedade, mas que se
chegássemos na frente estaria tudo bem.
— Carolina  disse isso? Como pode? Ela já comprou as ações.
— Ela comprou? — sem ensaiar, eu e Mike  falamos juntos, o que deu um ar de
veracidade à nossa encenação.
— Sim — ele assente, pensa um pouco e fala: — Bom, na verdade não foi bem ela.
Foi o namorado dela. Colocou no nome dela nas transações, porque ele está resolvendo
algumas coisas com os documentos.
Opa! Informação importantíssima. Olho de relance para Mike  e, pela cara dele, com
certeza, está pensando o mesmo.
— Então está bem — com um sorriso gentil, eu digo. — Ligaremos para Sérgio
depois.
— Como é o nome dos senhores? Para eu avisar Sérgio.
— Eu sou Tarcísio Toledo, e esse é meu irmão, Heitor — mike se apresenta de modo
cortês. Fico com vontade de rir. — Sérgio saberá quem é — ele completa. É um safado
sênior.
O rapaz se levanta e aperta nossas mãos. Andamos até a porta, mas, antes de sair,
eu me viro e falo:
— Esqueci o nome do namorado de Carolina . É Bernardo, não é?
— Não, é o Bento.
— Um moreno de cabelos compridos? — mike  percebe minha jogada e entra no jogo.
Cordialmente, o homem responde.
— Não. Bento é loiro.
— Muito obrigado — eu digo e saio com mike .
— Fazendo um balanço… — mike começa a falar dentro do elevador. — Se o
defunto de karol estiver mesmo vivo, ele é o sócio de Sérgio. Carolina é apenas um
laranja.
— É — assinto.
— Mas se ele mudou de nome, por que precisa dela como cobertura?
— Acho que não quer atenção nenhuma para ele — concluo e continuo raciocinando.
Será possível que minhas suposições estejam mesmo certas, e Carolina  está
namorando o bunda-mole morto?
Olhando para os números que passam no painel, eu pondero:
— Agora que a coisa se complica. Karol não só está sendo enganada pelo ex-noivo
morto, como também pela irmã. Como acha que eu poderei dar essa notícia a ela?
***
Perdi o resto do dia de trabalho porque não conseguia me concentrar. Karol  vai
sofrer demais com todas essas revelações. Estou com tanta pena dela.
É o cúmulo da safadeza, da maldade. Ela, que venera tanto esse cara, descobrir que
ele não passa de um bandidinho de quinta e ainda com o apoio da irmã e de Renato,
aquele desgraçado. Eu garanto que se eu vejo um cara desses na minha frente, deixo
moído. Não só por estar enganando-a, como também por estar indiretamente atrapalhando
meu relacionamento com ela.
As horas se arrastam, então decido ir embora. Antes de eu sair da minha sala, o
celular toca. Um número desconhecido. Atendo imediatamente.
— Oi, Ruggero.
— Karol ?
— Já está vindo para casa?
— Sim. Estou de saída. Aconteceu alguma coisa?
— Preciso conversar com você. Não demore.
— Tá. — Clique, ela desliga.
Saio correndo, aviso a mike e eu nem consigo explicar para ele o que ela quer. Não
consegui distinguir pela voz. Dirijo o mais rápido possível. Pela voz dela é algo sério. Será
que descobriu tudo sobre as armações da irmã? Se for isso será muito bom. Vai me livrar
de uma fria daquelas, e eu não precisarei contar nada. Ou pode ser para me dizer que   acabou, e que ela se cansou. Pode ser qualquer coisa. Estou aflito.
Assim que abro a porta, a encontro na sala, sentada na ponta do sofá. Está linda,
sem nada de maquiagem, com os cabelos penteados para trás e vestindo um vestido
simples, como os que vestia em Angra.
Tento encontrar algum sentimento negativo nos olhos dela. Nada decifrável.
— Oi — cumprimento.
Deixo minha bolsa e meu terno no sofá e vou até ela. Dou um beijinho nos lábios e me
sento ao seu lado. O cheiro do perfume do hidratante dela me toma, e me sinto em casa.
É muito bom estar com ela. Queria só abraçá-la, sem dizer nada.
Sem levantar o rosto para me encarar,  karol começa:
— Ruggero, eu fui uma completa idiota — ela dispara logo de cara. Abro a boca para
falar, mas ela me faz parar. — Eu agi mal com você. Deveria ser grata por tudo o que fez,
por tudo o que vivemos em Angra. Você é o homem que amo, e essa vingança está nos
afastando.
Não revido nem contesto. Apenas puxo-a e a abraço. Karol  descansa o rosto no
meu peito e respira fundo. Ainda sem acreditar no que acabei de ouvir, não consigo conter
um sorriso. Beijo o alto da cabeça dela.
— Será que você pode me perdoar? — ela sussurra.
Levanto o rosto dela. Com um sorriso deslumbrado, eu digo:
— Não tenho nada que te perdoar. Eu não fiz nada para merecer seu perdão. Eu fui o
idiota da história, te machuquei e só posso agradecer por você ainda me querer.
Ela me abraça de novo. Olho em volta e não vejo Beni.
— Onde está Beni?
Karol se afasta e, com um sorriso singelo e meio sem graça, diz:
— Eu pedi para sua mãe para cuidar dele. — Ela coloca uma mecha de cabelo atrás
da orelha e desvia o olhar. — Queria me reconciliar com meu marido do jeito que a gente

Minha perdição   (Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora