Ruggero
— Ela está te usando, karol ! Abra os olhos, deixe de ser…
Ela fecha a mala, a puxa para o chão e limpa mais uma vez as lágrimas.
— O quê? Burra? Isso, eu sou burra mesmo. Todo mundo caga na minha cabeça, faz
o que quer de mim. Mas dessa vez não. Dessa vez, nem você e nem aquela vadia
desgraçada vão me iludir.
— Isso não tem a ver comigo, karol. — Desesperado eu a impeço de sair.
Eu tento segurar no braço dela, mas karol se vira rápido e desfere um tapa no meu
rosto.
— Não quero mais olhar na sua cara.
E eu deixei ela ir embora, levando consigo o meu filho. Da primeira vez que Carolina o
afastou de mim, não foi tão doloroso, pois ele nem era nascido ainda, e eu nem o
conhecia. Agora, meu peito pesa tanto de dor, que a única coisa que posso fazer é me
sentar no sofá apático.
Eu posso reverter isso? Apesar da vontade, eu me recuso a chorar. Ainda tenho uma
carta na manga, provar que Bernardo está mesmo vivo. Preciso ser frio e pensar com
calma, mesmo que perca todo o ânimo para lutar.Carolina
Logo depois
Sai do prédio que Ruggero e entro em um carro que me espera. Sérgio tinha, pouco
antes, ligado para karol e pedido que ela se encontrasse com ele, só para tirá-la de
casa, e eu poder agir.
— Deu tudo certo? — ele me pergunta.
— Sim. Ainda ganhei um tapa de brinde. — Passo a mão no local do rosto que está
ardendo. Aquela desgraçada me paga. Quando abrir os olhos já levou um golpe.
— Aqui estão as fotos que Carla tirou. E agora?
Recebo as fotos e, pensativa, digo:
— Agora é a segunda parte. Esse divórcio tem que sair de qualquer maneira.
— E como vai pegar o dinheiro que ela ganhar no divórcio?
— Ainda vou pensar nisso.
Karol
Estou em um modesto hotel, ainda no Rio, com um vazio no lugar do coração. Me
sento com Bernardo no colo e passo os olhos ao redor, conhecendo o ambiente. É um
quarto médio, bonito e que vai me servir. Estou com frio e um leve desespero. Sinto falta
de Ruggero e não estou mais com raiva dele. Toda aquela ladainha de a gente só dar valor
depois que perde é a mais pura verdade. Estou acordada para a vida, vendo tudo por
outro ângulo, um ângulo que não incrimina Ruggero.
Assim que saí da casa de dele, entrei no carro e dirigi rumo à Angra. Eu ia voltar para
casa, para minha antiga vida, ver Renato todos os dias me cercando, deixar Bernardo com
uma babá para poder ganhar o pão de cada dia e sofrer todas as noites sozinha, sentindo
a paixão queimar no meu peito.
Entretanto, todos nós temos um anjo da guarda, ou alguma coisa que entra no nosso
caminho quando estamos cegos para o perigo à frente. Eu encostei o carro na estrada,
descansei a testa no volante e chorei copiosamente. Não por estar me sentindo traída,
mas porque toda a verdade surgiu na minha frente, e eu tive medo de bater o carro por
causa da aflição que tomou conta de todos os meus sentidos.
Ninguém precisou dizer nada, simplesmente abri meus olhos. Eu já sabia – aliás,
sempre soube – que agi errado com Ruggero, agora estou envergonhada. Eu o insultei, fui
grossa e má. Eu o humilhei quando, no fundo, eu estava acreditando nele, só deixei meu
orgulho falar mais alto. Não precisa ser um Sherlock Holmes para perceber que tudo não
passou de uma armação de Carolina .
Ruggero estava trabalhando arduamente em uma maneira de conseguir meu perdão,
engolindo todos os meus desaforos só para me reconquistar. Por que ele colocaria tudo a
perder indo para a cama justamente com a ex que ele mais odeia? Ainda mais em casa, no
lugar onde eu poderia aparecer a qualquer momento, e apareci.
Foi uma armação tosca, digna de novela de quinta, e eu acabei caindo. Se ele
quisesse ser infiel, faria isso escondido, não na minha frente. Outra coisa que me deixou
alerta é a questão de Beni; Ruggero sabe que, se ele me trair, perde a guarda do filho. Ele
colocaria isso a perder só por uma transa com Carolina ? Desperdiçaria tudo o que ele fez,
desde assumir uma identidade falsa até se casar comigo para ter o filho de volta, por uma
rapidinha com a ex? Como eu pude ser tão tola? Ele não estava passando por um celibato,
nós estávamos fazendo sexo normalmente, mesmo que nos meus termos bobos, sem muita firmeza.
Ruggero não precisava se submeter aos encantos de Carolina , ou melhor, ele sequer
deixaria ela abrir a boca. Eu, a tola karol , tenho conhecimento do último encontro deles
lá no hotel em Angra. A própria Carolina me contou como ele a insultou.
Me sentindo tão mal e envergonhada, deixo Bernardo na cama e penso no que vou
fazer. Ainda estou no Rio, preciso voltar para tentar me desculpar com Ruggero, mas não hoje.
Antes, eu preciso saber o que Carolina ganha se eu me separar dele. Além do mais, preciso
deixar as coisas se acalmarem. Vou esperar o fim do dia de amanhã, quando ele chegar
da empresa, para ir na casa dele e, se preciso, me ajoelhar. Ruggero tem se mostrado
respeitoso e carinhoso desde o primeiro momento e não mereceu aquele tapa.
Me sento na cama com Bernardo e começo a raciocinar. Preciso deixar de ser tola e
agir. Por mais que Carolina seja minha irmã, ela sempre mostrou a que veio, suas vontades
sempre são um decreto e ela pode ter ficado puta de raiva quando eu não quis seguir os
planos dela, que consistia em fazer aquela vadia da Carla seduzir Ruggero. Sei que ela pode
agir por vingança, sem ter nada o que ganhar.
Decidida, pego o celular e ligo para a babá que cuidou de Bernardo duas vezes
quando eu e Ruggero saímos de noite. Tenho um plano meio louco em mente, não sei se vai
dar certo, mas quero seguir meus instintos e agir enquanto o sangue ainda está quente.
Depois que acertei o horário com a babá, escolhi uma roupa e tomei um banho rápido,
afinal Bernardo ficou sozinho no quarto. Não me arrumei muito; vesti um jeans, um top e
uma jaqueta por cima. Calcei uma bota e, já pronta, pego meu celular. É hora de encenar.
Não sou uma artista como Carolina ou os três executivos. Aqueles caras poderiam ser
atores, me enganaram direitinho. No segundo toque, Carolina atende.
— Carolina , ainda está na cidade? Preciso falar com você… — falo com uma voz
chorosa.
— Estou no meu apartamento, karol . Onde você está? Eu vou até aí.
— Eu sai de casa, Carolina. Estou me sentindo um lixo por ter te agredido. Eu…
preciso que me explique o que aconteceu. Quero entender. — Suspiro, gaguejo e soluço
imitando choro.
Ela parece acreditar e diz para eu ir encontrá-la.
Espero a babá chegar, dou as últimas recomendações e me despeço de Beni. Ruggero
ainda não me ligou ou mandou mensagem depois do que aconteceu. Espero que seja fácil
quando eu for até ele pedir desculpas. Nisso eu pensarei depois, porque agora eu preciso
fazer o que já devia ter feito no dia em que minha irmã cismou que a Barbie quebrada era a minha e conseguiu convencer meus pais de que a boneca intacta era a dela. Manipulação é
o nome do meio de Carolina .
Às oito e meia da noite, paro meu carro em frente ao prédio de Carolina . Faço um
aceno rápido ao porteiro e entro. Às vezes a gente só precisa de um empurrão para tomar
fôlego e deixar de ser passivo. Não sei se vocês sabem, mas as abelhas são pacatas,
adoráveis e são essenciais para a polinização de várias flores, além, é claro, da fabricação
de mel. Umas fofuras, não é? Entretanto, se alguém provocá-las, elas se tornam seres
hostis, dispostas a morrer para ferir o inimigo. As abelhas só atacam para se proteger, e é
o que farei agora.
Não pensem que sou bobinha em relação à minha irmã. A conheço mais do que
qualquer um e, se ela foi capaz de doar um filho por capricho, o que ela não pode fazer
com a irmã?
Bato na porta, e Carolina atende de imediato. Ela procura no meu rosto, creio eu,
algum sinal de desolação.
— Entre, karol . — Ela se afasta, e eu passo.
Olho ao redor e não consigo deixar de sentir um perfume masculino no ar.
— Está acompanhada? — pergunto.
— Não, meu namorado ficou em Nova York.
Eu assinto, ela caminha e fica de frente para mim, meio sem graça, descansando as
mãos nos quadris. Deve estar pensando em como vai me manipular. Carolina precisa
analisar o oponente para poder saber que arma do seu arsenal vai usar.
— Então, kah , sobre Ruggero e eu… — ela começa a falar, e eu me sento no sofá. Vou
apenas ouvir, dar toda a corda que ela precisa. — Ruggero sempre foi obcecado por mim. Eu
tento fugir dele, tentei ir embora, mas ele me cercou. — Ela senta na ponta do mesmo
sofá que estou.
Tão cínica. Por que ela faz isso? Eu sou a irmã dela, poxa! Ela devia ter um pingo de
consideração por mim. Respiro fundo e continuo encarando-a. Vou deixar ela gastar
bastante saliva.
Com o cenho franzido em uma expressão de sofrimento, ela continua falando:
— Eu tentei insultá-lo, falei que ele era seu marido, mas ele estava determinado. Me
fez usar um vestido seu e…
Não espero ela terminar. Não consegui esperar e ver até onde ela vai.
— O que veio fazer aqui no Brasil?
Karol para e fica me encarando calada, possivelmente pensando por que eu continuo com essa cara séria.
— Vim resolver algumas coisas da empresa…
— A mesma empresa em que eu trabalhava até ontem?
— Sim.
— E não me falou nada. Sérgio não comentou nada também, e não te vi em nenhum
momento por lá.
— Eu ainda não tive tempo de ir na empresa. — Ela agita os cabelos, meio tensa —
Sérgio deve ter esquecido de te falar.
— O que veio fazer no Brasil, Carolina ? — Torno a perguntar, mostrando que não
acreditei em nada disso.
Ela me olha, incrédula. Deve estar se perguntando por que as palavras dela ainda não
me convenceram.
— Karol , pelo amor de Deus! Eu tenho meus assuntos…
Balanço a cabeça afirmativamente e olho no fundo dos olhos dela.
— Sérgio teve alguma coisa a ver com isso tudo?
— Isso tudo o quê?
— Você ter armado essa coisa de transar com Ruggero.
— Como assim, karol ? Tenho auto respeito e…
— Sérgio tem alguma coisa a ver? — pergunto mais alto do que a voz dela tentando
se explicar, tentando se fazer de vítima. Ela se cala e eu prossigo — Eu estava em casa
cuidando das minhas coisas quando ele ligou pedindo que eu fosse à empresa buscar os
papéis da minha demissão. Insistiu muito e, coincidentemente, no mesmo horário você
estava na minha casa, dando amassos no meu marido.
Com um tique nervoso cínico nos lábios, ela fala:
— Vai continuar abrindo a boca para chamar aquele traste de marido? Ele te traiu,
sua tola.
— Me traiu? Com quem? Com a mulher que ele odeia mais do que tudo? O último
encontro de vocês foi marcado por insultos e palavrões, você mesma me contou. Ou se
esqueceu disso também?
— Como?
— A questão, Carolina , é que eu preciso entender isso direito. Seus planos. Não
estamos mais brigando por uma Barbie. Essa é minha vida, minha família: meu filho e meu
marido, e você está tentando arruinar.
— Só quero te lembrar que eu dei a luz à Bernardo e…
— E o quê? Vai querer ser mãe agora? Você quis abortá-lo várias vezes, você quis
doá-lo para pessoas desconhecidas, você deu seu bebê para mim como se fosse a Barbie
velha que você não queria mais.
— Tive meus motivos, e você sabe.
Ela se levanta, está meio pálida, tenta fazer uma expressão mortificada, mas não
consegue.
Me levanto também e, de braços cruzados na frente dos seios, indago:
— O que você ganha se eu me separar do Ruggero ?
— kah ! Está me insultando.
— O que você ganha com minha queda, porra? — grito, começando a perder a
compostura. — Acha o quê? Que eu sou burra?
— Não há nada que eu possa ganhar com sua separação! — ela grita de volta.
— Não? Então por que saiu do quinto dos infernos para me atentar? Será que já não
aprontou demais comigo?
Com os dentes trincados de raiva e um olhar de pura arrogância, ela rosna:
— Ele encheu sua cabeça, não é? Se quiser acreditar no homem que te enganou se
fazendo passar por outro…
— Ruggero não é a questão aqui — interrompo-a. — O assunto é entre você e eu. Me
fale o que quer, ou juro que arranco à força de você.
Ela solta uma gargalhada exagerada e, com uma cara odiosamente cínica, fala:
— karolzinha, tão ingênua, tão tolinha. Acha mesmo que pode vir aqui e me
confrontar? Acha mesmo que pode me ameaçar ou me colocar medo? Você é minha irmã,
e já devia saber que dificilmente alguém entra no meu caminho.
— E quem disse que vim aqui te ameaçar? — rebato de mansinho e dou um passo
em direção a ela.
Sabe, gente, uma leoa, quando vai atacar, não parte pra cima correndo. Ela se move
devagar para não afugentar a presa.
— Então perdeu sua viagem. O que eu fiz ou deixo de fazer é problema meu. Ruggero ,
seu lindo maridinho, sempre me amou. Será que não percebeu que ele só está com você
porque se parece comigo? Você é a Carolina que ele queria. Com a minha cara, mas que
não pensa direito, não interfere na vida dele, não se impõe. Uma eterna submissa. Se
enxerga, garota. Uma vez karol, sempre karol.
— Sabe o que é melhor nisso tudo? De ser tolinha e submissa? — eu pergunto, sem
me abalar com o que ela falou, é triste mas eu já esperava por isso. — As pessoas nunca sabem quando eu vou atacar.
Dizendo isso, levanto minha mão e, com toda a força e rapidez que me cabe, corto o
ar e acerto o rosto dela com uma bofetada. Não foi qualquer bofetada, foi com as costas
da mão, daquelas de fazer ver estrelas.
Despreparada, Carolina não tem tempo de entender o que aconteceu. Ela ainda está
zonza, mas eu avanço e tasco outra bofetada. Ela tenta reagir, mas sou mais rápida,
seguro nos cabelos dela e a empurro contra a parede. Carolina se debate, e eu dou outro
golpe, agora foi quase um soco no queixo.
Volto a segurar nos cabelos dela e, mesmo com ela tentando me acertar, eu a jogo
contra a estante linda que ela tem. Desequilibrada, Carolina cai contra a TV, e várias coisas
caem junto com ela, se espatifando no chão. Deixo ela caída entre os cacos, se
levantando, então pego um vaso e jogo contra a mesinha de centro de vidro. O barulho de
ambos espatifando é divino, libertador. Depois, pego uma estátua de bronze e, com ela,
bato na TV até trincar. Quebro, ainda com a estátua, o moderníssimo aparelho de som.
Carolina se recupera e se levanta com a mão na cabeça. Com os dedos trêmulos,
passa a mão nos lábios. Assim que ela percebe que está sangrando, seus olhos flamejam
de ódio, e ela vem para cima de mim.
— Vadia desgraçada! — grita e, com o punho fechado, tenta me acertar um soco. Eu
disse tenta, pois eu seguro o braço dela, dou um rodopio e o prendo em suas costas. —
Ai, meu braço, vagabunda! — ela grita, eu a empurro com toda a força, e ela cai contra o
carrinho de bebidas.
Caminho para perto dela, ergo-a pelos cabelos e dou mais uma bofetada.
— Isso é pelo Beni. — Carolina tenta me bater, mas eu dou uma rasteira, ela cai e eu
sento por cima. Outra bofetada.
— Isso é pela mamãe.
— Desgraçada! — ela grita, tentando me tirar de cima da barriga dela. — Vai pagar
caro, karol . Eu vou acabar com sua…
Antes de ela falar, dou outra bofetada.
— Essa é por você ter tirado o direito de um pai conhecer o próprio filho. —
Imediatamente, outra bofetada. — E essa é para te mostrar que enquanto você estava
estudando, sendo refinada e fazendo faculdade, eu estava sobrevivendo, aprendendo a me
defender.
Enfio minhas duas mãos nos cabelos dela, e as mãos dela se fecham em meus
punhos na tentativa de me fazer parar. Carolina está sangrando na boca, tem um corte no rosto e lágrimas começam a cair dos olhos dela.
— Vou te falar só uma vez — ofegante, mas ainda mantendo um pouco de controle na
voz, eu falo. — Não tente se intrometer na minha vida de novo.
— Vaca desgraçada! — ela grita e cospe na minha cara.
Solto os cabelos dela e limpo o rosto. Me levanto e digo friamente:
— Apesar de tudo, eu não te odeio. Eu só vim aqui dar a surra que mamãe e papai
deveriam ter te dado no dia em que aprontou a primeira safadeza.
Pego minha bolsa e, sem olhar para trás, eu deixo o apartamento dela. Amanhã vou
conversar com Ruggero como dois adultos. Chega de armações e planos. Essa coisa de
vingança não dá certo. Ou a gente se entende, ou saímos desse casamento como duas
pessoas maduras que sabem lidar com os problemas.
***
Chego ao hotel, libero a babá e deito do lado de Bernardo, que dorme
tranquilamente, totalmente indiferente ao que acontece no mundo dos adultos. Dou um
beijo na bochecha dele. Até ainda há pouco eu estava toda trêmula, com o coração
batendo no pescoço, foi adrenalina pura. Não sei se foi certo, mas eu estava engasgada
com minha irmã há uns vinte anos. Eu ainda não sei o que ela está aprontando. Já começo
a pensar seriamente sobre aquela história maluca que Ruggero contou sobre Bernardo e já
duvido de Sérgio também. O fato de ele ter ligado pedindo para eu ir vê-lo pode ter ligação
com o plano de Carolina . Melhor não confiar em mais ninguém.
Pego meu celular e digito. Preciso contar tudo para meu pai antes que Carolina faça
isso. Ela tem especialidade em se fazer de vítima. Ele atende, eu digo a ele que está tudo
bem comigo e com Beni e começo a narrar tudo, desde quando descobri sobre Ruggero. Ele
fica calado ouvindo tudo e, quando eu termino, ele fala:
— E o que vai fazer agora? Quer mesmo continuar com esse cara? Lembra de tudo o
que sua irmã contou sobre ele? — meu pai me pergunta isso porque eu ainda não cheguei
na parte que descobri sobre os planos de Carolina .
E pensar que ela fez minha cabeça contando horrores sobre um Ruggero sem moral, sem
respeito e impiedoso.
— Pai, o senhor sabe como Carolina é engenhosa. Hoje eu tive um confronto com ela e
acabei dando uns tapas nela.
— O quê? Vocês brigaram? Ela está aqui no Brasil?
— Sim. Veio se intrometer na minha vida e fez uma armação para parecer que Ruggero
estava me traindo.
Conto para ele resumidamente tudo o que aconteceu.
— E agora? Vai voltar para ele? — Nota-se que essa é a única preocupação do meu
pai.
— Sim, pai. Não vou pedir o divórcio e tirar o filho dele. Carolina já fez isso uma vez,
lembra? Ruggero me deu muitos motivos para eu acreditar nele.
— E você? Também deu motivos para ele acreditar em você? Um casamento só dá
certo quando a base é a confiança. Se você confia nele, faça ele confiar em você também.
— Claro. Amanhã eu irei conversar com ele.
Me despeço do meu pai, peço para dar um beijo na mamãe e desligo. Troco de roupa
e me deito para dormir.
Enquanto o sono não vem, fico pensando sobre tudo o que aconteceu hoje. Eu tenho
um impulso de levantar e ligar para Ruggero, mas não faço isso. Preciso deixar ele esfriar a
cabeça, assim como eu. É melhor passarmos uma noite afastados para pensar em tudo o
que aconteceu. Eu estou tensa e, ao mesmo tempo, de alma lavada. Também estou me
sentindo um lixo por ter sido tão tola. Lógico que Carolina iria agir. E, quando penso que o
trabalho que ela arrumou para mim pode ter alguma coisa a ver com o plano…
Me viro de lado e continuo pensando.
No que mais essa relação com Sérgio pode favorecer ela? Teve a noite em que ele
apareceu no apartamento e já foi me beijando. Isso pode ser um truque dela, mas qual?
Sérgio contar para Ruggero que me beijou? Só pode. Amanhã vou jogar todas as cartas na
mesa. Contarei tudo para Ruggero, ele vai me entender.
***
Uma coisa é pensar, outra é a realidade. Todo mundo, antes de dormir, pensa nos
problemas do dia a dia, ou fazem planos para o dia seguinte. Alguns apenas se confortam
e tentam achar um lado bom para uma possível chateação que passou. Eu fiz isso. Fui
dormir tranquila pensando em como estaria esperando Ruggero em casa, eu sentaria com ele
no sofá, contaria tudo, pediria desculpas e ele me beijaria. Então outro dia nasce, e a
gente percebe que nada é como imaginamos.
Às onze horas da manhã, enquanto eu estava trocando Bernardo, meu celular tocou e
o nome de Ruggero apareceu na tela. Atendi de imediato. Frio e rápido, ele disse:
— Precisamos conversar. Onde você está?
Falei o nome do hotel e ele disse:
— Chego aí logo.
Me animei. Ruggero deve estar vindo com um buquê de flores, vai se ajoelhar ou fazer qualquer coisa. Termino de vestir Bernardo, passo um pente nos cabelos, faço uma
maquiagem rápida e fico de prontidão.
Meia hora depois, ele aparece. Eu abro a porta, e Ruggero parado muito lindo,
maravilhoso, de terno. Tenho vontade de pular nele e abraçá-lo, mas apenas me afasto
para ele passar.
Ele entra, olha ao redor e seus olhos pousam em Bernardo. Com uma voz meio
amarga, ele diz:
— Oi, garotão. — Vai até o menino, mas não o pega, só beija o rosto de Beni.
O bebê fica eufórico por ver o pai, começa a balançar os braços e Ruggero é obrigado a
pegá-lo.
— Sente-se, Ruggero. Fique à vontade — eu digo.
Ele nega com a cabeça, beija Bernardo de novo, dá um abraço e o coloca novamente
na cama. Abre a bolsa, pega um envelope e entrega para mim.
— Os papéis do divórcio.
Foi o mesmo que ter me dado um tiro. Senti minha boca amargar e um nó no
estômago se formando. Ele me encara sério com o envelope ainda estendido.
— Ruggero … eu… pensei melhor. A gente pode conversar…
Noto o maxilar dele enrijecer, os lábios se espremerem, e ele joga o envelope no
criado-mudo. Com o semblante carregado, diz:
— Não existe negociação. Agora sou eu que quero o divórcio.
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Minha perdição (Terminada )
Fanfictionkarol depois da morte de seu marido se fecha pro mundo decidi ser melhor seguir sua vida sozinha foca agora em criar o filho de sua irmã ruggero é um sedutor cafajeste incorrigível dono de uma empresa na zone sul da cidade nunca perdoa um rabo...