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Sem beta, de novo. Tenho que meçar minha impaciência.

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O jogo de paciência realmente foi um. Não foi tão logo quando um ou dois dias que o céu esteve limpo o bastante ou sem sinal de mau tempo para tentarem. No quarto dia de aguardo, Encre notou que o filho parecia bastante interessado em manter o rosto perto de sua mão, em vez de encostado sobre a alma. Felizmente, no dia seguinte o comportamento normal voltou como se nunca tivesse sido interrompido.

E, para a sua alegria, foi esse mesmo dia seguinte que a abertura foi dada: durante o dia, as nuvens que havia no céu foram sopradas pelo vento, a noite prometia ser linda. Depois de outra tentativa de evoluir os rascunhos ("Pressa mais atrapalha do que ajuda, meu amor"), enquanto recolhia o que iria precisar para aquela noite, sentiu a necessidade de lhe avisar que talvez acordasse sozinho de manhã.

-- Vai ficar lá hoje, mãe?

-- É possível que sim.

A pequena pilha de materiais foi prensada no peito do adulto no quarto, e o menino, abençoada seja sua alma, expressava uma preocupação que pessoas com o quádruplo de sua idade não conseguiam sequer simular.
-- Não está com medo?

-- Não.
A resposta foi sem hesitação, apesar de sentir uma tensão em seu corpo quando o pensamento de ficar sozinho por horas com Fallacy em um quarto fechado passou pela mente. Tensão que, no fundo, ele até achava que seria melhor se fosse medo.

-- Por que não?

-- Por que teria? Eu sei que essa segunda metade de estação deve estar sendo desgastante, mas nunca recebeu razão para ficar assustado com ele.
Exceto que ele é a porra de um vampiro, mas como você poderia saber isso, eu não sei.

Mas, ao que parecia, não sabia de fato, vista a expressão pensativa que ganhou. Se souber alguma coisa, vai lhe contar? Esperava que sim, mas não foi para contar algo desse tipo que seu filho falou novamente:
-- Eu vou esperar.

O deu um afago para dizer tchau e saiu do quarto, em direção ao do lord. Apesar de não ser tão cedo na noite, a distância estava bem vazio, e se trombava com um
(vampiro)
residente, esse o evitava como se tivesse varíola. Talvez fosse melhor assim.

Foi até o quarto do lord e bateu na porta, e como nas outras vezes, foi atendido de prontidão. A tensão havia voltado, quando a visão do outro se focou em si e um sorriso apareceu, com aqueles dentes amarelos expostos.

-- Boa noite, jovem Encre.

-- Boa noite, Lord Fallacy.
Ele entrou no quarto novamente, e o convidou para dentro com a mão. Engolindo um seco na garganta, o seguiu para dentro e fechou a porta.
O quarto parecia bem mais agradável do que na outra vez que entrou nele, talvez porque dessa vez estava por algo que gostava de fazer em vez de algo que exigia que andasse sobre ovos. Estava melhor iluminado, também, com a maioria das velas acesas e as cortinas abertas deixando o luar entrar.
-- Podemos começar?

Recebendo uma afirmativa, arrumou seu material naquela área próxima à porta e deixou o de ossos pretos se ajeitar de frente à janela.

Em se tratando de fazer, era difícil explicar, mas dava uma sensação de coisa certa, semelhante à de quando, uma década antes, foi escondido fazer uma pintura da igreja do burgo sob a lua cheia. Se as Mães eram as reais deusas, então iria corrigir a comparação que fez na época e dizer que dava a sensação de estar diante de uma das obras d'Elas e meramente tentando fazer uma cópia que não fosse ofensiva. Se isso fosse abstrato demais para compreender, bastava pensar que, em se tratando de fazer retratos de pessoas importantes, um artista havia de ser "gentil" com a aparência do retratado - algumas linhas a mais ou a menos que podiam determinar se teria ou não uma lâmina posta no corpo - e naquele em específico não sentia tal necessidade, mesmo que reproduzir o brilho vindo de fora e de dentro simultaneamente fosse um desafio.

Levou horas, a posição da lua no céu mudando o bastante para precisar fazer um truque ou outro para a tentativa de reprodução não o trair.

Por um momento, se pegou se perguntando o porquê desejava que fosse medo. Pelo que sabia, algo semelhante aconteceu antes, e foi tratado do modo como gostaria de ter sido. Era a diferença que fazia consciência ignorância? Talvez por isso inocência era considerada uma benção.

-- Está pronta.

O viu se afastar da janela e alongar seus membros (de certo ficar parado por tanto tempo era desconfortável), então se aproximou e parou ao lado da pintura fresca, por consequência ficando entre Encre e a porta, algo que tentou afastar da mente para não remoer - assim como disse para o filho, não recebeu nenhuma razão para ter medo dele, se recebeu uma razão para alguma coisa, foi para lhe ter algum respeito.

-- É linda.
Havia alegria naqueles olhos vermelhos, e uma gota de diversão, como às vezes aparecia desde o pequeno jogo.

Havia se equivocado em querer ter medo? Se tirasse de questão o que cresceu escutando, facilmente poderia simplesmente ser algo como "ó seu rapaz verde", não é?

Talvez, porque se tornou mais predominante na expressão, e como antes aconteceu, uma mão subiu e tocou o rosto do pintor, mas diferente da primeira vez, com uma parte tocando levemente seu pescoço.
A sensação que trazia era ao mesmo tempo confortante, por o lembrar vagamente de como foi tocado naquela noite de primavera, e o fazia querer vomitar, pois também lembrava um pouco como Langer tocava sua mão no dia anterior.

Se algo desse conflito chegou à sua expressão, Fallacy ignorou:

-- Uma obra de arte em tinta feita por uma obra prima viva.

Por um instante, jurou que sua alma havia pulado uma batida.
Que se dane, o que de pior pode acontecer?

-- Como pode ter certeza? Só viu fragmentos.

O sorriso do outro se alargou, e, abençoada loucura, se flagrou se perguntando como seria sentir aquelas presas amarelas cravando em seus ossos.

-- Apenas fragmentos? Eu, que já vi ambos os tipos de face que pode pôr? Que vi que tem uma alma determinada o bastante para buscar o que deseja, mesmo que seja perigoso? Que já recebi partes de conhecimento e sabedoria que alguns dos meus não se permitem ter com o dobro dos seus anos? Só vi fragmentos?
Aquela mão - que não era gélida ou grosseira, como descreviam as lendas; as mãos do vampiro tinham calor quase humano e um toque delicado e confortante - acariciava o rosto do artista enquanto o dono dela falava; quando terminou, a outra se juntouno outro lado, segurando as faces com um cuidado que lhe dava nostalgia.
-- Ou falava de um modo mais... literal?

~~~

Sabia que era manhã quando acordou, porque o quarto estava um breu total. Seu corpo estava um tanto dolorido, tanto pelas atividades em si quando por fadiga, e sentia um pouco de tontura, mas era esperado.

Bom, não queria perturbar o sono do seu anfitrião (amante?), então desceu da cama o quão quieto poderia e tateou o chão procurando suas roupas, que apesar de trabalhoso tinha que pôr antes de sair. Podia querer ficar um pouco mais, mas sabia por experiência como sono perturbado é incômodo e tinha preocupações para sanar.

Abriu a porta, e imediatamente teve sua perna abraçada pelo filho. Encre, por sua vez, se abaixou para retribuir o carinho e o pegar no colo, dessa vez sem protestos.

-- O senhor está bem? -- Langer perguntou, em um tom levemente choroso.

-- Perfeitamente. -- foi a resposta, um sorriso radiante no rosto.

Não era uma mentira, mas teria que o pôr para se banhar sozinho um pouco mais cedo do que planejava.
Afinal, como ia explicar as cicatrizes em seu tronco e pescoço que pareciam ser velhas apesar de não estarem lá tão pouco tempo antes?

Vampire Verse - Sun and MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora