Sorte e Azar.

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Sorte e Azar.

Azar de quem não enxerga a sorte que tem.


Gizelly lembrava bem daquele ano– e como esquecer? Dentro de todos, aquele foi o ano em branco.

Não porque não tem história. Era justamente ao contrário. Apesar das dificuldades daquela época, não foi nada comparado ao ano anterior ou aos anos seguintes. Foi a calmaria no meio do furacão.

Com sorriso doce no rosto, ela fechou os olhos se deixando levar até aquelas lembranças do terceiro ano. As risadas até tarde, os beijos roubando, as transas, os amigos.

Até mesmo as S. Elas estavam... Simplesmente vivendo.

Vivendo em paz.

Era uma boa lembrança. Aquele ano se concluiu sem nenhum problema ou grandes confusões. Gizelly gostava de saber que, no meio de tantos problemas, ela teve um ano em branco.

Mas... Nem tudo mudou. Afinal, somente aquele ano havia sido generoso e a maior prova disso era o irritante aparelho do batimento cardíaco apitando freneticamente, Marcela estava desesperada.

Ela deveria estar calma, seus amigos e os médicos pediam calma. Marcela deveria lembrar do Terceiro Ano, mas- mas porque tudo que ela sentia era raiva da situação?

Os médicos tiveram que segura-a para deixar eles fazer o trabalho deles, depois de muito custo a McGowan sentou em um dos banco frio da sala de espera daquele maldito hospital.

Repassou os eventos passados em sua mente agitada e atormentada. Elas estavam bem; Gizelly estava bem. Elas estavam rindo em um restaurante qualquer quando o pior aconteceu.

O que é bem engraçado.

O que seria "o pior aconteceu" na vida de Marcela?

Isso também se passou na cabeça dela e logo soltou uma risada sem humor, era engraçado mesmo. Engraçado que o universo sempre achava uma forma pra foder a vida dela, até momentos que ela jura que já está na merda o suficiente.

Marcela se recusou a chorar.

De novo não, ela pensa.

Ela também tentava ser otimista. Não por ela – óbvio que não era por ela, Marcela nunca foi uma pessoa otimista, sabemos bem disso –, mas por Gizelly. Se ela não merecia algo bom, Deus, a pessoa que ela amava com todas as forças, sim.

A hora era seu maior inimigo agora, então, jurou para si mesma (importante dizer que ela jurou de novo) que se Deus existisse e se um dia o encontrasse... Iria

Não era uma jura somente a Deus, mas era para o algo que acreditava ter dado sentido a sua existência. Ela se recusava a acreditar que só veio ao mundo para tomar no cu.

Mas Marcela sabia que estava sendo dramática naquela situação, mas, ainda para si, dizia que tinha toda liberdade para isso: a mulher que amava estava no hospital. De novo, porra (isso foi o xingamento alto que ela soltou no hospital do nada).

Ter xingando voz alta em hospital talvez não tenha sido a escolha mais inteligente, mas Marcela nunca fazia escolha do tipo.

Seu xingamento acabou acordando uma criança que dormia no colo de um homem, Marcela não havia notado a aproximação da mesma e só fez isso quando a criança segurando um unicórnio de pelúcia a cutucou com a mão.

Ao levantar o olhar para dar sua atenção, desmoronou.

A criança – uma menina – a encarava intensamente e, ainda sem falar nada, entregou a pelúcia para Marcela.

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