Park Jimin
Acordo cedo e observo o céu pela janela do meu quarto – o tempo está nublado, para combinar com a possível melancolia que vem a seguir. Mensalmente o rei Jongsu vinha a público para fazer seus "pronunciamentos" que mais pareciam normas de uma prisão, o problema é que éramos livres, ao menos era isso que pensávamos. Eu não era obrigado a ver aquele velho falando durante quase uma hora, mas estar ciente das diretrizes é algo consideravelmente importante quando não se quer ser preso ou abatido. A realeza não parecia medir esforços quanto a oprimir e nos privar de direitos básicos, mas não há nada o que possamos fazer, somos ovelhas nascidas para servir de alimento aos lobos.
Jeon Jongsu era um desgraçado, na verdade, todos os prateados eram. Repreendo rapidamente a mim mesmo por pensar isso, pois qualquer murmurador, como todos os membros da realeza, poderiam ler meus pensamentos e vagar por eles em questão de segundos caso estivessem próximos a mim naquele momento. Desço as escadas que rangem com meus passos e me sento ao lado de Jihyun, meu irmão mais novo. Ele tem seus olhos fixos na tv e parece tenso, na realidade, todos nós sempre ficamos tensos antes de momentos como esse. Não sabemos quais serão as próximas medidas e quanto mais da nossa liberdade vai ser furtada.
Nossa sociedade é definida a partir do nosso sangue. Os de sangue prateado são a elite, as pessoas nobres, ricas ou da realeza. Além do privilégio social, eles também têm poderes: alguns controlam o fogo, outros a água. Há também os que conseguem manipular metais, plantas e até mesmo a luz. Já os de sangue vermelho, como eu e minha família, são a classe social menos favorecida, que depende de dar sorte e conseguir vender produtos bons aos de sangue prata ou acabar morrendo em alguma guerra em nome do rei. Os vermelhos não têm poder algum. Minha família se sustenta a base dos plantios de arroz, que já não rendem tanto como antes. Embora fôssemos muito pobres, nunca passamos fome, mas com a crise econômica em nosso país devido às guerras com a China, essa realidade poderia mudar a qualquer instante.
— Saudações, esplêndido e respeitável povo coreano — Sinto meu cansaço vir à tona só de ouvir a voz do monarca. — Como todos já foram informados, hoje estarei vindo à público anunciar as novas medidas de prevenção e segurança para a população vermelha — Prevenção e segurança? Isso é um termo chique que os membros da realeza usam para substituir "autoritarismo"? — A partir da próxima segunda-feira, dia vinte e um de agosto de dois mil e cinquenta e dois, o horário do toque de recolher será alterado de vinte e três horas para vinte e duas horas. Aquele que for visto fora de seus aposentos após esse horário, sofrerá punições — Levanto-me do sofá com rapidez, eu já ouvi o que eu precisava. Bato a porta de casa e vou em direção à residência da primeira pessoa que me veio à mente após o pronunciamento de Jongsu.
Os pais de Taehyung eram velhos e tinham uma saúde demasiada debilitada para conseguir trabalhar, já seus irmãos eram novos demais para ingressar no mercado de trabalho. Tae era cantor e sustentava sua família a partir do que ganhava cantando em praças e bares. Se no meu lar as coisas estavam complicadas, não gostaria de imaginar como estava a situação da família do meu melhor amigo.
Um trovejar nos céus me relembra que chuvas fortes virão e esse pensamento foi o suficiente para me frustrar; era muito irritante ter que controlar as goteiras do meu quarto. Tenho vagas memórias de quando, ainda na infância, as coisas não eram tão ruins. Jihyun e eu sempre brincávamos na chuva e fingíamos que tínhamos o poder de controlar os ventos e os trovões, assim como os prateados. Porém nós sabíamos — sempre soubemos — que jamais seríamos como eles. Saio de meus devaneios quando chego à casa de Taehyung. Bato na porta e logo encaro a imagem do garoto alto e magro à minha frente.
— Você pintou o cabelo? Nem para me chamar, hein, que consideração — Reparo nos fios agora loiros de Taehyung e adentro a residência. A casa era simples, muito mais que a minha, mas isso não tirava o charme da organização que o lugar tinha.
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O Príncipe Prateado | Jikook
Hayran Kurgu"Nossa sociedade é definida a partir do nosso sangue. Os de sangue prateado são a elite, as pessoas nobres, ricas ou da realeza. Além do privilégio social, eles também têm poderes: alguns controlam o fogo, outros a água. Há também os que conseguem m...