Epílogo

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Rara

E lá estava eu, assim como todos os presentes, naquele lugar, cuja função, era armazenar já mortos corpos, revivendo, uma vez mais, o macerado capítulo do traspasse de minha Lúcia, porém, desta vez, não com a esperança de que o seu corpo, ou a sua figura, pudesse voltar, pois inegavelmente e, neste assíduo túmulo, a sua memória, haveríamos de enterrar. Com lágrimas que, já sem palavras tinha para adjectivar, lembrara-me, internamente, do memorável dia em que o seu esmarrido físico, tinha sido encontrado nos braços do homem, o qual, sempre amará.

Após a nossa largada do mirífico Volvo de Milena, uma vez que a persuadira, à Lúcia tornar a  reencontrar, sendo que esta, se locava no íntimo do ambulatório e, assim, poder expressar-se e, de igual modo, reconciliarem-se, porque eu sabia que Lúcia, tão prontamente, perdoá-la-ia, posto que Lúcia conhecera, em adição, atinara que Milena, eternamente, considerá-la-ia como sua "irmã", por mais que se pudessem magoar, dado que o vínculo que nós firmáramos, era demasiado indestrutível, para que, de alguma forma, se rompesse, sem alguma especificação, sem que antes solucionássemos. Internizáramos o citado hospital, depois de aconchegar e consolar Milena, em meus braços, ainda nos bancos de seu seleto carro, indo, dessa forma, nos minutos vindouros, ao encontro de Romando, visto que o despedira e, também o dissera, onde localizar-me-ia, previamente a minha conferição com Milena, no exterior desta extensão hospitalar, para mais, Romando, igualmente, precisa compreender sobre os factos, até agora, não revelados a ele, já que eu e Milena acordáramos em nossa conversação, no intrínseco de sua viatura, além de que, Romando, neste momento, poderia estar aquém, acerca do que se passava, isso, por causa das impreteríveis ausências de Milena, durante toda esta situação, fora que um irmão de Lúcia, também era e, consequentemente, nosso, sendo o elo, de todo, verdadeiro.

No local onde Romando se conservava e, o qual, outrora, compartilhara o mesmo espaço, sem mais demoras, porque bastante tempo, já se havia perdido, estreara o processo de explicação, a respeito dos  acontecimentos, ainda não confessados, a Romando, que tinha como protagonista, a minha Lúcia e aquele desprezativo homem, uma vez que, assim que estabelecêramos contacto visual com a sua configuração, digo, eu e Milena, pois, constantemente, olhara em torno de seu aspecto que, compreensivelmente, não detinha condições psíquicas, para alguma palavra, declarar. Romando, como anteriormente deduzido por mim, já suspeitara que algo ocorria.

E, na sequência de todo um conjunto de clarificações, a Romando, o que trouxe consigo, exaltações, pasmações, lágrimas e um sedento desejo de aniquilar Amaro, por parte de Romando, Milena tivera uma ligeira quebra de tensão, sendo que manifestou a sua quase síncope, naqueles compridos corredores de secção em que nos situávamos, todavia sendo aparada, instantaneamente e, simultaneamente, em movimentos que denunciavam um acto reflexo, pelos braços de Romando que, indiscutivelmente, evitaram a sua próxima queda.

Aquilo, era realmente irregular, pois Milena não tinha recorrentes recaídas, no entanto, antes mesmo que o auxílio profissional chamasse, posto que Romando, aparava a sua desequilibrada silhueta em seus membros, contudo, já nitidamente revigorando-se, somos surpreendidos pelo som de um disparo, que ecoava, a nível de toda a superfície hospitalar, dado que com a sonoridade do estrondoso barulho, era impossível, não reconhecer de que circunstância se tratava, assim sendo, nos segundos sucessivos, aqueles corredios em que nos púnhamos, dantes calmos, haviam-se tornado agitados com as comparências de peritos, que vagueavam, apressadamente, por todo perímetro, pedindo contingência aos respectivos pacientes que, saíram desesperados das alas em que se adicionavam, pelo claro rumor que escutaram, para, sem dúvidas, terem informações do que se estava a suceder, visto que, entendia esta singularidade, não apenas pelas misturadas vozes de figuras apreensivas, naquele corrediço de secção, mas porque também, imperiosamente e racionalmente, eu visualizara tudo ao meu redor, além de claro, os regulares avisos que provinham dos interfones, daquele passadiço em que nos organizávamos, requerendo para que mansos nos mantivéssemos, porque a polícia local, já fora accionada e mobilizada, sendo que já se compunha, a elaborar o seu trabalho, o que, claramente, fora impensável, dado que os desassossegos, naquele corredor, continuavam sem algum recesso.

Com isso, tornara a alicerçar palestra ocular com as estaturas de Milena, já revitalizada, na sucessão de sua curta quebra de tensão e, a de Romando, legivelmente, inquietos. Quando pensara eu, que a vivida conjuntura, em prontidão, ausentar-se-ia, os disparos constantes, regressaram, uma vez que não existia um intervalo de munições perdidas, até que atingisse o seu certo número, que ao todo, eram 24, posto que contara internamente, o que fez do actual ambiente, um verdadeiro massacre, a nível não apenas social, mas, semelhantemente, no grau mental, e os corrediços já vibrados, transformaram-se num real pandemónio, porque agora, era o que poderíamos considerar, como a tal dita "luta pela sobrevivência", por parte de todas as pessoas que se fixavam, naquele longo espaço.

Neste instante, não era, somente, uma extrema euforia por parte dos especialistas de saúde e, dos particulares pacientes, entretanto, era também, a minha, a de Milena e, de idêntica guisa, a de Romando. E, no momento em que retinira, dos ainda reconhecidos interfones, no ponto do passadiço em que nos acrescentávamos, que os disparos procediam do quarto 612, Romando, evidentemente, evoluíra a sua preocupação, para um estado de real pânico e êxtase e, no átimo em que tentara perceber, as suas novas reacções, não apenas porque, acertadamente, estávamos numa condição e contexto desagradável, mas era porque notava-se, que algo em dupla dose de intensidade de escala, o afectara, este, mencionara as seguintes palavras: 612, Lúcia, quarto. Não fora necessário estruturar, aqueles curtos vocábulos, que haviam saído do tremelicante e aterrador timbre de Romando, em uma frase, sintacticamente, coesa e dotada de coerência, para se poder atinar, o que a sua mensagem, queria, logicamente, dizer ou assegurar, isto posto e, sem perder mais alguma milésima, nos encontrávamos em alta velocidade, a percorrer aqueles largos corredores, da secção em que nos locávamos e, os posteriores daquele nosocómio, pois não soubéramos, onde o dormitório, ou em que parte, o certeiro compartimento, que detinha o corpo de minha Lúcia, se colocava.

Na continuidade de vários minutos perambulando os vastos corredios, daquele dilatado território de hospital e, já exaurida, isso, pelo estado em que meu corpo se assentava, assim como os de Milena e Romando, que freneticamente suspiravam, o que demonstrava, os nossos iguais cansaços, descobríramos, finalmente, a divisão de minha Lúcia e, mesmo mentalmente preparando-me, para qualquer aerosfera deparar, quando abrira a porta e, de símil maneira, interiorizando aquele amplo nicho, visto que a visualização em torno daquele repartimento, fora inegável, isto é, a minha figura, a de Milena e a de Romando, que a todo momento, ao meu lado, se posicionavam, nos deparáramos com a mais péssima visão frontal, dado que as suas presenças, ajustadamente, poderiam ser sentidas. Era o pior cenário e a pior retratação de todos os tempos. Com isso, todo temor sobre o que com Lúcia, se poderá ter passado, já que havíamos inibido, quando em alta fugacidade, nos estabelecíamos, a desesperadamente, percorrer o perímetro deste recinto de hospital, retornara no seu maioral padrão.

Continua...

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