𝚠𝚎'𝚕𝚕 𝚋𝚎 𝚏𝚒𝚗𝚎 (𝚙𝚊𝚛𝚝 𝙸𝙸) || ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ

Capítulo Único

Charles Leclerc passara os últimos anos tão focado em sua carreira profissional que ter filhos e formar uma família estava longe da sua lista de objetivos em um futuro próximo. Porém, isso tudo mudou quando Nina contou que estava grávida, pouco mais de um ano atrás, e logo a pequena Cecília passou a dividir o espaço de prioridade número 1 na vida dele, juntamente com o automobilismo. Ter que viajar para outros países quase todos os finais de semana para competir se tornara muito mais difícil para Charles, agora que precisava deixar Nina e a filha para trás, mas ao mesmo tempo a sensação de voltar para casa e reencontrá-las se transformara em algo muito mais intenso e gratificante.

Naquele fim de tarde de segunda-feira não estava sendo diferente. Depois de passar vários dias na Espanha, Charles voltava para casa para algumas semanas de folga, e tudo o que ele mais queria era ficar com as suas meninas. A imagem que teve logo ao abrir a porta do apartamento fez um calor se espalhar pelo seu peito no mesmo instante: sua filha sendo embalada pela mãe, a mulher da sua vida, junto à enorme porta de vidro que dava para a varanda, e a luz do sol proporcionando um brilho dourado e angelical. Ou talvez fosse só o amor imenso que ele sentia pelas duas que o fazia enxergar daquela maneira, e a paz e o aconchego presentes naquela visão o atingiram com força. Charles largou a mala de viagem na entrada, puxando um ursinho de pelúcia caramelo vestido com a camiseta de futebol da seleção espanhola do bolso lateral, e caminhou silenciosamente até as duas, atraindo a atenção de Nina, que viu a sua aproximação pelo reflexo do vidro.

– Mie ragazze – ele sussurrou, ao ver que Cecília dormia profundamente nos braços da mãe.

"Minhas meninas". Nina não conseguia conter um sorriso bobo toda vez que ouvia Charles chamá-las assim, sentindo a calmaria dentro dela ser renovada ao ver sua pequena família completa novamente. Ela esticou o pescoço para alcançar a boca de Charles com a sua num beijo rápido e suave, e suspirou quando ele encostou a testa na dela para que os dois admirassem a filha em silêncio por alguns instantes, olhando de relance para o ursinho na mão dele e sentindo uma onda de calor e adoração por aquele garoto tomar conta de seu peito. Charles nunca imaginou ser capaz de sentir um amor tão grande até conhecer Nina, apenas para ser surpreendido mais uma vez com o nascimento de Cecília, e ele sentia que poderia explodir a qualquer momento, tamanha era a adoração que tinha pelas suas garotas.

Nina decidiu aproveitar que a bebê dormia pesadamente em seus braços para colocá-la no berço, sabendo que os ouvidos de Charles estariam atentos para qualquer barulhinho que ela emitisse enquanto ele desfazia sua mala no quarto ao lado, e foi tomar um banho. Cecília estava prestes a completar seis meses, e Nina já estava totalmente acostumada com aquela rotina de só ter tempo para fazer suas coisas quando a filha dormia. Com as viagens constantes de Charles, eles precisaram fazer adaptações e, quando nem a mãe de Nina nem a de Charles podia ficar com elas, Anna, uma babá poucos anos mais velha do que Nina, aparecia para ajudá-la, e elas já tinham se tornado grandes amigas. Quando Charles estava em casa, no entanto, ele passava todo o tempo que podia em função da filha, não saindo do lado dela e de Nina nem por um minuto, e por isso ela sabia que, naquele momento, enfim poderia aproveitar o seu banho tranquilamente depois de tantos dias.

Cecília fora um bebê muito calmo desde que estava na barriga da mãe e, passados os enjôos dos primeiros meses, Nina teve uma gravidez muito sossegada, percebendo que a garotinha daria muito pouco trabalho logo nos primeiros dias que ela e Charles a levaram para casa. A pequena sofria apenas com as famosas cólicas muito comuns nos bebês, bem esporadicamente, e os dois viviam meses incríveis e insanos ao mesmo tempo, descobrindo juntos a melhor forma de cuidar daquele serzinho tão pequeno mas que eles amavam tanto. Ao sair do banho pouco tempo depois, enrolada em um roupão felpudo e secando os cabelos com uma toalha, Nina escutou a vozinha da filha emitindo vários sons, e disparou para fora da suíte para atender aos seus chamados, porém encontrando-a já muito bem reconfortada pelo pai. Charles estava esticado sobre a poltrona junto ao berço e brincava com a filha, distraindo a garotinha com o ursinho de pelúcia que trouxera da viagem enquanto ela agarrava os dedos das mãos dele com toda a força que seus bracinhos permitiam, já conseguindo se equilibrar sentada sobre o abdômen do pai, e fazendo Nina ser arrebatada pela sensação de tranquilidade que aquela cena lhe provocava. Mesmo depois de vários meses, Nina ainda era surpreendida pelo amor gigante que sentia quando via aqueles dois juntos.