Capítulo único

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Louis e eu nos conhecemos em uma palestra sobre o que é o consumismo e como ele têm influência na sociedade nos dias atuais.

Trocamos os números de telefone e eu fui o primeiro a mandar uma mensagem, pedindo sua sincera opinião sobre a palestra. E honestamente, eu não conseguiria descrever o quão chato foi a palestra, mas Louis pareceu fazê-la se tornar interessante e com detalhes que eu nem mesmo havia prestado atenção, ele a fez ser a melhor palestra que eu já presenciei.

Depois disso, me apaixonar por Louis foi a coisa mais fácil que eu já fiz. Como não me apaixonar pelas ruguinhas no canto de seus olhos quando ele sorri? Ou então, quando ele faz algo para me fazer sorrir e nem é tão engraçado, mas eu abro o melhor sorriso que eu tenho apenas para ver o sorriso satisfeito dele. Era a melhor parte do meu dia. E quando eu o via tocar violão, passear com suas irmãs, sorrir quando alguém conta uma piada boba e ele está por perto, se esforçar cada dia mais pra ser melhor, ser a pessoa mais pura e gentil que alguém jamais sonhara em conhecer, ficar irritado quando sai do carro porque ainda não trocou a pilha do controle, eu o via todos os dias, e todos os dias eu tinha a certeza que ele era a alegria do meu mundo. Gostaria que ele se visse como eu o vejo. Ou então quando dividiamos sua cama de solteiro e contavamos um ao outro quais eram nossos maiores sonhos, e fizemos isso tantas vezes que, um dia, mesmo em um impulso, acabamos juntando nossos sonhos em um só, assim como fizemos com nossos corações naquela noite. Louis sempre me apoiando em meu sonho de ser pintor, e firmando a ideia de que compareceria na minha galeria de quadros todas as vezes, mesmo que ele já soubesse de cor e salteado os quadros e desenhos que eu pintei. E eu sempre apoiando Louis na ideia de escrever e publicar seu livro, o dizendo que eu seria o primeiro a ler e leria tantas vezes que decoraria as falas e citaria para ele todas as noites antes de dormirmos.

Nós costumávamos andar sem rumo em um parque perto da casa de Louis, apenas admiravamos como as pessoas se comportavam, e, às vezes, por puro hábito, ficávamos olhando os velhinhos e pensando como seríamos na velhice, se seríamos igual ao senhor José, que sempre caminhava por aí com sua esposa e seu cachorro, parecendo sempre serenos e de bem com a vida, ou se seríamos como o senhor Pedro, que se prestava todas as manhãs para alimentar os pássaros e ler algum livro no banco à sombra de uma árvore, mas que sempre parecia triste e cansado, o motivo não revelado com o passar dos anos.

Sonhavamos acordados com o dia em que conseguiríamos passear com as crianças no parque. Eu finalmente fazendo sucesso como pintor, e Louis seguindo seu sonho de escrever um livro. Perdiamos horas e horas sonhando com o nosso futuro, aquele que nunca chegou para os dois.

Sempre fomos a base um do outro, mas perdemos isso no dia 21 de maio de 2016.

Nos primeiros dias e semanas que ele teve que suportar sem mim eu simplesmente não o reconheci. Ele não vivia. Ele não sentia vontade de viver. Chegou até a visitar meu túmulo e gritar lá por horas se perguntando o porquê de eu ter o deixado tão cedo e até mesmo me culpando por ter abandonado nossos sonhos. Foi difícil para mim vê-lo num estado assim.

Depois que parti, vi Louis ainda caminhar pelo parque em manhãs de sol, mas dessa vez, sem olhar para qualquer um que passasse por ele, apenas sentando na grama e deixando algumas lágrimas caírem sobre seu rosto quando ele ouvia o latido dos cachorros que costumavam se aconchegar ao nosso lado.

Acompanhei Louis desde sempre, penso que essa fora a missão designada para mim, afinal. Não sei se deveria estar em algum lugar como o céu ou o inferno, mas me sinto bem estando sempre acompanhado do meu próprio paraíso.

Alguns lugares que ficaram marcados no nosso relacionamento apenas se tornaram invisíveis para Louis. Ele nunca mais pisou na cafeteria em que pedi ele em namoro, me sinto culpado por isso. Ele amava aquela cafeteria, sinto que até amava-a mais que eu. Há também a pequena loja de doces onde demos nosso primeiro beijo em meio a jujubas e brigadeiros, onde sempre voltávamos para pegar alguns doces e sentirmos o doce gosto do nosso amor que se misturava com as gomas de mascar. Louis nunca retornou lá, ou comeu novamente um brigadeiro ou jujuba. Também havia uma loja de discos onde costumávamos apenas entrar e dançar ao som das músicas aleatórias que tocavam por lá, Louis nem se quer ouvia mais músicas.

Ghost Of Me  [l.s.]Onde histórias criam vida. Descubra agora