A Tortura do Imperador

A tortura do Imperador - Oneshot

Apenas o tempo é capaz de preencher o vazio e a aversão que instalam-se em uma relação marcada pela ignorância e pelo pesar, que são criados em tempos conturbados e sinuosos. Foi assim, com a contagem lenta, porém certa, dos minutos, que a calmaria e o entendimento mútuo alcançaram os laços entre Jiang Cheng e o Patriarca Yiling. Com a descoberta da doação do núcleo dourado, e o não envolvimento de Wei Ying nas malícias da seita Jin, bem como o carinho que o jovem mestre Ling guardava pelo seu tio, meses foram necessários até que a situação entre as duas partes adquirisse uma faceta amistosa.

De qualquer modo, Wei Wuxian não desejava perdão, não desejava escutar um obrigado ou receber uma reverência, ele queria, acima de tudo, viver em paz, pelo caminho largo e seguro bem ao lado do homem que amava. No entanto, saber que, mais uma vez, como em sua velha infância, ainda lhe era possível caminhar pelas margens dos lagos de lótus, uma felicidade indestrutível arrebatava a cada segundo o coração cansado de Wei Ying.

De qualquer modo, com o temperamento arisco e arredio do líder de seita, fagulhas poderiam riscar os olhos dos menos avisados, portanto, por mais que a paz enfim fosse genuína, a adversidade sempre existiria, pois o passado nunca é apagado das mentes de pessoas que já sofreram.

Com o caos estabelecido no mundo da cultivação em viés da morte de Jin GuangYao, bem como a fragilidade da seita Qinghe Nie, sob os macios comandos de Nie Huaisang, jovens mestres e discípulos estavam todos dedicados à reestruturação de clãs e ao reajuste da mudança de poderes. O que se seguiu foram meses de trabalho e agitação pelas cidades celestiais.

Logo, com a engrenagem voltando a girar como bem deveria, as mentes ocupadas encontravam entre tarefas e mais tarefas algum bom motivo para descansar e conversar sem qualquer pretensão com conhecidos e amigos. Nos diálogos acalorados, seja de bocas mortais, humanas, cultivadoras ou demoníacas, a relação entre o Segundo jovem mestre Lan e o Patriarca Yiling continuava no auge das discussões.

A hipocrisia, no entanto, se num passado remoto foi inimiga do Jovem Wei, agora era a melhor aliada, pois o que antes era uma reputação exagerada e má, transformou-se em respeito e admiração. Os parceiros de cultivação, Lan Wangji e Wei Wuxian, no presente e futuro, seriam tidos como amantes inseparáveis e companheiros justos, lutando contra o mal nas vielas e ruas das cidades humanas.

Neste cenário menos abrasivo, as discussões e conferências gerais voltaram a ocorrer entre as diversas alianças. Como a seita lanlingJin era a mais afetada pelas ocorrências pretéritas, todos os comícios, de bom grado, aconteciam em Yummeng, ocupando ainda mais o jovem e irritável líder, que dormia tarde todos os dias, sem falta. Desse modo, Wei Wuxian aproveitava cada oportunidade que tinha para caminhar tranquilamente pelo seu antigo lar, sob os olhares desconfiados de Jiang Cheng.

Como não queria flagelar os remendos que foram construídos entre ele e seu irmão, caminhava sempre nas sombras, nos lugares mais calmos, desejando nada além de mostrar com veemência uma parte da sua antiga vida para Lan Shan, que escutava tudo e respondia docilmente, com sua aura fria e pensativa.

Agora, no salão principal, conversas e mais conversas carregadas com ânimos quentes iam e vinham por entre as mesas e os copos de bebidas. Em um ambiente intimista e relaxante, líderes de seitas com baixa proeminência ganharam confiança para convidar a jade inatingível para um gole de vinho. É claro que, seguindo a fio todas as regras e princípios do muro de pedra da seita GusuLan, o Segundo Jovem Mestre recusava com educação cada gota de bebidas com teor alcoólico.

E o patriarca Yiling, observando o desconcerto dos presentes, aceitava para si os drinques, bebendo todas as doses em honra ao seu amado. Vendo a cena bonita e animadora, mais e mais líderes instigavam Wei Wuxian a ser o cavaleiro negro de HanGuang-Jun, que aceitava todas as ofertas destinadas ao homem sentado ao seu lado. Jiang Cheng, observando com cautela, não reprovava nem aprovava, apenas assentia com irritabilidade, encarado cada ato de seu irmão mais novo, com medo que ele fizesse algo desapropriado ou exagerado no meio da multidão.