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Karol

— Me conte como armou tudo — ordeno.
— Acha mesmo que eu vou te falar alguma coisa? Você chutou meu saco, vadia.
— Então poupe o mundo da sua voz. Cale-se de vez.
Ele se cala. O rosto de lado apoiado na mão. Ficamos assim, calados, no mesmo
quarto, nesse clima estranho que parece um filme, durante longos minutos. Entre quinze e
vinte, talvez.
É meio bizarro. Se isso fosse uma semana atrás, eu estaria aos pés dele chorando,
adorando-o, acreditando em qualquer coisa que ele falasse. Por longos dias, longas
semanas, meses a fio, eu desejei Bernardo ao meu lado de volta. E ele sempre esteve por
aí, mundo afora, na farra com Carolina .
Ouço a porta abrir, dou um salto, corro para o outro lado e fico atrás da porta. Então
aponto a arma para ele.
— Chame-os aqui — murmuro.
— Aqui, Carolina  — Bernardo grita enquanto fica de pé.
— Senta — ordeno.
Ele solta o ar de um jeito irritado e volta a sentar. Ouço passos vindo, estou de olho
nele para ver se vai dar algum sinal para as visitas.
— Ben, o que está acontecendo? — Essa é a voz da cretina da minha irmã.
Espero ela passar, fica de costas para mim, Bernardo a olhando sem responder.
Logo atrás vem Sérgio e, quando ele passa, eu bato a porta.
— Vire-se devagar — falo baixo.
Carolina  se vira bruscamente e arregala os olhos quando me vê. Sérgio tem o impulso
de vir para cima de mim.
— Para trás — grito o comando com cara de putona destruidora. — Se tentar alguma
gracinha, eu arrebento seus miolos, seu miserável.
— Karol ! — Carolina  grita apavorada. — Pirou? O que está fazendo? Abaixa essa
arma.
— Acabando com vocês, como fizeram comigo. Agora se afaste, fique perto do seu
amorzinho ali. Rápido!
— Você atiraria na sua própria irmã? — horrorizada, ela pergunta. Fingida.
— Você armaria um escândalo envolvendo o marido da sua própria irmã? — devolvo.
Ela fica calada, e eu prossigo: — Pois é isso. Agora não venha com sua psicologia barata
para cima de mim. Hoje não tem laço sanguíneo que me impeça. Sérgio, há dois rolos de
fita adesiva nessa bolsa. Pegue — dou a ordem. — Agora! — grito em seguida.

Ele faz o que mando, e eu continuo com a arma apontada para os três. Estou
desesperada por dentro, com medo de algo dar errado, mas preciso continuar. Todo o
plano tem que estar certo em minha mente, meu corpo não pode me trair agora. Não sou
desse tipo, nunca parti para o ataque. Agora conto só com a adrenalina que pulsa nas
minhas veias e ecoa no meu ouvido para me ajudar.
— Sérgio, mãos para trás! Bernardo, amarre as mãos dele.
Os dois calados fazem tudo o que eu digo, mas, enquanto Bernardo amarra Sérgio,
Carolina  se afasta e corre para o outro lado já com o celular na mão.
— Carolina ! — alerto-a em um grito.
— Polícia, ajuda no Copacabana Palace — ela grita, eu aponto a arma para cima e
dou um tiro no teto.
Os três ficam paralisados me olhando.
— Queriam uma mulher pirada? — grito como uma doida — Conseguiram. Senta
nessa porra de sofá, vagabunda, antes que eu esqueça que é minha irmã e acabe com sua
raça. Piranha.
— Karol , você precisa manter a calma — Bernardo fala de modo manso, se
aproximando de mim.
Carolina  me olha estática sentada na poltrona, e Sérgio continua amarrado na cama.
— Pra trás! — grito para ele. Minha garganta já dói de tanto gritar.
— Você pode sair daqui enquanto é tempo — Bernardo me aconselha como se
estivesse preocupado com meu bem-estar. — O tiro já foi ouvido, daqui a pouco a
segurança está aqui e a polícia vai cercar tudo. Fuja! Prometemos que não iremos fazer
nada, sumiremos do mapa.
Começo a ficar paranoica, tudo vai dar errado. Preciso manter a calma. Não posso
deixar eles perceberem minha aflição. Estou com vontade de sair correndo por essa porta.
— Pra trás, Bernardo. Carolina , amarre ele.
Ela se levanta de pronto, pega uma fita, Bernardo coloca as mãos para trás, e Carolina
passa a fita envolta nos punhos dele.
— Volte para a poltrona. Agora, vamos colocar tudo em pratos limpos. Começando
por você. O que ganha com meu divórcio? — pergunto a ela.
— Nada — Carolina  responde firme e certa do que diz.
— Nada uma ova. Ganha, sim. Ou então não estaria me importunando. Nunca ligou
para mim, por que agora fez tudo aquilo?
— Orgulho ferido. Ruggero era meu namorado, e eu não queria que ele ficasse com você.

Minha perdição   (Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora