1 de Setembro de 1991
"Cobras reconhecem cobras"
— Quais são as outras casas de Hogwarts? Deve ter mais, certo? – Harry perguntou depois de pensar muito se deveria falar. O menino loiro tinha deixado o livro fechado em cima do colo a alguns minutos e, às vezes, variava o seu olhar entre a janela e Harry.
Potter imaginou que ele era rico. Rico como o garoto da madame Malkin. Não sabia o motivo, mas ambos passavam essa estranha sensação, talvez fosse o modo de falar: arrastado, soletrando cada sílaba corretamente e o sotaque britânico destacado. Ou talvez fossem as roupas que aparentavam ser caras demais e que não tinham um fio sequer fora do lugar, além de seu olhar demonstrar que ele era um tanto esnobe.
— Você realmente não sabe de nada sobre o mundo mágico? – O loiro levantou uma das sobrancelhas para ele. Harry o olhou sem responder. O outro garoto respirou fundo — Lufa-lufa, para os leais, honestos e dedicados. São os texugos; Corvinal, para os sábios, criativos e excêntricos. São as águias; Sonserina, para os astutos e ambiciosos. São as cobras; – Harry quase revirou os olhos por conta do orgulho óbvio com que o outro garoto falou sobre a casa — e Grifinória, para os bravos, cavalheiros e blá blá blá. São os leões – O loiro abanou o ar, como se não ligasse muito.
— Já vi que tem suas preferências – Harry falou, olhando para a janela
— Onde quer ficar? – O garoto perguntou, tentando não parecer tão interessado e falhando nisso.
— Não sei... grifinória talvez? – Harry falou propositalmente e disfarçou um sorriso divertido, percebendo o garoto "da sonserina" revirando os olhos — Bem, todas as casas parecem ser muito boas. Para a.... am... Corvinal? Para a Corvinal eu sei que não vou, não sou nada criativo e muito menos sábio. Lufa-lufa... alguém comentou que preferia morrer a ser da lufa-lufa, mas quem disse isso era um tremendo babaca, então não acreditei muito – O outro garoto ficou calado e desviou o olhar, daquele jeito quando você concorda com uma opinião mas quer evitar uma discussão — Grifinória e Sonserina parecem boas para mim.
Harry se deu conta que estava falando demais com alguém que ele tinha acabado de "conhecer". Se encolheu quase inconscientemente.
Ambos ficaram calados por um tempo, Harry queria conversar com o Darius para perguntar o que ele achava sobre a Sonserina e se ser astuto e individualista eram realmente qualidades.
Harry não se assustou quando a porta abriu. Tinha ouvido os passos de alguém se aproximando sem pressa da cabine em que eles estavam.
— Querem doces, queridos? – Harry olhou para o carrinho cheio de coisas e engoliu em seco. Tudo parecia tão gostoso e tinha aquele cheiro bom de chocolate que impregnava o ambiente. Potter não teve muitas oportunidades de comer chocolate, talvez tenha experimentado umas duas vezes depois que furtou uma das lojinhas de bomboniere que ficava no vilarejo de Crunchem Hall. Era uma loja pequena, colorida, com potinhos de vidro redondos e cheio de doces de sabores que Harry não conhecia.
— Cinco varinhas de alcaçuz.
Potter olhou para o outro garoto recebendo cinco varinhas de não-sei-o-quê
— Cinco sicles, querido – Disse a senhorinha que cuidava do carrinho. O menino tirou cinco moedas de prata do bolso e a entregou — Obrigada. Vão querer mais alguma coisa? – Ela olhou automaticamente para Harry.
Ele queria. Mas o seu dinheiro foi posto protetoramente em sua mala – quando se vive com furtadores mirins, e até se torna um, se aprende que algumas coisas tem que ser guardadas muito bem -, e foi extremamente difícil colocá-la lá em cima, não a tiraria nem fodendo.
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Full Moons - Primeiro Livro
Hayran KurguMonstro. Harry se habituou a ser chamado assim, ouviu tantas vezes que era até fácil assumir que ele realmente era um. Sanguinário, monstro, desprezível, e asqueroso. Algo sobre a força que aquelas palavras tão ásperas, e que já não tinham o efeito...