— É comigo que você deveria estar.
O que ele quer dizer com isso? Fico espantada ao ouvir essas palavras, e no começo eu achei que tinha escutado errado. Ele está inclinado sobre a mesa enquanto nossos parceiros estão a pouca distância, esperando na fila para a nossa comida.
— Você e eu - diz ele. — Não nós e eles.
Olho para ele e hesito, ainda sem saber ao certo do que se trata, até que percebo que está brincando. Solto uma risada e volto a ler a minha revista. Na verdade, é uma revista de palavras cruzadas. Eu adoro essas coisas.
— Any...
Não o encaro de imediato. Tenho medo. Se eu levantar a cabeça e constatar que ele não está de brincadeira, tudo vai mudar.
— Any. - Ele toca a minha mão, mas eu fujo do contato recuando bruscamente, e acabo arrastando a cadeira para trás, que range causando um barulho horrível. Isso chama a atenção de Noah, que olha ao redor. Finjo que deixei cair alguma coisa e me abaixo para observar por debaixo da mesa. Além dos nossos sapatos e pernas, encontro sob a mesa um lápis de cor azul próximo ao meu pé; eu o apanho do chão e volto a me erguer.
Noah está no balcão do restaurante, fazendo o pedido, enquanto o namorado da minha melhor amiga aguarda a minha resposta, com uma expressão aflita nos olhos.
— Você andou bebendo? - sussurro com irritação — Que porra é essa Josh?
— Não - ele diz. Mas não parece muito seguro do que afirma. Pela primeira vez, noto sua barba por fazer. A pele em torno dos seus olhos está amarelada. Será que ele está passando por alguma situação difícil? A vida, às vezes, pode ser mesmo uma merda.
— Se isso for algum tipo de brincadeira, você está me deixando constrangida de verdade - aviso. — Savannah está bem ali. O que você pensa que está fazendo?
— Eu só tenho 10 minutos, Any. — Os olhos dele se voltam para o lápis azul que repousa sobre a mesa, entre as nossas mãos.
— Dez minutos para quê? Por que você está suando tanto? - pergunto. — Que coisa estranha. O que você tomou? Que tipo de droga faz uma pessoa suar assim? Crack? Heroína?
Estou ansiosa para que Noah e Savannah retornem. Quero que tudo volte ao normal. Olho a minha volta para ver onde eles estão.
— Any...
— Pare de repetir meu nome desse jeito - peço com a voz trêmula. Começo a me levantar, mas ele pega o lápis e agarra a minha mão.
— Eu não tenho muito tempo. Vou mostrar a você.
Ele parece bastante tranquilo sentado diante de mim, mas seus olhos me lembram os de um animal acuado: assustados, aterrorizados, brilhantes. Eu nunca vi esse olhar em seu rosto, mas isso não significa muita coisa, já que Savannah e ele estão namorando há poucos meses. Eu realmente não conheço esse cara. E se for um viciado em drogas? Ele vira a minha mão com a palma para cima, e eu deixo. Eu não sei porque, mas eu faço.
Ele coloca o lápis na minha mão e fecha o punho em torno dele.
— Você tem que dizer isso em voz alta - diz ele. — Tem que dizer: ''Mostre-me, Josh." Diga isso, Any, por favor. Tenho medo do que possa acontecer se você não fizer o que peço.
Há tanta aflição nos olhos dele que acabo cedendo.
— Mostre-me, Josh. - eu digo. — Eu deveria saber o que é isso?
— Ninguém deveria - ele responde. E então a escuridão toma conta de tudo.
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Fuck love
RomanceAny Gabrielly tinha uma vida okay, mas sua rotina comum muda drasticamente quando ela sonha com uma outra realidade. Neste mundo perfeito, ela é bem-sucedida, tem filhos lindos, uma grande casa e o marido perfeito, porém, existe apenas um problema...