Ready to Run | Luiz Francisco

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Aviso de gatilho: relacionamento problemático com a figura paterna

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MADRID, ESPANHA

Luiz gostava da brisa fresca que batia em seu rosto nas manhãs de Madrid.

Ele não costumava ser o tipo de pessoa matutina, se pudesse, acordaria sempre depois das dez e não reclamaria um segundo sequer, no entanto, não tinha problema algum em acordar cedo quando se tratava de apreciar o nascer do Sol da cidade espanhola. Com o silêncio do início da manhã, costumava pensar que era muito mais fácil colocar a cabeça no lugar. Por isso, com o skate embaixo do braço, o brasileiro observava com atenção demasiada a extensão da Plaza Mayor enquanto batucava os pés no ritmo da música que tocava nos airpods.

Os Jogos Olímpicos de Tóquio já faziam parte do passado, ainda que continuasse colhendo os frutos de sua participação. Havia entrado em Tóquio com apenas um pensamento: aproveitaria cada segundo, mesmo que a glória não viesse e não chegasse até o pódio. Acima de uma medalha, existia uma missão para ele e os outros garotos e garotas. Precisavam mostrar ao mundo que o esporte que praticavam, tão discriminado no país que viviam durante tanto tempo, era muito além que perda de tempo ou malandragem, como costumava ouvir em seu passado. Estavam representando o país que tanto amavam no esporte que fazia parte de suas vidas.

Foram dias que o marcariam para sempre como atleta. Estava orgulhoso de tudo que fizera e vivenciara e, acima disso, ver Pedro Barros se tornar medalhista olímpico lhe dava uma sensação gostosa no peito. Algo sobre valer a pena. Cada experiência valia a pena para ele e mesmo não alcançando o objetivo, ainda estava feliz com o rumo de tudo.

Porém, além da experiência diversa, havia algo que se mantinha em sua cabeça, atormentando-o como um maldito sino que retumbava sem convite. Insistente, era esse o adjetivo. Lola não era da delegação brasileira, mas estava sempre por perto nos momentos mais oportunos e inoportunos, deixando-o irritado na mesma medida em que se sentia encantado. Talvez fosse culpa de seus olhos azuis como o céu ou de sua língua que queimava tanto quanto pimenta crua. O caso era que, um mês depois do incidente entre eles, Luiz estava assustadoramente perdido em tudo que dizia respeito à espanhola que, supostamente, o detestava.

Paola Martinez era mais assustadora do que qualquer manobra que ele poderia fazer sobre aquela pequena prancha sobre rodas. Quem sabe por isso ele fosse tão viciado nela, tão completamente entregue ao sentimento desgastante, inebriante e alucinógeno que ela lhe causava.

Soltou um riso breve, observando a chegada dos primeiros passantes do dia, atravessando a grande praça em passadas largas, sem prestar atenção na figura sentada em uma das mesas de bar espalhadas pelo lugar.

Luiz a conheceu em uma festa em Los Angeles. Longe demais de sua casa, longe demais da casa de Paola. Ela era mandona como se fosse filha do presidente norte-americano, era irritantemente controversa enquanto dizia que caras como ele jogavam garotas como ela fora, mas, mesmo assim, ainda conectava os próprios lábios com os dele, beijando como se aquele toque fosse tudo o que pudesse fazê-la permanecer viva. Ele só era o idiota que havia caído no conto do pescador que ela lhe contava pelos olhos da cor do mar. Péssimo para a fama dele, mas ainda pior para o seu coração facilmente enganado.

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